Não é segredo que Fernando Pessoa se dedicou à redação de anúncios publicitários durante os últimos dez anos da sua vida. Tal como não é segredo que o slogan criado em 1927 para a Coca-Cola “Primeiro estranha-se, depois entranha-se” é da sua lavra. O dito foi censurado e a bebida também. Só entraria no mercado português três anos depois do 25 de Abril. Mas isso é outra história. O que nos interessa aqui é o roteiro artístico plasmado no livro “Sobre a paisagem – Arte nas barragens portuguesas”.
Pessoa foi chamado à colação, mais concretamente o dito slogan, porque, no geral, as intervenções dos artistas convidados pela EDP para intervir nas barragens escolhidas para o efeito, primeiro causaram estranheza para, depois, passarem a fazer parte da paisagem e quotidiano das populações locais.
Se arquitetura e engenharia eram marcas óbvias e indeléveis destas infraestruturas, a partir de 2006, as artes passaram também a ser parte integrante das centrais hidroelétricas da EDP, com a criação de um Roteiro de Arte nas Barragens. A intervenção de Alexandre Farto (Vhils), na barragem da Caniçada, assume a forma de um mural em grande escala e pretende homenagear a capacidade empreendedora e construtiva do ser humano. Pedro Cabrita Reis assina “A Cor das Flores” na barragem da Bemposta: uma tela gigante, com cerca de 13.000 metros quadrados, de uma só cor. Graça Morais é a artista presente na barragem de Frades, Rui Chafes e Eduardo Souto Moura em Foz Tua, Pedro Calapez em Picote e João Louro em Alqueva. No Alto Lindoso, José Rodrigues idealizou uma escultura em pedra granítica da região, enquanto José Pedro Croft e Álvaro Siza Vieira deixaram o seu cunho pessoal na barragem do Baixo Sabor.
O livro “Sobre a paisagem – Arte nas barragens portuguesas” assinala o fim de um ciclo, uma espécie de Capítulo I, a que se seguirão novas edições no futuro. O Roteiro de Arte em Barragens agora editado tem curadoria de Nuno Crespo, produção gráfica e de design de Pedro Falcão, fotografia de André Cepeda, textos de Isabel Lucas e colaborações de Aurora Carapinha, Francesco Careri, Nuno Crespo e Luísa Salvador.
Uma boa desculpa para fazer um périplo pelo país e conhecer as obras em causa. De uma vez só ou em várias incursões. A escolha é sua.