Abordo de um voo transatlântico, enquanto os passageiros se instalam para horas de viagem, poucos imaginam que o uniforme impecável da tripulação tem origem em Portugal. É na Skypro, com sede em Ermesinde, que nascem as peças que hoje vestem profissionais de algumas das maiores companhias aéreas do mundo: Emirates, Etihad, Qatar Airways, AirArabia ou Royal Jordanian. Em Portugal, tem como principais clientes a TAP (calçado, cintos, luvas e carteiras), a SATA, a Hi Fly e ainda a NetJets, em Oeiras.
A empresa aposta num mix entre a tradição têxtil portuguesa e a inovação tecnológica, “A Skypro nasceu em 2004, inicialmente como um franchise das lojas Lanidor. Com o objetivo de expandir o negócio, abrimos também lojas Aerosoles especializadas em calçado, onde identificámos um número significativo de clientes que procuravam sapatos adequados para trabalhar. Dois anos depois, criámos a marca Aerosoles Pro, com a qual ganhámos o concurso da TAP para fornecimento de calçado profissional”, diz Jorge Pinto, CEO da Skypro, ao Jornal Económico.
Mais tarde, o grupo Aerosoles entrou em dificuldades financeiras e, por consequência, a empresa também foi afetada, uma vez que dependia deles como fornecedor. Durante esse período, desenvolveu um novo modelo de sapato, que não ativava os detetores de metais nos aeroportos, enquanto aguardavam pela decisão da TAP. Esse produto, com caraterísticas técnicas muito avançadas (controlo de temperatura, antiderrapante, antiestático, feito com peles inócuas), marcou o nascimento da marca portuguesa. Ao mesmo tempo, Jorge Pinto foi falar com pilotos e tripulações para perceber que problemas tinham com os uniformes e o que gostariam de mudar.
Nos primeiros anos, passaram a estar ligados ao retalho e focaram-se cada vez mais em propostas para a aviação. Mais tarde, quando já tinham uma presença sólida no segmento do calçado, passaram a fazer uniformes completos. Em 2020, a empresa foi incluída pelo “Financial Times” na lista das mil empresas que mais cresceram na Europa. Além do setor da aviação, a Skypro fornece ainda companhias de cruzeiro, transportes ferroviários, hotelaria, grandes museus, empresas de rent-a-car, escritórios de advogados e a polícia sueca. É responsável pelo design, engenharia de construção dos tecidos, produção e distribuição dos uniformes para cada trabalhador. “Estamos bastante focados em não depender apenas do setor da aviação. Procuramos clientes com mais de 500 colaboradores, que necessitem de soluções personalizadas e completas de gestão de uniformes. Construímos uma marca que, hoje em dia, é a ‘Nike’ da indústria da aviação. Somos um player com uma oferta e saber únicos”, afirma Jorge Pinto.
Europa, Canadá, Suíça e Médio-Oriente são as regiões mais rentáveis para a Skypro. A aposta na inovação e na escolha criteriosa de materiais para aumentar a durabilidade e o conforto dos uniformes tem dado frutos. “Apresentámos recentemente o primeiro fato com base em lã lavável na máquina de lavar, uma inovação que elimina a necessidade de lavandaria profissional para tripulantes. As nossas palmilhas e solas absorvem até 98% da energia do impacto, reduzindo significativamente a fadiga e o impacto nas articulações ao longo do tempo”, acrescenta.
A sustentabilidade está no centro do negócio. No ano passado, a empresa lançou um programa de circularidade que promove a retoma de uniformes usados para serem recuperados e reutilizados, ou reciclados, para gerar novos fios têxteis que são reintroduzidos no processo de fabrico. “A certificação B Corp foi um marco importante, mas representa apenas uma parte do nosso compromisso. Vamos mais além: medimos o impacto que os nossos produtos e soluções têm nos nossos clientes e implementámos programas de reutilização de uniformes, promovendo o reaproveitamento de peças e reduzindo a necessidade de nova produção”, sublinha Jorge Pinto.
Uniformes portugueses voam pelo mundo
A Skypro, empresa de Ermesinde, fornece fardas e calçado técnico para tripulações aéreas em mais de 30 países como a TAP, Emirates, Air Arabia ou Royal Jordania. Tem 40 clientes em todo o mundo e faturou nove milhões de euros em 2024. O fabrico de vestuário para tripulações de cruzeiros, hotéis ou polícia são a aposta para este ano.
