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Banqueiros escolhem as praias do Algarve. Será que conseguem desligar?

Os homens fortes da banca portuguesa deixaram em Lisboa o Excel, o CET1, o Cost-to-Income e o MREL e entram no ritmo de vida da leitura, do desporto, dos passeios de barco, das praias e dos restaurantes.

No fim de julho os principais bancos acotovelaram-se para convocar conferências de imprensa para a apresentação dos resultados semestrais. Cumpriu-se o calendário. Cumpriu-se a missão.

“Aquele Querido Mês de Agosto” chegou e com ele os CEO dos bancos rumaram, na sua maioria, ao Algarve para o “descanso do guerreiro”. 

O Jornal Económico foi ouvir os banqueiros. Miguel Maya, presidente do Millennium BCP, atrasou as férias. “Parto para férias na segunda semana de agosto, este ano um pouco mais tarde do que gostaria por não me ter sido possível concluir atempadamente o que tinha previsto fazer antes de iniciar as férias”. O que pode parecer menos bom, tem uma leitura positiva. “Como sou otimista por natureza, até vejo vantagens em, este ano, partir mais tarde”

Miguel Maya desvendou ao Jornal Económico o destino de férias. “Parto na companhia da família rumo ao Sul de Portugal, rumo ao Algarve, que é o meu território de eleição para dissipar a tensão que se vai acumulando ao longo de muitos meses de forte intensidade profissional”, diz.

“Já não tenho, se é que alguma vez tive, a pretensão de neste período de férias desligar dos temas profissionais. Não tenho. Não seria capaz de me ausentar do que escolhi como projeto de vida profissional, daquilo de que gosto mesmo muito de fazer, nem concebo ser possível deixar de acompanhar diariamente o que se está a passar com o meu ofício. Mas a forma como faço esse acompanhamento é substancialmente diferente”, confessa o CEO do BCP.

Disciplinado por feitio, confessa Miguel Maya ao JE. “Tenho muita necessidade de me organizar em torno de programas, planos e horários. Jamais me escondendo, incluo-me no grupo dos que se identificam com a notável letra da canção ‘Deixa-me Rir’, do Jorge Palma – Domingo sabe de cor, o que vai dizer [não vou tão longe, altero para ‘fazer’] segunda-feira’. É essa é a forma que encontrei para viver intensamente as 24 horas do dia”.

Já para João Pedro Oliveira e Costa, CEO do BPI, “férias é família e amigos, por isso vou para onde eles estão”. O banqueiro revela que este ano vai “iniciar as férias a bordo do meu barco, dirigindo-me de Cascais para o Algarve, mais precisamente para a Ria Formosa, desfrutando das praias e enseadas entre a Ilha Deserta, Farol, Culatra e Armona”. Mas não se fica por aqui. “Também pretendo subir um pouco o Rio Guadiana, entrando por Vila Real de Santo António. Vai ser uma semana de férias mais relaxante e com mais natureza”, explica ao Jornal Económico.

Segue-se a Praia da Luz, ao pé de Lagos,“o local onde já passo férias consecutivamente há mais de 40 anos”, diz.
“Tenho um grupo grande de amigos de longa data e é para aí que vamos todos os anos e agora todos já com netos”, revela o CEO do BPI.

“Mantemos a tradição de alugarmos os mesmos toldos e frequentarmos os mesmos locais. É uma vida pacata e saudável, sem a chamada noite em bares ou discotecas, mas com muitos jantares e encontros em casas de amigos. A minha casa é um dos principais pontos de encontro”, conta ainda João Pedro Oliveira e Costa.

Nem Paulo Macedo, CEO da CGD, nem Pedro Castro e Almeida, CEO do Santander Portugal, quiseram partilhar o que vão fazer nas férias. Embora no caso do CEO do Santander, a escolha habitual seja a Comporta, onde tem casa. Já Paulo Macedo vai rumar a Benavente (Santarém) e ao Algarve.

Pedro Leitão, CEO do Banco Montepio, também escolheu o Algarve. Com um propósito simples: “abrandar”, conta. “Depois de um ano exigente, estes dias de pausa trouxeram aquilo que mais valorizo nesta altura: tempo. Tempo para abrandar, para recarregar energias com sol e mar, e, sobretudo, para estar com a família. Sem pressas, sem agendas, apenas estar e partilhar”, acrescenta.

