Skip to main content

Zelensky na Casa Branca: eleições presidenciais passam a fazer parte da agenda

Há muito que o presidente da Rússia diz que o seu homólogo ucraniano não tem legitimidade para negociar a paz. O facto de Zelensky ter colocado as eleições no âmbito do encontro na Casa Branca pode ser uma mudança a explorar.

Ninguém acredita que o presidente Volodymyr Zelensky perca umas eleições presidenciais no seu país quando elas ocorrerem, mas o facto de ter colocado a possibilidade – que em teoria existe sempre – da marcação de eleições quando a paz for conseguida, pode mudar alguma coisa na frente das negociações. "Temos que cuidar da segurança e das circunstâncias... Precisamos de trabalhar no Parlamento, porque durante a guerra não podemos ter eleições. Precisamos de uma trégua para possibilitar que se realizem eleições democráticas, abertas e legais", afirmou. Os Estados Unidos querem que esse escrutínio aconteça até o final do ano se houver um cessar-fogo.

Por outro lado, Donald Trump garantiu que a Ucrânia receberá "muita ajuda" em termos de segurança: “haverá muita ajuda. Eles são a primeira linha de defesa porque são a Europa. Mas nós também vamos ajudá-los. Estaremos envolvidos" – sem clarificar se aceita ou não agregar a Ucrânia ao famoso Artigo 5 da NATO – que diz que qualquer ataque a um país da aliança é um ataque a todos os países da aliança. De qualquer modo, não se está a ver como a Rússia aceitaria esta agregação. De forma bem mais vaga, Trump disse que "vamos trabalhar com todos e garantir... que tudo esteja bem. Vamos trabalhar com a Rússia. Vamos trabalhar com a Ucrânia. Vamos garantir que tudo funcione". Mas disse que missões de treino e partilha de inteligência como componentes essenciais para fortalecer o exército ucraniano, fazem parte dessa possível ajuda.

Questionado sobre se as garantias de segurança para a Ucrânia poderiam envolver tropas norte-americanas no país europeu, Trump optou por novamente não ser claro: “avisaremos sobre isso talvez mais tarde hoje. Também nos reuniremos com sete grandes líderes de grandes países e falaremos sobre isso. Todos estarão envolvidos, mas haverá muita, muita ajuda”.
Igualmente questionado sobre se ainda haverá “consequências severas” para a Rússia caso um cessar-fogo não seja possível, Trump disse que “não creio que seja necessário um cessar-fogo. É bom se houver, mas podemos negociar um acordo de paz enquanto eles lutam. Eles precisam lutar. Eu gostaria que parassem, eu gostaria que parassem, mas estrategicamente isso pode ser uma desvantagem para um lado ou para o outro”.

Antes do encontro, Zelensky definiu as ‘linhas vermelhas’ que não estaria disponível para ultrapassar – num contexto em que “precisamos de 'pressão conjunta sobre a Rússia para acabar com a guerra: “o nosso principal objetivo é uma paz confiável e duradoura para a Ucrânia e para toda a Europa. E é importante que o ímpeto de todas as nossas reuniões leve precisamente a esse resultado. Entendemos que não devemos esperar que Putin abandone voluntariamente a agressão e novas tentativas de conquista. É por isso que a pressão deve funcionar, e deve ser uma pressão conjunta – dos Estados Unidos e da Europa, e de todos no mundo que respeitam o direito à vida e a ordem internacional”.
“Precisamos de pôr fim aos assassinatos, e agradeço aos nossos parceiros que trabalham por isso. Juntamente com os líderes da Finlândia, do Reino Unido, da Itália, da Comissão Europeia e o secretário-geral da NATO, coordenámos nossas posições antes da reunião com o Presidente Trump. A Ucrânia está pronta para uma trégua real e para estabelecer uma nova arquitetura de segurança. Precisamos de paz”, escreveu nas redes sociais.

Zelensky clarificou estes pontos porque Trump disse pouco antes do início do encontro que o presidente ucraniano devia abandonar a ideia de recuperar a Crimeia e de entrar como Estado-membro na NATO.
O encontro entre os dois líderes ficou também marcado pelo facto de Trump ter dito que irira fazer uma ligação telefónica para o presidente Vladimir Putin. Com quem espera, afirmou, que possa vir a ser organizada uma cimeira a três.
Entretanto, os líderes europeus afirmaram novamente as suas posições, sentados ao redor de uma grande mesa, num formato semelhante às recentes reuniões do gabinete de Trump.

Mar Rutte, secretário-geral da NATO, disse que “temos que parar com a matança. Temos que parar com a destruição da infraestrutura da Ucrânia. Esta é uma guerra terrível", antes de agradecer a Trump por "resolveu o impasse". A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, afirmou que “estamos aqui para trabalhar juntamente com vocês por uma paz justa e duradoura para a Ucrânia, para acabar com a matança." O chanceler alemão, afirmou por seu turno que “não consigo imaginar que a próxima reunião aconteça sem um cessar-fogo. Então, vamos trabalhar nisso e tentar pressionar a Rússia", numa intervenção que envolvia uma crítica clara a Trump, que disse momentos antes que não é necessário um cessar-fogo para se negociar a paz.

Giorgia Meloni, primeira-ministra da Itália, afirmou que “falaremos sobre muitos tópicos importantes. O primeiro são as garantias de segurança, como ter certeza de que isto não acontecerá novamente, que é a pré-condição para qualquer tipo de paz”; O presidente francês, Emmanuel Macron, disse que “trabalhamos arduamente nos últimos anos para alcançar uma paz sólida e duradoura. É por isso que a ideia de uma reunião trilateral é muito importante, pois é a única maneira de resolver o problema". Para o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, “estamos a falar sobre a segurança, não apenas da Ucrânia, estamos a falar sobre a segurança da Europa e do Reino Unido também, e é por isso que essa é uma questão tão importante". O primeiro-ministro finlandês, Alexabder Stubb, afirmou que “o facto de estarmos aqui é muito simbólico, no sentido de que é a equipa Europa e a equipa Estados Unidos estão a ajudar a Ucrânia". Partilhando uma fronteira com a Rússia, disse ainda que “encontrámos uma solução em 1944 e tenho certeza de que seremos capazes de encontrá-la em 2025 para acabar com a guerra de agressão da Rússia e encontrar e obter uma paz justa e duradoura".