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Business Roundtable Portugal quer empresas a combater fuga de talento

A Business Roundtable Portugal (BRP) lançou um conjunto de medidas que visam reter o talento nas empresas e travar a fuga de quadros para o estrangeiro. Portugal continua a perder entre 15 mil a 20 mil jovens qualificados por ano. “As empresas têm um papel relevante para a alteração desta situação”, afirma Vasco de Mello, presidente da BRP, mas não só. “É absolutamente essencial adequar as políticas públicas às necessidades do país”, adianta.

Portugal tem atualmente uns 26% da população a residir fora do território nacional e continua a perder entre 15 mil a 20 jovens por ano para a emigração, o que a prazo coloca em causa a sustentabilidade das empresas e do país.

Para travar o fenómeno, a Associação Business Roundtable Portugal (BRP) apresentou um conjunto de medidas e soluções práticas, algumas das quais já testadas e implementadas com sucesso. E apela à ação das empresas. O documento “Mais e Melhores Oportunidades – O que estão as empresas a fazer para valorizar e atrair o talento?” compila o trabalho de 36 quadros especializados de 21 associadas e dos parceiros Deloitte e Mind Alliance, em grupos de trabalho focados em cinco áreas: Cultura OrganizacionalOrganizações ÁgeisLiderançaCarreiras Benefícios. 

Mafalda Brilhante é o exemplo daquilo que dá a conhecer. Ao longo dos 12 anos que leva no Pestana Group Hotel passou por vários lugares e funções até àquela que ocupa hoje: diretora de Recursos Humanos. A sua carreira em “zig zag” é prática corrente no maior grupo hoteleiro português e um dos exemplos que poderá vir a ser replicado noutras empresas para melhorarem a retenção dos colaboradores. 

Para incentivar as Carreiras, o grupo dinamiza programas internos de desenvolvimento e crescimento, a maioria das vagas são abertas internamente e na reunião de feedback anual, durante o processo de avaliação de desempenho, o colaborador pode informar a liderança sobre as suas motivações, tendo em conta as suas necessidades de desenvolvimento e situação profissional. “O envolvimento de todos é fundamental para que o processo funcione”, afirma Mafalda Brilhante. 

Cultura empresarial é outra vertente de atuação. Quanto mais vocacionada estiver para a meritocracia e for suportada por uma avaliação de desempenho transparente, mais eficaz será. O Banco Santander, por exemplo, abandonou o velho modelo baseado na avaliação qualitativa de oito comportamentos e adotou um novo modelo que privilegia a relação entre avaliado e manager num ambiente de feedback contínuo, foco nos resultados e desenvolvimento do colaborador, explicou Miguel Teixeira Santos, Chief of Staff to the CEO do Santander. 

O responsável do Santander revelou também que todas “as pessoas são avaliadas pelos mesmos comportamentos em todas as geografias” onde o banco opera, o que permite comparar resultados.

A Fidelidade foi o case study apresentado na vertente Organizações Ágeis. Tomás Samuel, Office for Business Agility da seguradora, destacou a importância da agilidade das organizações para atrair e reter talento. “Agilidade funciona como catalisador das organizações, em que as pessoas se sentem parte do propósito”, em que “vestem a camisola”. Na seguradora com 200 anos de história, a agilidade é palavra de ordem nos projetos, nos processos e nas equipas – “um salto em profundidade” num novo mundo que deixa para trás as típicas direções de Recurso Humanos. 

Liderança abarca não apenas a forma de exercer a liderança, mas também a forma de seleção dos líderes. Luís Wissmann, diretor de Pessoas e Gestão de Talento do Grupo José de Mello, situa-o o líder ideal no centro de três eixos: inspirador, capaz de antecipar o futuro e de entregar resultados de excelência. “O gap entre os resultados dos assessments e o perfil definido, permitiu desenhar um programa de desenvolvimento de liderança para os quadros dirigentes”, adiantou.

“Os temas associados ao propósito e aos valores são críticos”, afirmou Luís Wissmann, salientando que “as gerações mais jovens dão prioridade às organizações que as desenvolvem e que as valorizam perante o mercado de trabalho. 

 A quinta dimensão – Benefícios – para inspirar outras empresas a empreender um caminho mais favorável à atração e retenção de talento foi protagonizada por Paula Arriscado, diretora da Divisão Corporativa Pessoas, Marca e Comunicação do grupo Salvador Caetano.

Paula Arriscado disse que o Employee Value Proposition (EVP), sistema de agregação de benefícios colocados à disposição dos colaboradores vai muito além dos salários e retribuições materiais. Explicou que o grupo “revisitou os benefícios e trabalhou-os de forma integrada, juntando ao muito que já existia , novos benefícios e uma nova estratégia de comunicação”. E está agora a lançar o portal dos benefícios.

Cinquenta anos depois do 25 de Abril e da democratização do ensino, Portugal não está a captar todo o potencial saídos das escolas, das universidades e dos politécnicos para a população ativa, salienta Vasco de Mello. Segundo dados apresentados pela Associação Business Roundtable Portugal, “só na última década, 370 mil diplomados integraram a população empregada, mas o aumento potencial era superior a 530 mil, por isso desaproveitámos mais de 160 mil licenciados”.

“Numa altura em que o país dispõe das gerações mais qualificadas de sempre, torna-se evidente que não estamos a conseguir atrair e reter talento e a transformar o seu potencial em riqueza. A comparação do nosso mercado laboral e das nossas empresas mostra a necessidade de mudança”, afirma o presidente da Associação BRP. “As empresas têm um papel relevante para a alteração desta situação, mas é absolutamente essencial adequar as políticas públicas às necessidades do país. Sem pessoas felizes e realizadas não temos empresas de sucesso, nem conseguimos ter um país mais competitivo, justo e sustentável”.

Na apresentação do documento, Vasco de Mello foi perentório: “Se não agirmos como rapidez, na próxima década podemos ter menos 200 mil licenciados, um número perturbador. Estamos a comprometer a realização das pessoas, mas também a sustentabilidade das empresas”. rematou: “Temos de ser muito mais exigentes com o Estado para termos políticas públicas adequadas. Esta deve ser uma prioridade máxima independentemente de quem seja o Governo”.