O partido populista tailandês Pheu Thai, segundo mais votado nas eleições de maio, anunciou uma coligação de onze partidos, incluindo dois conservadores e pró-militaristas, para tentar formar governo e resolver o impasse em que mergulhou o país asiático após as legislativas.
O partido, com forte apoio nos meios rurais e uma plataforma largamente populista, tem liderado os últimos anos democráticos na Tailândia, ocupando o poder aquando do golpe de Estado militar de 2014. Agora, quase dez anos volvidos, a possibilidade de regressar à liderança tailandesa parece bastante forte, embora com pouco apoio popular.
O partido sugere agora uma coligação de onze forças, incluindo duas da fação conservadora, militarista e pró-monarquia do país, que tem sido um inimigo histórico do Pheu Thai e da família multimilionária que o encabeça. O acordo multipartidário serviria para pôr fim ao impasse político que resultou do bloqueio parlamentar à nomeação do candidato vencedor das eleições, Pita Limjaroenrat.
O anúncio da coligação surge dias depois da notícia que o antigo primeiro-ministro, Thaksin Shinawatra, iria regressar ao país depois de um exílio autoimposto na sequência do golpe de Estado de 2006. Oito anos depois, em 2014, era a sua irmã, Yingluck Shinawatra, quem exercia o cargo de primeira-ministra.
A confirmar-se a nomeação do candidato do Pheu Thai, poderá ser a filha do milionário Thaksin, Paetongtarn Shinawatra, a assumir as funções de líder do governo. Ainda assim, Srettha Thavisin, um magnata dos media, afigura-se como o nomeado mais provável.
O Pheu Thai pretende ultrapassar o impasse criado pelo bloqueio do Senado – um órgão nomeado pela elite militar no poder, funcionando de facto como um braço das forças armadas e da monarquia no parlamento – após a vitória esmagadora em maio do movimento Seguir em Frente. Liderado por um antigo executivo de empresas norte-americanas com educação em Harvard, Pita Limjaroenrat, o Seguir em Frente concorria numa plataforma de reformas económicas e sociais, pretendendo atacar os monopólios do país e acabar com a pesada lei de lesa-majestade, que acarreta até 15 anos de prisão.
Dada a vontade clara do povo tailandês, os eleitores mostram-se defraudados com a coligação do Pheu Thai com partidos mais conservadores, acusando a família Shinawatra e o seu movimento político de traição. Uma sondagem divulgada domingo mostra que 64% dos inquiridos ‘discorda’ ou ‘discorda totalmente’ da solução política.
O Seguir em Frente já veio criticar a iniciativa do Pheu Thai, mas deve ficar remetido para o papel de oposição na nova configuração legislativa.
Em resposta às críticas, Paetongtarn Shinawatra reconheceu a desilusão de grande parte da população, pedindo desculpa pela quebra da promessa eleitoral de não se aliar com partidos militaristas e pró-monarquia.
“Temos de fazer alguns ajustes para manter o país a funcionar. […] Claro, o Pheu Thai tem um preço a pagar: as críticas do povo. Aceitamo-las humildemente e pedimos desculpa por desapontar tantas pessoas”, afirmou Paetongtarn Shinawatra este domingo.
O voto parlamentar para a eleição de primeiro-ministro requer a aprovação de metade dos 750 assentos combinados das câmaras alta e baixa, com o Pheu Thai a assegurar 141 votos através dos deputados já eleitos. A coligação de onze partidos representa 314 parlamentares, segundo os porta-vozes das forças políticas envolvidas.
O parlamento reúne-se esta terça-feira para votar esta nomeação, dia em que o antigo primeiro-ministro Thaksin Shinawatra tem marcado o seu regresso ao país. Acusado de vários crimes, o milionário de 74 anos deve ser preso à chegada, mas o seu estado de saúde pode travar penas de prisão mais pesadas. Um jornal local reportou este domingo que Thaksin será detido e apresentado aos tribunais tailandeses, sendo posteriormente examinado por médicos que determinarão se está capaz de ficar detido numa prisão.
Em comentários sobre o regresso do seu pai, Paetongtarn recusou que este fosse politicamente motivado, garantindo que o antigo político só quer viver os seus últimos anos no país natal. Thaksin viveu maioritariamente no Dubai depois de ter sido deposto por um golpe militar em 2006, com sugestões na oposição que o derrube do governo havia sido orquestrado com os militares para permitir ao então primeiro-ministro fugir do país e evitar acusações de corrupção.