A Aliança Democrática (AD) é oficialmente, a partir deste último domingo, 7 de janeiro, uma força política na corrida às eleições legislativa de 10 de março. PSD, CDS-PP e PPM voltaram agora a unir forças para colocar fim aos anos de governação de PS. Prioridades da nova AD assam por alcançar níveis elevados de crescimento, reforçar rendimentos e salvar e reabilitar o Estado Social do definhamento em curso.
O responsável máximo do PSD, Luís Montenegro, foi o último líder partidário da coligação a discursar, mas quis reforçar que a Aliança "não é um movimento político ressabiado", ao contrário dos socialistas. Montenegro deixou mesmo o apelo de voto àqueles que estão desiludidos com o PS e que estão tristes com o rumo do país nos últimos oito anos.
"O projeto político da AD não se alimenta nem pela ameaça nem pela hostilidade e não se move, ao contrário dos nossos adversários, pelo passa-culpas, pelo ressentimento ou pela instigação infantil do medo. Ao contrário do PS, não é um movimento político ressabiado", atirou o líder do PSD no seu discurso.
Para Luís Montenegro, a AD é o "projeto político de esperança e confiança" para o futuro. "Àqueles que acreditaram no PS há dois anos, quero dizer que este projeto é também para vós: para os que se desiludiram. Que bela oportunidade deram ao PS e que o PS desperdiçou completamente".
No entanto, importa lembrar que o Governo de António Costa não se desintegrou, uma vez que o primeiro-ministro pediu a demissão ao Presidente da República, que aceitou a sua decisão, mas optou por dissolver o Parlamento e antecipar as eleições legislativas.
Fazendo referência às queixas socialistas, que acusam Marcelo Rebelo de Sousa de ter empurrado o país para uma crise política, Montenegro escolheu reiterar que o Governo de maioria absoluta "não acabou por causa do Presidente da República ou outra instituição". Na opinião do líder do PSD, "faltou competência ao Governo, a todos os membros que por lá passaram, faltou capacidade de transformação e vontade política, porque instrumentos para mudar ninguém teve como agora", referindo-se aos apoios.
SNS como prioridade social
O acordo, assinado pelos presidentes do PSD, Luís Montenegro, do CDS-PP, Nuno Melo, e do PPM, Gonçalo da Câmara Pereira, aponta como prioridades da AD alcançar níveis elevados de crescimento, reforçar rendimentos e salvar e reabilitar o Estado Social do definhamento em curso.
Fazendo referência ao Congresso do PS, que se realizou entre sexta-feira e domingo de manhã, o líder do PSD admite ter ficado com a grande ausência dos discursos: o Serviço Nacional de Saúde (SNS).
"Neste congresso [do PS], o novo e antigo líder (Pedro Nuno Santos e António Costa), os dois com responsabilidade, porque os dois se sentavam no Conselho de Ministros, tudo fizeram para desviar a atenção, para ignorar e desprezar o que é hoje, para muitos portugueses, a primeira preocupação que têm: a saúde".
Por isso mesmo, e sendo um tema transversal em todos os discursos, Montenegro assegurou que a saúde é, precisamente, "a grande prioridade social do Governo da AD". "A degradação do SNS por si já era suficiente para pôr o Governo socialista na rua e para pôr um novo Governo a cuidar da saúde dos portugueses".
As críticas do líder do PSD chegam numa altura em que o SNS volta a estar num ponto de rutura, pressionado pelos sucessivos casos de Gripe A e Covid-19, e pelas greves que se têm feito sentir no sector, bem como as negociações entre a tutela e os sindicatos, que ficaram (por várias vezes) suspensas devido à falta de acordo devido aos salários.
Ex-Bastonário dos Médicos apoia AD
Miguel Guimarães, ex-Bastonário da Ordem dos Médicos, foi o primeiro a discursar no dia da assinatura da coligação, enquanto independente e "sem lugar".
No seu discurso, Miguel Guimarães foi claro ao acusar o PS de "destruir o SNS", com as principais culpas a recaírem sobre o atual ministro Manuel Pizarro e o diretor-executivo do SNS Fernando Araújo.
"O Governo socialista diz sempre que foi ele quem criou o SNS, mas a verdade é que se criou o SNS, neste momento está a destruir o SNS", acusou. " Falta estratégia, planeamento e orientação", disse, bem como "competência para gerir [o SNS] corretamente".
O ex-Bastonário admitiu ainda que "o PS não vai fazer diferente do que tem feito até agora. Isso não é bom para o sistema de forma global".
"Única esperança"
O presidente do PPM, Gonçalo da Câmara Pereira, assegurou que a AD é "a única esperança de derrotar o PS e os seus aliados da geringonça".
Na chegada à Alfândega do Porto, o líder dos monárquicos admitiu ser um "dia histórico" para o partido e para o país porque "se pode reencontrar e encontrar um rumo de salvaguarda nacional".
Para Gonçalo da Câmara Pereira, a AD marca que "Portugal tem uma alternativa viável e que vai colocar o país num caminho sustentável". Gonçalo da Câmara Pereira disse estar nesta coligação para defender os ideais ecológicos, os valores da "mais velha instituição portuguesa" e ainda os "ideais nacionalistas de um Portugal diverso".
"Aposta segura"
Para Nuno Melo, a AD é a "aposta segura" face às hipóteses de voto nas eleições. Ainda assim, o líder do CDS-PP teve tempo - no discurso superior a 20 minutos - de lançar farpas aos socialistas, como os restantes colegas da coligação.
"A crise que temos não nasceu em Belém nasceu em São Bento", relembrando a governação de António Costa, bem como uma menção disfarçada a Vítor Escária. "É grave e tem como responsáveis o doutor António Costa e o secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos".
"Faz algum sentido que alguém que foi substituído por incompetência agora ascenda a primeiro-ministro?", questionou Nuno Melo durante o seu discurso, lembrando a demissão de Pedro Nuno Santos mediante o caso da indemnização a Alexandra Reis.
“A única alternativa credível, experimentada e com quadros extraordinários capazes de dar um novo rumo a Portugal. Não temos tempo para experimentalismos em Portugal”, vincou no seu discurso. Com algumas farpas, o líder do CDS aponta que a AD vai fazer crescer a economia, melhorar o SNS e dar esperança aos portugueses com as restantes propostas.
Por isso mesmo, Nuno Melo foi conciso a atribuir as culpas da situação atual do país: "O PS governo há oito anos. Vos garanto que a culpa não é de Passos Coelho, de Paulo Portas, do PSD ou do CDS. A culpa é de António Costa e de Pedro Nuno Santos", disse entre aplausos de uma plateia lotada.
O líder do CDS atirou ainda as razões por que o PS não deve continuar a governar: pobreza dos portugueses, descontrolo das fronteiras, elevada carga fiscal sobre trabalhadores e empresas (que tem vindo a criticar desde o início do ano passado) e cobrança de impostos indiretos.
“Poucas vezes tivemos tantos pilares fundamentais do regime democrático controlados e colonizados por todos os tipos de socialismo em Portugal”, atirou o líder do CDS-PP. Para Nuno Melo, os portugueses vão às urnas votar sobre se estão “disponíveis a mudar o que temos” atualmente no país.