A Comissão Liquidatária do BPP apresentou os dois últimos relatórios de atividade, de 2023 e do primeiro trimestre de 2024, no Tribunal do Comércio.
Nos relatórios a que o Jornal Económico teve acesso, vê-se que no fim de 2023 o Banco Privado Português (BPP) tinha uma situação líquida negativa de 1.041 milhões de euros, entre um ativo líquido de 225 milhões e um passivo de 1.266 milhões de euros. Este valor da situação líquida incorpora os prejuízos de 376 mil euros registados em 2023, fruto de perdas de 400 mil euros só no 4.º trimestre de 2023.
No primeiro trimestre deste ano, o banco melhora a conta de resultados e, por essa via, melhora a situação líquida negativa.
No fim de março, o BPP tinha uma situação líquida negativa de -1.036 milhões de euros, entre um ativo líquido de 230 milhões e um passivo que continua a ser de 1.266 milhões. No primeiro trimestre de 2024, o BPP registou um lucro de 5,237 milhões de euros, que já está incluído no valor da situação líquida.
A associação de lesados Privado Clientes voltou, em comunicado, a questionar o facto de a Comissão Liquidatária ter custos anuais persistentes sempre na ordem dos 4,5 milhões de euros anuais.
"O que leva a Privado Clientes a questionar-se sobre até que ponto a atuação da CL tem uma real mais-valia face ao potencial proveito dos processos pendentes?", refere a associação de lesados Privado Clientes.
Neste contexto, a Privado Clientes tem questionado a comissão liderada por Mendes Paulo sobre "o número de processos pendentes e a potencial mais-valia total destes, sem resposta".
"De facto, nos cerca de 14 anos de existência, a CL apresenta um custo superior a cerca de 63 milhões de euros, sendo que o trabalho atual da Comissão Liquidatária é supostamente gerir os processos que tem ainda em curso nos tribunais, a maior parte deles menores e que se poderiam resolver por via negocial, se esta quisesse", acrescenta a Privado Holding.
"Recordemos que a função da Comissão Liquidatária é transformar os ativos em dinheiro para distribuir e pagar aos credores o mais rapidamente possível, de uma forma lógica. À medida que o tempo passa, é mais dinheiro que é gasto em custos de funcionamento, ficando menos para indemnizar os credores. E já passaram 14 anos...", sublinha Jaime Antunes, presidente da Privado Clientes.
Outra questão levantada "é o facto de os relatórios continuarem a ser entregues com muito atraso - nove meses face à data do relatório mais recente entregue, isto não obstante a CL ter mantido a estrutura de 26 colaboradores (menos um que no final do ano passado) e a mesma representar uma massa salarial anual de 2,5 milhões de euros", refere a associação de lesados Privado Clientes.
"Os relatórios continuam, igualmente, a ser entregues sem o visto da Comissão de Credores, não obstante os vários avisos do Tribunal para que esta situação fosse regularizada", destaca a associação liderada por Jaime Antunes.
"Pelo que os relatórios entregues indicam, a última reunião presencial terá sido em 2023", acrescenta.
No início de 2024, a autorização para a venda dos edifícios e das duas coleções de arte chegou por "correio eletrónico", aponta a Comissão Liquidatária em comunicado, tendo sido, tanto quanto se sabe, o último contacto da Comissão de Credores, refere a Privado Clientes.
A associação alerta ainda que "poderá existir um conflito de interesses entre o Estado e a Comissão de Credores, na venda das duas coleções do BPP ao Estado, dado que a Comissão de Credores é encabeçada pela Direção-Geral do Tesouro; isto é, o Estado dá parecer ao Estado".