A renúncia de cinco ministros do gabinete do presidente Zelensky é apenas a primeira fase de uma remodelação mais profunda que, segundo os jornais do país, deverá continuar esta quinta-feira e envolver mais cinco pastas, até que o gabinete seja refeito ao longo da próxima sexta-feira.
O ministro dos Negócios Estrangeiros, Dmytro Kuleba, o ministro das Indústrias Estratégicas, Oleksandr Kamyshin, a vice-primeira-ministra Olha Stefanishyna, o ministro da Justiça Denys Maliuska, e do Meio Ambiente, Ruslan Strilets, e a ministra de Reintegração, Iryna Vereshchuk, deixam o governo, com a imprensa ucraniana a dar nota de que Zelensky também demitiu Rostyslav Shurma da pasta de Economia. Vitalii Koval, chefe do Fundo de Propriedade do Estado da Ucrânia (SPFU), também apresentou a sua renúncia nove meses depois de assumir o cargo.
David Arakhamia, deputado do partido de Zelensky, disse, citado pela imprensa, que haveria uma “grande redefinição do governo”, com mais de metade dos ministros a mudarem. “Amanhã [hoje], espera-nos um dia de demissões e um dia de nomeações no dia seguinte”, disse.
Stefanishyna, que se concentrava na tentativa de Kiev de se juntar à União Europeia e à NATO – não tendo de facto conseguido nenhuma das duas – pode ser agora nomeada para um ministério, numa ‘dança de cadeiras’ entre os aliados do presidente. Zelensky disse num comentário em vídeo divulgado nas redes sociais que o objetivo da remodelação era o de dotar a Ucrânia de um governo preparado para a nova fase da guerra – sem especificar o que caraterizaria essa nova fase.
Em vista estará também, certamente, a visita que Zeelensky fará ainda este mês de setembro aos Estados Unidos. Ali, Zelensky terá de apresentar um corpo governamental sólido e sem fissuras – nomeadamente na área da corrupção, que tem minado membros de executivos anteriores – que possa dar consistência àquilo a que os seus próximos chamam o ‘plano de vitória’ da guerra contra a Rússia. Dará também, com certeza, uma ajuda preciosa a Kamala Harris – e talvez se lembre que algures no tempo disse que também apresentaria o plano ao seu adversário, Donald Trump.
De qualquer modo, e face às dúvidas sobre esta remodelação que alguns analistas apresentaram – nomeadamente Francisco Seixas da Costa, que em declarações ao JE afirmou que o presidente precisa de legitimação – a remodelação é apresentada como “esperadas há muito tempo”. Segundo afirma ao jornal “Kyiv Independent” o deputado Oleksandr Merezhko, presidente do comité de Relações Exteriores do parlamento, “à nossa frente estão tempos difíceis, um outono e inverno difíceis. Talvez essa remodelação esteja de alguma forma relacionada com este novo período de desafios para a Ucrânia”.
Mas o jornal dá conta de que as razões para as renúncias não foram explicadas pelo executivo – e o vídeo divulgado por Zelensky para os parceiros internacionais também não o faz e afirma que sucedem após vários meses de rumores nunca confirmados (até agora) sobre a possível substituição de vários ministros ucranianos.