A multinacional Asseco que está presente em Portugal com uma filial liderada por Daniel Araújo, veio a Lisboa para uma conferência intitulada "Leading through change: banking innovation for challenging times" que reuniu o CEO global do grupo, Adam Goral; Rafal Kozolowsi, Vice President of the Management Board da Asseco Poland; Artur Wiza, Vice President of the Management Board da Asseco Poland; Piotr Jeleński, President of the Management Board da Asseco South Eastern Europe, entre muitos outros.
À margem da conferência, e em declarações ao Jornal Económico, o CEO da Asseco PST, Daniel Araújo, explicou que "em Portugal sempre estivemos muito focadas no setor financeiro. É algo que continuamos a fazer e continuaremos a fazer" e sublinha que "acabamos por ser aqui também um braço do mundo lusófono".
O grupo Asseco comprou a empresa portuguesa de pagamentos Ifthenpay, através da Payten, um grupo polaco especializado em soluções de pagamento. Esta aquisição foi anunciada em outubro de 2023.
Questionado se em Portugal, concretamente, a Asseco tem em vista alguma aquisição? Daniel Araújo disse que "nós estamos sempre ativamente a conversar com várias empresas. Nos últimos anos, fizemos duas aquisições, uma em Portugal, e outra em Angola (que também tinha escritórios cá). Mas estamos sempre ativamente a conversar. Esperamos que, sim, que se as coisas correrem bem, poderemos concretizar aí alguma operação".
Daniel Araújo não deu muitos detalhes, mas disse que "acreditamos, provavelmente, que se calhar em 2026 poderemos fazer outra aquisição em Portugal". O CEO recusou avançar com detalhes pois "estes negócios, até estarem fechados e assinados, não existem". Mas adiantou que é uma empresa portuguesa da cadeia de valor da Asseco PST. "Nós estamos sempre a olhar para empresas que, de alguma maneira, complementem o trabalho, o software e as soluções que fazemos, nestes mercados ou noutros", sublinhou.
"Estamos sempre a conversar com várias empresas com vista a aquisições", disse acrescentando que "o Grupo Asseco está sempre ativamente a comprar empresas. Aliás, a Ifthenpay, que é uma empresa portuguesa, foi adquirida também pelo grupo, recentemente".
Nesta conferência, e de acordo com Daniel Araújo, "vamos apresentar muitos produtos, incluindo produtos novos que vão agora sair no mercado. Especificamente para o mercado português vamos falar de um produto, de uma solução de cartões, que na verdade não é nova, mas é uma solução na qual temos investido. É um software que permite toda a gestão de cartões, de débitos, créditos, cartões pré-pagos, e que depois, para o cliente final, permite aquelas coisas que as pessoas adoram, que é conseguir bloquear e desbloquear o cartão na hora a partir da app", como por exemplo já faz a Revolut.
Nem todas as instituições financeiras têm as suas aplicações orientadas para esse tipo de soluções, explicou.
"Este software permitirá aos clientes bloquearem, ou então escolherem países em que o cartão vai funcionar, escolher períodos de tempo em que funciona, e depois tem muita flexibilidade à volta do tipo de produtos que são configurados, aquilo que no Brasil fazem muito, mas que em Portugal nem tanto, que é, no momento de pagamento, ter a opção de parcelar em várias prestações, tanto crédito na hora, tanto no POS como também na internet banking. Aqui apenas para cartões de crédito ou pré-pagos", disse acrescentando que é uma ferramenta informática que "dá muita flexibilidade aos bancos de poder apresentar produtos diferenciadores".
Daniel Araújo explica que a nova solução que será apresentada permite também fazer coisas "como alterar o limite do cartão, com base no comportamento das compras, por exemplo de viagens; permite a partir de qualquer momento, ou aumentar, ou diminuir o plafond de crédito".
"Em Portugal trabalhamos com muitas instituições financeiras. Na verdade, temos clientes, dependendo do produto. Temos clientes que vão desde bancos, ou instituições típicas de crédito, por exemplo, um cliente grande da solução que eu acabei de falar é a Cetelem, mas também trabalhamos com o Banco BiG", disse Daniel Araújo.
"Dentro de outras áreas trabalhamos com o Millennium BCP e com o BPI, por exemplo a MTrader [plataforma de mercado de capitais do BCP] foi desenvolvida por uma empresa do grupo Asseco, tal como o BPI Broker. Adquirimos uma empresa portuguesa, há uns anos, que se chama Finantech e esta empresa tem uma grande presença à volta de tudo que são soluções para mercados financeiros", explicou.
A Asseco PST em Portugal desenvolve e comercializa software para o setor bancário, atuando como uma das líderes de mercado nos países de língua portuguesa. As suas soluções tecnológicas são usadas por mais de 60 bancos e cobrem áreas como core banking, soluções digitais, gestão de risco e serviços para mercados financeiros. A empresa foca-se em ajudar os bancos a modernizar os seus sistemas e a enfrentar os desafios da transformação digital.
"Em Portugal trabalhamos com muitas instituições financeiras. Na verdade, temos clientes, dependendo do produto. Temos clientes que vão desde bancos, ou instituições típicas de crédito, por exemplo, um cliente grande da solução que eu acabei de falar é a Cetelem, mas também trabalhamos com o Banco Big", disse Daniel Araújo. A Asseco desenvolve não apenas a App mas também a solução de backoffice da plataforma.
