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Telecoms alemãs criticam decisão do governo de Berlim de afastar Huawei do 5G

Os últimos dias foram marcados pela ameaça de Berlim, que não quer todas as nacionalidades nas redes móveis de quinta geração. Um estudo da Comissão Europeia mostra que os cinco Estados-membros com a menor percentagem da população coberta por 5G são cinco dos que baniram os fornecedores chineses: Suécia, Roménia, Bélgica, Lituânia e Estónia.

O número de países da União Europeia (UE) que decidiu ou está a ponderar excluir os fornecedores da China das redes móveis de quinta geração (5G) continua a aumentar. Na semana passada foi a vez de o governo alemão anunciar planos nesse sentido, mas foram mal recebidos pelas principais operadoras de telecomunicações do país.

O ministério da Administração Interna da Alemanha quer obrigar as operadoras de telecomunicações a restringirem a utilização de equipamentos fabricados pelas empresas chinesas Huawei e ZTE, tal como veio a público na quarta-feira. Berlim tem estado a estudar a possibilidade de exclusão da tecnologia da China há vários meses, à semelhança de outros países europeus, para reduzir a dependência de fornecedores oriundos da China e de outros países de fora do espaço europeu e ocidental.

No entanto, as operadoras alemãs consideram que cortar com os fornecedores chineses vai pôr em causa os seus planos de investimento nas redes de 5G e repercutir-se nos preços cobrados aos consumidores, uma vez que os equipamentos do Império do Meio são mais baratos que os de concorrentes europeus como a Nokia ou a Ericsson, que passarão a controlar o mercado europeu se a Huawei for afastada. Trata-se de uma discussão semelhante à que tem tido lugar em Portugal desde que em maio o Conselho Superior de Segurança do Ciberespaço, entidade dependente da Presidência do Conselho de Ministros, decidiu que as empresas sediadas fora da União Europeia, dos Estados Unidos e de outros países da OCDE ficarão impedidas de entrar nas redes 5G portuguesas, tal como o JE noticiou em primeira mão.

A gigante Deutsche Telekom, cuja rede cobre 95% da população da Alemanha, alertou para o timing sugerido pelo governo alemão. Na opinião da operadora germânica, apesar de o executivo dizer que pretende acautelar quaisquer efeitos negativos nos sistemas e nos negócios das empresas, o prazo de 2026 é irrealista e comparou-o até à estratégia do Reino Unido de impor restrições.

Já a Telefonica Deutschland, de acordo com as informações divulgadas pela Reuters, admite pedir indenizações - ou mesmo avançar com ações em tribunal – caso a intenção chegue a bom porto. Aliás, segundo uma notícia do diário “Welt” publicada na segunda-feira, as operadoras continuam a instalar componentes chineses, business as usual, ignorando as advertências de segurança por parte das autoridades nacionais.

A Vodafone ainda não comentou estes desenvolvimentos da rentrée, mas em agosto disse publicamente que ao abandonar, de forma rápida, as redes chinesas haveria um impacto significativo quer na estabilidade que na qualidade da transmissão na Alemanha.

“A qualidade pode ser negativamente afetada até um ano depois das antenas serem substituídas”, disse Tanja Richter, diretora de Redes na Vodafone Alemanha, e escreveu o “Spielgel” sobre as declarações proferidas em Düsseldorf. A porta-voz da Vodafone citou um estudo que mostrou que nos países onde houve uma exclusão não planeada e rápida de fornecedores individuais causou disrupção nas redes e atrasou a expansão do 5G.

Argumentos que parecem não convencer a Comissão Europeia, tendo em conta que ainda este verão o comissário europeu para o Mercado Interno, Thierry Breton, lembrou que a UE tem sido bem-sucedida em reduzir as dependências noutros sectores de atividade em tempo recorde, inclusive na energia. “Não deverá ser diferente com o 5G. Não nos podemos dar ao luxo de manter dependências críticas que se podem tornar uma arma contra os nossos interesses”, defendeu.

“Não me cabe a mim dizer se é para aplicar a uma empresa ou a outra, mas cabe-me a mim certificar-me de que os 27 países concordam com os riscos que não podem ser suportados durante a implantação de redes 5G”, referiu num encontro em Bruxelas, onde esteve a agência Lusa, admitindo que a Huawei “tem algumas partes de equipamento que não têm qualquer problema” outras que “podem”. Logo, os Estados-membros têm de estar conscientes do risco e cabe-lhes “decidir”.

Estudo indica que países europeus que baniram tecnologia chinesa estão atrás no 5G

O relatório mencionado pela Vodafone Alemanha é a publicação mais recente do Observatório do 5G da UE, divulgado em abril (ainda antes da decisão em Portugal de afastar as tecnológicas chinesas).

Os dados oficiais, referentes a março, apontam para 70,1% de população em Portugal coberta por rede comercial 5G, que desde janeiro do ano passado está disponível nos 27 Estados-membros da UE, e 4.634 estações operacionais. O ranking é encabeçado por países de pequena dimensão - Malta, Países Baixos e Chipre, que estão a 100% -, seguindo-se Itália e Alemanha.

A conclusão que agrada às multinacionais da Ásia é o facto de a tabela mostra que os cinco países da UE com menor percentagem da população coberta por 5G são cinco dos que baniram os fornecedores chineses: Suécia, Roménia, Bélgica, Lituânia e Estónia. Mais, globalmente, a UE admite a liderança da Coreia do Sul e da China no desenvolvimento do 5G.