Num dia marcado por mais uma intensa barragem de morteiros disparados sobre Jerusalém, a investida israelita sobre a Faixa de Gaza parece continuar congelada, ao mesmo tempo que os Estados Unidos continuam a balizar essa mesma investida: entre muitos outros recados que partem de Washington para Israel, o presidente norte-americano, Joe Biden, fez saber que não quer que o Estado hebreu volte a ocupar o estreito enclave. Ou seja, a Casa Branca entende a motivação da invasão, mas não quer uma presença permanente.
No meio disto, e com assinalável atraso – pelo menos na ótica de alguns observadores – os 27 países da União Europeia reúnem esta terça-feira para debater a questão. Nos dias que se passaram desde o ataque do Hamas, já todas as capitais dos 27 disseram o que tinham a dizer sobre a matéria – o que implica que, em termos de política externa, continua a ser impossível aos 27 assumirem uma postura comum.
Aliás, a presidente da Comissão, Ursula von der Leyen, foi alvo das mais diversas críticas, seja por ter demorado na resposta ao incidente, seja por não ter expressado qualquer solidariedade específica para com os civis palestinianos, seja ainda porque, num primeiro instante, um responsável da estrutura de topo comum alegou que a União devia suspender de imediato todo o apoio humanitário a Gaza.
A reunião desta terça-feira é, neste quadro, um acontecimento que tem pouca relevância diplomática e servirá apenas para reforçar, dizem os comentadores, palavras já repetidas por todas as principais chancelarias do planeta. Como afirma o analista Francisco Seixas da Costa, a influência da União Europeia no Médio Oriente é pouco mais que nenhuma.
No terreno, o cerco a Gaza mantém-se, mas, segundo os jornais e agências internacionais, não há qualquer movimento que possa deixar perceber a iminência do avanço terrestre sobre o enclave.
Entretanto, o líder da agência de segurança interna, o Shin Bet, diz que é pessoalmente responsável pela falta de um alerta precoce para o ataque do Hamas ao sul de Israel de 7 de outubro passado. Numa carta enviada aos membros da agência, Ronen Bar escreve, citado pelos jornais israelitas, que “apesar de uma série de ações que realizámos, infelizmente no sábado não conseguimos gerar um aviso suficiente que permitisse que o ataque fosse frustrado”. “Como dirigente da organização, a responsabilidade é, por isso, minha", escreve Ronen Bar.
Várias horas antes do ataque desse sábado, a agência de defesa identificou um movimento incomum na Faixa de Gaza, levando a um telefonema noturno entre altos funcionários, mas os sinais foram descartados, referem os jornais. Ainda assim, de acordo com os mesmos relatos, Ronen Bar foi à sede da agência e ordenou o envio de uma pequena equipa para a fronteira com Gaza, antecipando a possibilidade de um ataque em pequena escala.
Ainda no que tem a ver com agências de inteligência, as Forças de Defesa de Israel (IDF) dizem terem morto o chefe regional da ‘secreta’ do Hamas na cidade de Khan Younis, no sul de Gaza.
Mais a norte, as IDF dizem que vários postos militares na fronteira com o Líbano foram alvo de ataques e que respondeu com fogo de artilharia. Ou seja, é cada vez mais claro que há, na fronteira comum, uma outra frente de batalha que pode obrigar as forças israelitas a terem de se dividir por duas regiões diferentes – o que é um dos principais receios do país.