Pedro Leitão explica que “mais do que uma pausa, as férias são uma oportunidade para recentrar nos afetos, nas ideias e naquilo que verdadeiramente importa”. O CEO do Banco Montepio promete um “regresso em breve, com energia renovada e o entusiasmo de sempre”.

Já Gonçalo Regalado, CEO do Banco Português de Fomento (BPF), contou ao Jornal Económico que vai de férias com a família para o Alentejo (Alandroal), Algarve (Almancil) e Andaluzia. “Este é o tempo de descanso com muito convívio, pelo que dedicamos tempo de qualidade aos amigos e à família”, diz.

Para o presidente do BPF “ir de férias é uma óptima altura para descansar, recuperar energias, viajar e dedicar tempo à família e aos amigos”.

Vítor Bento, presidente da Associação Portuguesa de Bancos (APB) começou por frisar que não é “banqueiro”. Feito o disclaimer, o presidente da APB admitiu que nas suas férias “será tudo muito trivial” e que “no tempo que os netos me deixarem livre, tenciono descansar a mente, cansando o corpo com jardinagem, horticultura, bricolage e idas à praia”.

O que vão fazer nas férias...

Uma vez conhecidos os sítios de férias dos banqueiros. olhemos agora para o que vão fazer. Miguel Maya diz que “no período de férias quebro rotinas, desconstruo hábitos, desprezo o relógio, ajustando o ritmo ao sabor das vontades.

Nada combino e a nada me obrigo. Tudo o que faço vai surgindo ao longo das horas e dos dias. Durante as férias, só a Teresa e os meus filhos têm a capacidade de me obrigar a programar algo – ela dirá que não é bem assim; eu digo que não tem razão, mas sabendo que a razão lhe assiste…”.

O CEO do BCP explica ainda que “ao longo dos dias, dou invariavelmente por mim a procurar o mar, para nadar ou navegar de wind ou wing foil, aproveitando a nortada matinal e antes da praia se tingir de banhistas e chapéus de sol. Não havendo vento, não resisto à vontade de correr 10 km pela praia e passadiços, o que faço com alguma dificuldade, mas ainda com muito gosto, bem cedo, para evitar que o calor comprometa essa vontade”.

Sobre restaurantes defende que a regra é: “refeições sempre leves, variadas, sem horas fixas, exceto quando, não por rotina, mas por gosto, marco almoço ou jantar no Restaurante da Praia dos Salgados, onde para além da qualidade da refeição, nos sentimos bem por invariavelmente sermos atendidos por pessoas simpáticas, atentas e bem-dispostas”.

“O resto do tempo é utilizado para pôr conversas em dia, fruir da companhia da família e dos amigos, e para fazer um balanço pessoal sobre o que correu bem e mal ao longo do ano. Nessa introspeção, procuro centrar-me na identificação dos aspetos em que tenho de melhorar como pessoa e como profissional”, confessa o CEO do BCP. Mas não só. Aproveita também esse momento para “afinar o rumo do trajeto que pretendo prosseguir no futuro próximo”.

“No fim das férias regresso invariavelmente rejuvenescido, cheio de vontade de viver intensamente, com enorme entusiasmo para me interessar por tudo o que a vida nos traz de novo a cada dia”, revela.

Nas férias, João Pedro Oliveira e Costa, CEO do BPI, diz que normalmente circula numa área mais abrangente, entre a Praia da Luz propriamente dita e a Costa Vicentina, perto de Sagres. “É uma zona mais ventosa, com água mais fria e mar batido, mas, ao mesmo tempo, com menos gente, preços mais acessíveis e natureza com as várias coisas que gosto de fazer: caça-submarina e surf, e comer petiscos”. Sem esquecer o cão. “Nestas praias com pouca gente, o meu Labrador pode desfrutar livremente do mar e correr na areia”, refere.

O que não faz, diz, é “falar de trabalho, economia ou geopolítica. Esse mundo fica em Lisboa. É tempo de limpar a cabeça”, confessa.

