Na nota a DBRS destaca que os lucros dos maiores bancos portugueses - Caixa Geral de Depósitos (CGD), Millennium BCP, Novobanco, Banco Montepio, BPI e Santander Totta - no primeiro semestre aumentaram cerca de 50% em termos homólogos, para 1.946 milhões de euros, sustentados pelo crescimento da margem financeira.
"As taxas de crédito já estabilizaram e as dos recursos (depósitos) ainda estão a aumentar, pelo que a margem financeira comprime face ao primeiro semestre (como era expectável)", refere ao JE um dos bancos analisados pela DBRS quando questionado sobre se a subida da margem financeira já tinha atingido o seu pico.
Outra fonte da banca diz que a altura em que esse pico é atingido depende de banco para banco, mas que "no BCP e na CGD esse pico já terá sido atingido". No entanto, "em média o pico deverá ser entre junho e setembro", segundo fonte de um dos bancos analisados.
O Jornal Económico sabe que, por exemplo, no Santander Totta, o pico da subida da margem financeira só deverá ser atingido em setembro.
A dinâmica positiva da margem financeira suportou os fortes resultados dos bancos portugueses no primeiro semestre. A DBRS emitiu um comentário que analisa os resultados do primeiro semestre de 2023 dos seis grandes bancos portugueses e apresenta uma perspetiva sobre os fatores esperados a médio prazo.
Analisando as contas dos seis maiores bancos que já revelaram as suas contas do primeiro semestre, a DBRS lembra que os lucros totais aumentaram cerca de 50% em relação ao período homólogo do ano anterior, sustentados por um forte aumento da margem financeira líquida (NII), compensando um aumento das provisões, menores receitas de comissões e maiores custos operacionais.
"Os resultados beneficiaram de um forte aumento das margens financeiras em resultado da subida das taxas de juro", segundo Nicola De Caro, Vice-Presidente Sénior da equipa de Instituições Financeiras Globais da DBRS Morningstar. "O crescimento da receita da margem financeira pode ter atingido o seu máximo nalguns bancos ou está próximo do seu máximo noutros, devido a uma possível estabilização das taxas de juro, a um abrandamento dos volumes de novos empréstimos e a aumento da remuneração dos depósitos nos próximos trimestres", acrescenta o responsável da DBRS numa nota que não constitui uma ação de 'rating'.
Há nove meses consecutivos que a taxa de juro média dos novos contratos de crédito à habitação está a aumentar. No espaço de um ano, entre junho de 2023 e junho de 2022, a taxa de juro dos novos empréstimos à habitação quase triplicou, passando de 1,47% para 4,25%. Mas a taxa de juro paga nos depósitos tem vindo a subir lentamente e, apesar de os bancos publicitarem produtos com melhores remunerações, a banca portuguesa é a quarta pior a remunerar a poupança na zona euro.
A DBRS deixa alertas. "No futuro, esperamos que os resultados dos bancos portugueses permaneçam sólidos, mas poderá surgir alguma pressão", refere a agência de rating.
A qualidade dos ativos manteve-se, em grande medida, resiliente por enquanto, com os NPL (créditos improdutivos) a manterem-se estáveis ou mesmo a diminuírem em alguns bancos, "mas continuamos a esperar alguma deterioração da qualidade dos ativos a médio prazo", refere a DBRS.
A economia portuguesa continua a ser sólida, lembra a agência de rating canadiana que alerta para a persistência de taxas de juro elevadas e para a inflação alta que poderão afetar a confiança dos consumidores e os investimentos e, em última análise, afetar o acesso ao crédito, contribuindo para uma maior formação de NPL (crédito malparado) a médio prazo.
A agência dá ainda nota de que "ao longo dos últimos meses tem havido um debate em Portugal sobre a possibilidade de introduzir um imposto" sobre os lucros extraordinários da banca, mas "foi descartado por enquanto".
“Para já, esta possibilidade foi excluída, no entanto, os recentes desenvolvimentos em Itália, onde o Governo, a 7 de agosto, anunciou inesperadamente um novo imposto sobre os lucros extraordinários dos bancos italianos, que consiste numa taxa sobre o aumento da receita de margem financeira, podem reacender o debate político em Portugal”, defende a DBRS.