A administração norte-americana voltou a prolongar o prazo para a entrada em vigor das tarifas recíprocas anunciadas a 2 de abril, isto apesar de negar que se trate de uma extensão, lançando mais dúvidas sobre o estado do comércio internacional, mas também dando mais tempo a agentes-chave, como a UE e o Japão, para alcançarem acordos com os EUA. Do lado europeu, a esperança é que haja um princípio de entendimento com os norte-americanos na quarta-feira, respeitando o prazo inicial, sendo que as tarifas podem mesmo ficar abaixo de 10%, pelo menos para alguns setores.
O anúncio recente de Trump e os comentários subsequentes do seu secretário do Tesouro, Scott Bessent, sobre a entrada em vigor das tarifas suspensas há quase 90 dias geraram ainda mais confusão do que clareza, dado que o novo prazo parece agora ser dia 1 de agosto, apesar de Bessent rejeitar que se trate de “uma extensão”. Independentemente do que a administração norte-americana quisesse dizer com esta medida, a Comissão garante que está pronta para chegar a um princípio de acordo até quarta-feira.
“Estamos a trabalhar com o dia 9 como o momento em que queremos ter um acordo mínimo de princípio com os EUA”, afirmou esta segunda-feira Olof Gill, porta-voz da Comissão para os assuntos comerciais. “Pelo que entendi, os EUA dizem que, na ausência de um acordo até dia 9, […] haveria tarifas em vigor a 1 de agosto. Portanto, continuamos a trabalhar para dia 9”, completou.
Caso não haja um acordo entre os dois blocos atlânticos, Trump já fez saber que reverterá as tarifas para os níveis em que estavam aquando da sua suspensão. Para a Europa, tal significaria uma taxa universal de 10%, 25% nos automóveis e componentes, 50% para o aço e alumínio e uma tarifa ‘recíproca’ de 50%, um agravamento considerável em relação aos 20% inicialmente anunciados a 2 de abril.
O objetivo inicial dos europeus era atingir um acordo abrangente com os seus homólogos norte-americanos que permitisse proteger setores-chave, mas os próprios representantes da UE admitiram na passada semana que tal não parece exequível. Ao invés, a ideia passa agora por assegurar um princípio de acordo que limite a escalada tarifária, um regime semelhante ao conseguido entre os EUA e o Reino Unido em maio.
Esta ideia tem eco em países altamente dependentes das exportações para o mercado americano, como a Alemanha ou a Irlanda. Na semana passada, o chanceler alemão Friedrich Merz pediu precisamente “uma solução fácil e rápida”, sinalizando a urgência do governo em ver este assunto tratado.
Em sentido inverso, países como a Espanha e a França opõem-se a acordos desta natureza, defendendo que o bloco europeu tem escala e armas para fazer frente às ameaças da administração norte-americana, refere o ‘Financial Times’.
Por cá, Miranda Sarmento falou na possibilidade de um acordo que beneficie ambos os blocos e minimize as distorções criadas por estas barreiras à entrada, projetando que o entendimento entre os dois gigantes económicos atlânticos esteja quase a ser alcançado.
“É possível um acordo com tarifas muito baixas, que seja visto como benéfico para ambas as partes e que permita continuar a fazer trocas e criar valor para os nossos cidadãos”, afirmou esta segunda-feira à Bloomberg, no dia após ser sabido que as tarifas entrarão em vigor a 1 de agosto, caso não sejam alcançados entendimentos com a administração Trump.
“Se os termos do acordo não forem favoráveis à UE, não há acordo”, contrapôs, defendendo que, caso não haja acordo, os europeus devem retaliar “não com toda a força, mas de forma seletiva”.
Apesar de haver já acordos com o Reino Unido e o Vietname, estes dois países encontravam-se em posições mais favoráveis, no primeiro caso, e dramática, no segundo, do que a Europa na sua relação com os EUA – o que ajuda a explicar a maior facilidade na obtenção de um acordo.
O Reino Unido corre um défice comercial de bens crónico com os EUA, pelo que Trump, na sua visão do mundo, classifica os britânicos como uns dos ‘bons’ parceiros de negócios. Ainda assim, nem Londres escapou à tarifa universal de 10%, um sinal, à altura, do mínimo que a administração Trump procurará definir nestas conversações com os variados países ameaçados.
Já o Vietname tem uma exposição anormalmente elevada ao mercado norte-americano, pelo que a ameaça de tarifas de 46%, um dos níveis mais altos sugeridos por Trump a 2 de abril, seria altamente penalizadora para o pequeno país asiático. Assim, o país concordou em ver as suas exportações para os EUA pagarem 20% de taxa e garantiu a Washington que aumentará os esforços para evitar o envio de bens chineses para os EUA através do seu país.