Diego Armando Maradona personificou o mistério do futebol. Fez transcender, como muito poucos, um simples jogo com uma bola. Tinha um pé na história e outro na mitologia. E a mão de Deus. É preciso caminhar pelas rotas de todas as fés para compreender o seu poder na emoção das pessoas. E as vitórias simbólicas na vida coletiva que lhes concedeu. Da Buenos Aires pobre à Nápoles perdida levou a esperança aos que se sentiam arredados da fortuna. Em 1986 marcou o melhor golo de todos os Mundiais: porque aquele que fez contra a Inglaterra, quatro anos depois da derrota na guerra das Malvinas e após a saída da ditadura militar que aterrorizara um país, convenceu os argentinos que tudo era possível. O “pibe” da pobre Villa Fiorito marcou o golo supremo. Maradona redimiu a Argentina. E redimiu Nápoles, a terra da máfia, o centro desfocado de Itália, esquecida pela rica Milão ou a poderosa Roma. Em Nápoles morte e vida confundem-se. Tal como a arte de Maradona ou dos quadros de Caravaggio. Paulo Sorrentino é napolitano. E só assim se compreende um filme fabuloso como é “È stata la mano di Dio” (traduzida em inglês para o mais seco “The Hand of God”), que agora pode ser visto na Netflix.