O Banco Central Europeu deve repetir a decisão de outubro na reunião desta quinta-feira e, tal como fez a Reserva Federal no dia anterior, manter tudo inalterado no que respeita à política monetária. A inflação tem recuado de forma notória e, ao contrário dos EUA, também o crescimento tem sofrido com as subidas de juros, obrigando a autoridade monetária europeia a caminhar um equilíbrio mais estreito do que a sua homóloga norte-americana. As atenções estarão assim voltadas para o discurso da presidente do organismo, que deverá procurar acalmar as expectativas de cortes já no primeiro trimestre de 2024.
A decisão de outubro não surpreendeu os mercados e a desta quinta-feira parece ainda mais certa julgando pelos futuros, apontando esmagadoramente para a manutenção das taxas em vigor. A zona euro deve manter assim os juros diretores em 4,5%, um máximo de 22 anos, naquela que será a segunda reunião seguida sem mexidas depois de 15 meses consecutivos com os juros a subir.
Com o crescimento a desiludir e o bloco europeu já formalmente em recessão técnica depois de dois trimestres de recuos no PIB, a pressão para cortar taxas vai crescendo. O mercado vai apostando cada vez mais na normalização da política monetária já no próximo ano e, apesar das tentativas do BCE em contrariar esta possibilidade, os analistas mais dovish apontam mesmo para março como o arranque das descidas de juros.
Um motivo para esta aposta dos mercados prende-se, por um lado, com os dados, mas também com a comunicação do próprio BCE. Isabel Schnabel, uma das responsáveis mais hawkish do comité de política monetária do banco, comentou recentemente à Reuters que novas subidas estavam fora da mesa, um sinal claro de que a postura agressiva está a mudar, argumenta a análise da Ebury.
“Na nossa visão, a presidente Lagarde procurará manter uma postura discreta na conferência de imprensa, abstendo-se do que quer que possa ser visto como forward guidance”, escrevem os analistas da instituição financeira, acrescentando que “será difícil ver como o BCE poderá acrescentar às expectativas de mercado de um alívio”.
Também a abrdn partilha desta visão, acrescentando que “o BCE espera que ‘o último quilómetro’ de desinflação seja difícil”, sinalizando que os cortes ainda deverão demorar. Ao mesmo tempo, ambas as análises relembram outros instrumentos ao dispor do banco, como o programa de emergência de compra de ativos (PEPP), que Schnabel também havia abordado na entrevista com a Reuters.
Semana em cheio para os bancos centrais
A decisão do BCE para dezembro é anunciada no dia a seguir à Reserva Federal norte-americana ter tomado semelhante opção, mantendo tudo inalterado, e no mesmo dia que o Banco de Inglaterra (BoE) também reúne. Com a inflação a recuar dos dois lados do Atlântico, a estratégia agora é aguardar para ver os efeitos plenos da subida dos juros na economia real.
A Fed não mexeu nos juros diretores, que se mantêm assim entre 5,25% e 5,5%, embora tenha atualizado as projeções macro para os próximos três anos. O crescimento foi revisto em ligeira alta para 1,6%, uma subida de 0,1 pontos percentuais (p.p.) em relação à previsão feita em setembro, e cortou a inflação na mesma magnitude para 2,4% em 2024 e 2,1% em 2025.
A revisão mais considerável foi, no entanto, às taxas diretoras no final do próximo ano. Os responsáveis pela política monetária norte-americana estimam agora, em média, que 2024 feche com juros de 4,6%, o que implicaria cortes cumulativos de 90 pontos base (p.b.) em relação ao atual nível de juros. Questionado sobre quando arrancaria a normalização, o presidente Jerome Powell evitou dar respostas comprometedoras.
“Diria que a expectativa geral é que esse passe a ser um tópico para discutirmos daqui para a frente”, afirmou.
Pouco mais de uma hora antes de o BCE anunciar o resultado da sua reunião, o BoE tem marcada a divulgação da decisão quanto aos juros para dezembro. As taxas diretoras devem permanecer inalteradas, embora haja dúvidas quanto ao discurso do governador Andrew Bailey: a prioridade continuará a ser evitar cortes implícitos dos juros pelo mercado já na primeira metade de 2024 ou a comunicação tornar-se-á mais dovish após os dados fracos do crescimento divulgados no dia anterior?