O CEO do BPI elege como praias a “não falhar este ano” a Praia da Luz, Figueira e Praia do Zavial (isto a sul).
Na Costa Oeste o banqueiro não quer perder as praias Castelejo, Cordoama, Murração e Amado.

Na lista dos spots incontornáveis, o CEO do BPI escolhe os restaurantes: “Sítio do Forno” na Praia do Amado; o “Armazém”, em Sagres; o “Endless Summer”, na Praia da Luz; o “Páteo Velho” em Lagos e o “Àbabuja” no Alvor.

Por outro lado, o alinhamento das manhãs do CEO do Banco Montepio inclui “ioga e uma corrida ligeira junto à praia. Ao ritmo do corpo e com energia solar”.

O resto do dia é passado entre “mergulhos, leituras e longas conversas com os que me são mais próximos”.

Já para o presidente do Banco de Fomento, Gonçalo Regalado, há três atividades de eleição nas suas férias. “Corrida todos os dias, futebol com os filhos e ténis com os amigos”.

 

O que vão os banqueiros ler nas férias?

No período de “descanso do guerreiro” os banqueiros escolheram para ler histórias militares e de guerras. Mas também há livros de gestão e de IA na lista. 

Miguel Maya, CEO do BCP:

“A leitura é um prazer a que dedico mais tempo nas férias. Para este Verão tenho algumas escolhas: “Filomeno”, de Gonzalo Torrente Ballester, de 1988, que situa o enredo no amadurecimento de um fidalgo galego num período que abarca duas guerras mundiais e a guerra civil espanhola; “A Leopard Skin Hat”, de Anne Serre, romance em que a intensidade da amizade nos faz questionar algumas prioridades, e; “Autocracia”, de Anne Applebaum, de 2024, sobre ditadores que querem governar o mundo”.

João Pedro Oliveira e Costa, CEO do BPI:

“Ando a ler livros históricos. Nomeadamente livros sobre a vida diária dos soldados Romanos (Gladius – Viver, lutar e
morrer no Exército Romano); “D. Sebastião – o regresso do Enigma” sobre o que aconteceu a D. Sebastião; e “As
causas do atraso Português”, de Nuno Palma, sobre o que falha em Portugal. Vamos ver se consigo ler os três, pois os meus dias são muito preenchidos e sempre de um lado para o outro. Dizem que em férias ainda sou mais hiperativo”.

Gonçalo Regalado, CEO do BPF:

“Na lista de livros que tenciono ler estão o “João II, o Homem e o Monarca”, de Mário Domingues; o “Boards of Directors
in Disruptive Times”, de Jordi Canals; o “Big Little Breakthroughs”, de Josh Linkner; e o “How to make things happen” de Beatriz Munoz-Seca”.

Vítor Bento, Presidente da APB:

“Tentarei encurtar uma enormidade do que não sei lendo alguns dos 745 livros que o Kindle me diz que ainda não li, de entre o enorme rol que o crescente diferencial entre a minha ambição de aprender e a minha capacidade de o fazer me faz compulsivamente comprar (aqui para nós, acho que o Kindle está provocadoramente a inflacionar a estatística só para me
humilhar). Se me sobrar tempo, ainda começarei a preparar o novo ano letivo e, talvez, a preparar a escrita de um livro sobre o tema que ensinei nos últimos anos. Depois disso tudo, talvez me volte a dúvida do costume: onde ficaram as férias?”

Pedro Leitão, CEO do Banco Montepio: 

“Férias a um ritmo lento. Entre momentos em família deixo-me absorver por leituras que inspiram e desafiam: “Pontas Soltas I – Inteligência Artificial, o Outro, Revoluções”, de José Gil, uma reflexão filosófica sobre o nosso tempo e os seus abalos; “Making Money Work”, de Matt Sekerke e Steve H. Hanke, uma proposta para repensar o sistema financeiro global; “Peak Human”, de Johan Norberg, que resgata os ensinamentos das grandes civilizações da história; e Hyper Efficient, de Mithu Storoni, um olhar neurocientífico sobre como otimizar o desempenho mental sem perder o equilíbrio".