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Tarifas: Xi Jinping pede a Lula da Silva unidade face às investidas dos EUA

Os dois líderes discutiram ainda a guerra na Ucrânia, o papel do bloco BRICS e do G20 na defesa do multilateralismo e a cimeira da COP30, que terá lugar no Brasil.

O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, conversou por telefone com o líder chinês, Xi Jinping, por cerca de uma hora, num contato de alto nível com o objetivo de reforçar os laços com o maior parceiro comercial do Brasil, ao mesmo tempo em que enfrenta uma rutura nas relações comerciais com os Estados Unidos. A ligação, realizada na manhã de terça-feira e reportada pelo jornal ‘South China Morning Post’, foi solicitada por Lula da Silva: assessores do Palácio do Planalto e do Ministério das Relações Exteriores estavam em contato com Pequim desde a semana passada.

Durante a ligação, Xi Jinping disse ao presidente brasileiro que as relações bilaterais estão no seu melhor momento e que as duas nações devem trabalhar juntas para dar um exemplo de solidariedade e autossuficiência ao chamado Sul Global. A conversa ocorreu quatro dias depois de o governo de Donald Trump ter imposto uma tarifa de 50% sobre uma ampla gama de exportações brasileiras para os Estados Unidos e um dia depois de ter sido decretada nova moratória nas tarifas a impor à China.

Xi Jinping disse a Lula da Silva que a China apoia o Brasil na defesa de seus direitos legítimos. "Os países devem unir-se e tomar uma posição clara contra o unilateralismo e o protecionismo", disse. De acordo com um comunicado do palácio presidencial brasileiro, ambos discutiram a guerra na Ucrânia, o papel do BRICS e do G20 na defesa do multilateralismo e os preparativos para a COP30, a cimeira climática das Nações Unidas que será sediada no Brasil em novembro.

Xi Jinping confirmou que "a China enviará uma delegação de alto nível a Belém", a cidade que sedia a cimeira, e os líderes concordaram em aprofundar a cooperação em saúde, energia, economia digital e tecnologia de satélite. "O presidente Lula reiterou a importância da China para o sucesso da COP30 e o combate às mudanças climáticas. O presidente Xi indicou que a China trabalhará com o Brasil para garantir o sucesso da conferência", de acordo com a leitura divulgada pelo governo brasileiro.

O telefonema é parte de um esforço diplomático mais amplo de Lula da Silva para alinhar posições entre os membros do BRICS em resposta às ações tarifárias dos Estados Unidos. O presidente brasileiro conversou na semana passada com o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, cujo país enfrenta as mesmas tarifas, e com o presidente russo, Vladimir Putin, cuja economia foi atingida por sanções.

A China já sinalizou apoio público ao Brasil. O ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, disse a Celso Amorim, principal assessor de Política Externa de Lula da Silva, que Pequim se opõe à "interferência externa injustificada" nos assuntos brasileiros e criticou o "uso de tarifas para alavancagem política". No final de julho, o Ministério das Relações Exteriores da China ofereceu-se para fortalecer a cooperação económica com Brasília, citando interesse na aviação, uma indústria-chave para a brasileira Embraer.

O Brasil conta com a China como seu maior mercado de exportação, com soja, minério de ferro e petróleo a dominarem as vendas. Os Estados Unidos continuam a ser um comprador menor mas estratégico, principalmente para produtos industriais de maior valor, como aeronaves. O aumento repentino das tarifas ameaça interromper os fluxos comerciais e injetar nova volatilidade na economia brasileira, que passa por uma fase de crescimento lento.

Trump tem acusado com frequência o bloco BRICS de agir contra os interesses dos EUA. Lula tem procurado posicionar o agrupamento como um contrapeso ao que chama de medidas protecionistas e unilaterais de Washington. As conversas entre os líderes do BRICS sobre a coordenação comercial devem continuar nas próximas semanas, de acordo com autoridades brasileiras.