O desemprego subiu de forma assinalável em setembro, ultrapassando novamente a barreira dos 300 mil inscritos nos centros de emprego, algo que não se verificava desde março deste ano. O salto de 4,5% nos desempregados registados é o maior desde 2021, quando o país estava mergulhado na fase mais aguda da pandemia, e, excluindo este período, não se verificava desde 2013, numa altura em que a troika ainda estava em Portugal. Ainda assim, esta realidade espelha sobretudo um abrandamento esperado da economia, não levantando demasiadas preocupações com o futuro imediato.
O número de desempregados nos centros do Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP) subiu em 12.873 pessoas, um disparo de 4,5% em termos homólogos (1,6% em cadeia), um aumento não visto em mais de dois anos. Depois da subida, o total de pessoas à procura de emprego chegou a 300.113, com um foco claro nas indústrias exportadoras do país – um cenário consistente com o abrandamento da economia global, sobretudo dos principais parceiros comerciais de Portugal.
Isso mesmo começa por destacar João Cerejeira, economista e professor universitário, lembrando que a subida se foca sobretudo nestas áreas. Dadas as dificuldades em que se encontra a economia europeia e os seus principais Estados-membros, com destaque claro para a Alemanha, esta subida já era expectável.
Ainda assim, os números avançados pelo Governo para o desemprego no final deste ano e do próximo não parecem estar ameaçados. O Executivo aponta a 6,7% de desemprego este ano, valor que se manterá em 2024, isto depois de vários trimestres com taxas historicamente baixas.
“A ideia de que o desemprego pudesse descer mais do que o ano passado ou nos anos anteriores não é realista. Vamos verificar alguma subida, algumas décimas, neste ano e no próximo”, projeta João Cerejeira.
O desemprego vinha caindo desde 2021, mas a tendência havia-se invertido recentemente, coincidindo com o início do aperto monetário na zona euro. Esta subida de custos de financiamento ajuda a explicar a dinâmica de abrandamento da economia, isto apesar do foco contínuo do Governo no mercado laboral, um dos sinais mais positivos da economia real nos últimos tempos.
Nesta medida, João Cerejeira não vê riscos significativos, pelo menos por enquanto, para o crescimento nacional. O suporte dado pelo consumo interno “é que permite a Portugal crescer um bocadinho mais do que a média europeia” numa altura de fraqueza das principais economias do bloco, mas é preciso ter atenção a possíveis desequilíbrios.
Lembrando que a procura interna nacional pode estimular as importações, o professor universitário chama a atenção para um possível “desequilíbrio externo que obrigue a um ajustamento mais à frente”. Ainda assim, o Estado ajuda a equilibrar esta equação, porque “o excedente limita a procura i