"No fundo, o que fazemos é que entregamos o software que permite fazer tudo, a gestão de contas, clientes, cartões, crédito, internet banking, mobile banking. Tudo, quem quiser abrir um banco, vem falar connosco e nós temos o One Stop Shop para vender a bancos. Trabalhamos muito com bancos aqui em Portugal. Mas também temos a oportunidade de trabalhar com muitos bancos dos países lusófonos. Há imensos clientes em Angola, em Moçambique, em Cabo Verde. Portanto, nós estamos em aproximadamente 80 bancos espalhados por sete países", refere Daniel Araújo.
A Asseco PST (Portuguese Speaking Territories) é uma empresa de tecnologias de informação, especializada no desenvolvimento de software bancário e um referencial na criação de soluções tecnológicas diferenciadoras e de conhecimento em todos os mercados onde atua, pertence à Asseco Poland que é uma empresa multinacional de software, com clientes principalmente nos setores bancário e financeiro. Foi fundada em 1991, e sua sede fica em Rzeszów, na Polónia. A Asseco é uma das maiores empresas do setor de tecnologia cotada na Bolsa de Valores de Varsóvia, bem como em Nova Iorque (no Nasdaq) e no mercado de capitais de Tel Aviv.
No entanto opera como uma federação de empresas locais (nos países em que a marca está instalada) que operam com grande autonomia face à casa-mãe na Polónia.
"O grupo funciona de uma maneira descentralizada. O grupo investe e compra empresas ou grupos de empresas nos países em que reside", disse o CEO português.
"Há 10 anos atrás a Asseco entrou em Portugal e não temos nenhum polaco na gestão. Temos total autonomia para gerir e garantir a gestão transversal da empresa de acordo com a estratégia que faz sentido para estes mercados", disse.
Daniel Araújo, CEO da Asseco PST, considera que o modelo de federação de empresas locais (filiais) é o mais adequado para um mundo mais desglobalizado ou o multilateral, "porque, de repente, há soluções específicas para Portugal, há soluções específicas para a Polónia... num contexto em que os países querem ser autossuficientes e não querem dependentes de tecnologia de terceiros", disse o CEO.
Portanto, sublinha, "faz sentido que determinados centros de competência residam ou nos países ou na esfera de influência destes mesmos países, para não se ficar refém de uma tecnologia de terceiros".
Os BRICS querem fazer um sistema alternativo ao SWIFT. Questionado, o CEO da Asseco PST disse que "não temos uma solução de pagamentos transnacional como SWIFT. Mas, provavelmente, temos o expertise para o construir. Estamos a falar de 30 mil pessoas em 60 países no mundo. Mas são sistemas, então se faz um, não se fazem vários SWIFTs".
Durante a 17ª Cimeira dos BRICS, realizada no Rio de Janeiro, os chefes de Estado dos países membros do bloco decidiram avançar com a criação de um sistema alternativo ao SWIFT, a principal rede global de pagamentos interbancários. A proposta foi debatida no âmbito da Iniciativa de Pagamentos Transfronteiriços dos BRICS, que visa tornar as transações entre os países membros mais acessíveis, rápidas e seguras. De acordo com o documento final da cimeira, o grupo acolheu com satisfação o relatório técnico elaborado pela Task Force de Pagamentos dos BRICS, que delineou formas de melhorar a interoperabilidade entre os sistemas financeiros nacionais. A iniciativa pretende reforçar o comércio e os investimentos entre os países do Sul Global, reduzindo a dependência de plataformas controladas por outras potências.
A multinacional Asseco Group, um dos maiores e mais reconhecidos fornecedores europeus de software, com presença à escala global, a empresa está presente em oito mercados de três continentes.
Rafal Kozlowski, Asseco Poland, disse durante a conferência que "acredito que em breve seremos muito bem-sucedidos, somos líderes em muitas áreas, em muitos países, mas diria que este modelo de federação é ainda melhor para o futuro, tempos em que há uma desglobalização. Há muitas mudanças, mesmo em termos tecnológicos, na nossa dimensão sobre a IA. Isto terá realmente um grande impacto em todos. Mas diria que a nossa abordagem de trabalho será provavelmente a única possível num ambiente tão desafiante".
Daniel Araújo deu outro exemplo. O facto de as bases de dados dos bancos em Portugal estarem numa cloud nos Estados Unidos. "Os Estados Unidos, em teoria, se não fosse um país próximo de Portugal, podiam exercer algum tipo de influência e dizer 'se vocês não fizeram o que nós estamos a dizer, se calhar nós cortamos isso e vocês ficam sem banco'. Portanto, e é aí que o Rafael Kozlowski queria chegar, ao facto de existirem competências, empresas e expertise localmente nos países que permite aos países também serem mais autossuficientes neste mundo cada vez mais descentralizado em que cada um quer ter as suas próprias cadeias de valor dentro dos países, ou melhor, dentro dos blocos".
"Federated leadership: powering people and capital in times of transformation" foi o mote desta apresentação de Rafal Kozlowski.
O que vem aí no setor bancário: tendências revolucionárias para tempos desafiantes, foi também debatido nos painéis.