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Ataques contra Israel lançam o caos no petróleo e gás

Palestina, Israel, Arábia Saudita, Irão e Estados Unidos. Os ataques do Hamas ameaçam lançar o caos na região e no mundo da energia. Qual foi o papel do Irão? E como vai Telavive reagir se Teerão estiver envolvido? Rota marítima, por onde passa 20% do petróleo mundial, em risco de ser fechada.

Os ataques lançados pelo grupo terrorista palestiniano Hamas contra Israel lançaram o caos sobre o mundo da energia, incluindo o petróleo e o gás natural. O cenário tem tudo para ser explosivo, envolvendo várias potências regionais e globais, incluindo Israel, o Irão, a Arábia Saudita e os Estados Unidos da América.

Na tarde de segunda-feira, o preço dos contratos de gás para novembro disparou mais de 16%, acima dos 44,3 euros/MWh, no índice neerlandês TTF, a referência para a Europa. Já o preço do barril de crude Brent estava a subir mais de 3,6% para mais de 87 dólares, tendo atingido antes 89 dólares durante a negociação.

O disparo no preço do gás aconteceu depois de Israel ter decidido suspender a produção de gás natural no campo de Tamar, localizado 25 km ao largo da costa sul do país. A plataforma consegue ser vista da parte norte da Faixa de Gaza num dia claro, estando ao alcance de um eventual disparo de rocket.

Em relação ao petróleo, o cenário ameaça tornar-se mais explosivo. Os analistas esperavam (ler infra)  que a Arábia Saudita iria reduzir ou eliminar os seus cortes após o acordo que estava a ser negociado com Israel, e que o Irão iria continuar a aumentar a sua produção, à boleia da melhoria das relações com o ocidente.

A boa vontade saudita deverá esfumar-se aparentemente depois dos ataques e da retaliação. No caso do Irão, resta saber qual será a resposta de Israel, pois Teerão financia tanto os autores do ataque contra Israel - o grupo terrorista Hamas, que também governa a Faixa de Gaza - como os terroristas libaneses do Hezbollah que atacaram o norte de Israel após o ataque do Hamas. Ao mesmo tempo, resta saber se os EUA vão aumentar as sanções contra o Irão, impedindo a chegada de mais petróleo ao mercado.

Qualquer retaliação contra Teerão pode colocar em causa a circulação de petroleiros no estreito de Ormuz, uma via marítima fundamental entre o Irão e a Península Arábica, por onde passa diariamente 20% do petróleo consumido no mundo. O governo do Irão veio negar o envolvimento no ataque. O estreito tem 167 km de comprimento, com a largura a variar entre os 96 km e os 39 km.

"Neste momento, a reação do preço [do petróleo] é compreensível e proporcional. As pessoas vão fazer comparações com a guerra do Yom Kippur, mas este é um cenário extremo. É muito plausível que não haja interrupções de abastecimento", disse Marcus Garvey, analista do Macquarie Group, à "Bloomberg".

O Citigroup considera que as hostilidade reduzem as expectativas de que a Arábia Saudita vai cortar ou eliminar o seu corte em vigor de 1 milhão de barris diários. O banco considera que aumenta as hipóteses de que Israel vai atacar o Irão.

Por sua vez, o Morgan Stanley disse esperar que o impacto do conflito será limitado, não esperando um efeito de contágio da tensão para outros países, segundo a "Bloomberg".

Já a Société Général prevê que o aumento da tensão geopolítica vai acrescentar um prémio de risco entre os 5/10 dólares ao preço do crude.

O RBC Capital Markets, por seu turno, acredita que Israel vai escalar a sua guerra sombra latente contra o Irão. A dúvida agora é saber qual será a resposta de Teerão.

No caso do petróleo, o Goldman Sachs (GS) afasta impactos na produção mundial de petróleo depois dos ataques do Hamas contra Israel.

“Notamos que não houve impacto na produção atual de petróleo, e vemos como improvável qualquer efeito imediato e grande no curto prazo no balanço procura-oferta e nos inventários de curto prazo, sendo estes os principais condutores do preço do petróleo”, segundo uma nota divulgada pelo GS na segunda-feira. Os analistas do banco norte-americano mantêm a sua previsão de preços do Brent entre os 85 dólares por barril, registados na sexta-feira, e os 100 dólares em junho de 2024.

Na sua nota, o GS identifica duas potenciais implicações dos ataques de sábado do Hamas contra Israel.

Primeiro, o GS destaca que a Arábia Saudita estava em vias de reconhecer Israel, em troca de um acordo de defesa com os EUA, mas o “escalar do conflito em Gaza reduz a probabilidade de uma normalização no curto-prazo entre as relações sauditas-israelitas”. O banco norte-americano aponta que esta normalização deveria provocar um aumento na produção de petróleo em 1 milhão de barris diários para os 10 milhões em janeiro de 2024, pressionando o preço do Brent em 8 dólares para os 92 dólares. Mas este cenário “parece agora menos provável”, com os analistas a preverem que a produção saudita permaneça estável nos 9 milhões de barris diários até ao primeiro trimestre de 2024.

Ao mesmo tempo, o GS sublinha que o Irão tinha aumentado a produção de crude em 2022, o que se devia ao descalar de tensões regionais (incluindo a libertação de prisioneiros dos EUA e do Irão), mas, com a “possibilidade do aumento das tensões regionais”, o GS acredita que isto vai impactar a sua previsão para a produção iraniana. “Continuamos a assumir que a produção de crude iraniana vai abrandar significativamente”, destaca, apontando a meta de 3,25 milhões de barris diários.

O ataque terrorista do Hamas provocou a morte de mais de 700 pessoas em Israel, cuja retaliação já provocou a morte de 560 pessoas em Gaza.