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Bancos credores da Efacec dispostos a manterem o relacionamento comercial após venda à Mutares

O Jornal Económico apurou que as discussões com os bancos estão a avançar de forma muito positiva, e que há uma predisposição à partida para apoiar o negócio daqui para frente, nomeadamente com operações de trade finance e de emissões de dívida da empresa.

A banca está recetiva a aceitar o haircut da dívida da Efacec não garantida pelo Estado, que é proposto pela Mutares, segundo fontes conhecedoras do negócio. A dívida garantida pelo Estado, segundo o Governo é de 85 milhões de euros

A dívida bancária ronda os 126 milhões de euros (que é a soma dos 11 milhões de euros do primeiro empréstimo à Efacec que ainda falta pagar; do segundo empréstimo de 45 milhões que está coberto por uma garantia de 90%; e de 70 milhões de euros, que tem 80% de garantia estatal).

A dívida garantida pela Norgarante (Estado), não sofre qualquer haircut.

O Jornal Económico apurou que as discussões com os bancos estão a avançar de forma muito positiva, e que há uma predisposição à partida para apoiar o negócio daqui para frente, nomeadamente com operações de trade finance e de emissões de dívida da empresa.

Mas se os bancos estão dispostos a aceitar o haircut proposto pela Mutares, o mesmo não se pode dizer dos obrigacionistas detentores da emissão de 58 milhões de euros que foi emitida em 2019 e vence em 2024. Neste momento, são os obrigacionistas a representar o maior obstáculo à compra da Efacec pela Mutares.

O acordo com a banca fica condicionado ao resultado da Assembleia de Obrigacionistas, tal como já avançou o Jornal Económico.

O haircut de 50% da emissão de obrigações vai ser discutido na Assembleia de obrigacionistas de 7 de Agosto. A proposta de haircut vai ser levada à assembleia pela Parpública, que tem 71,73% da Efacec Power Solution.

Mas fontes próximas do processo admitem que a reunião poderá ser inconclusiva se não houver uma tendência de voto definida. Nesse caso haveria um adiamento da votação.

A maior parte dos detentores dos títulos de dívida da Efacec são fundos espanhóis e há uma grande démarche por parte da Mutares em Espanha para convencer os fundos a aceitarem o haircut de 50% em nome da continuidade da empresa. Qualquer solução abaixo disso poderia ter como consequência direta a liquidação da empresa. Num cenário de liquidação/insolvência, os obrigacionistas receberiam 0% sobre seu investimento, refere fonte próxima do negócio.

Projeto Fénix: Investimento de 15 milhões

Os obrigacionistas associados da Maxyield avançaram com um número relativo ao investimento da Mutares SE & Co. KGaA. O valor consta de uma apresentação onde o investimento do fundo alemão em Portugal tem a designação de Projeto Fénix. Segundo a Maxyield – Clube dos Pequenos Acionistas, a Mutares "propõe-se a investir 15 milhões de euros na Efacec o que é manifestamente insuficiente para viabilizar a empresa".

No entanto este número divulgado numa apresentação aos obrigacionistas deverá referir-se ao montante que a empresa alemã se propõe investir em Portugal. Mas, uma vez que os alemães deixaram em stand-by a aquisição da Jayme da Costa, deduz-se que o montante se refira à Efacec. Tal como avançou o Jornal de Negócios, a Mutares colocou em “stand by” as negociações com os donos da empresa Jayme da Costa com sede em Gaia e que é detida em partes iguais pela Visabeira e pelo fundo da capital de risco Core Capital. O Negócios dizia que a Visabeira, depois de ter caducado o período de exclusividade da Mutares nesta negociação, decidiu apresentar à Core Capital uma oferta pelos seus 50% na Jayme da Costa.

Recorde-se que o Ministro da Economia e do Mar, António Costa Silva, disse publicamente que a Mutares vai fazer uma injeção de capital e garantias na Efacec. “Selecionámos a Mutares também porque é uma proposta que traz um apport financeiro à Efacec sem exigir nenhumas garantias sobre os ativos, ao contrário de outras propostas”, revelou na altura o ministro, explicando que a proposta do fundo alemão foi escolhida por causa do projeto industrial e tecnológico.

A associação Maxyield disse ainda que "o número de trabalhadores já diminuiu em mais de 600 e deverá sofrer mais cortes pós-privatização nas mãos do fundo Mutares”. Isto contraria a informação avançada pelo Ministro da Economia que, na conferência de imprensa de anúncio do vencedor da corrida à Efacec, disse que “a proposta dos alemães da Mutares SE & Co. KGaA assegura a preservação da força de trabalho”.

“A proposta da Mutares minimiza os encargos para o Estado através de um mecanismo inovador que permite a recuperação de parte do investimento que foi feito na empresa”, revelou também altura o ministro.

As negociações entre os alemães da Mutares e os credores financeiros da Efacec estão a ser lideradas pela Parpública.

Os cinco bancos que têm as dívidas da empresa são a CGD, o Novobanco, o EuroBic, o Montepio e o BCP. 

A Maxyield veio depois dizer que "face à falta de credibilidade da proposta da Mutares, aconselhamos os senhores obrigacionistas a recusarem tal proposta na Assembleia de Obrigacionistas, convocada para o dia 7 de agosto".

A associação defende que “a proposta da Mutares prejudica os investidores privados que apoiaram a Efacec e que investiram na empresa com plena confiança na sua valia empresarial e no bom funcionamento do mercado de capitais português”.

Sobre a proposta de haircut de 50%, a Maxyield diz ainda que “um incumprimento desta natureza por uma empresa detida pelo Estado põe em causa não apenas a Efacec mas a confiança dos investidores no próprio Estado".

"A solução preconizada pelo Estado, vai inevitavelmente originar danos irreparáveis ao mercado de capitais português, quando a mesma deveria necessariamente evidenciar a preocupação em dinamizar e robustecer o mercado, o que não acontece com a solução escolhida", acrescentou a associação.