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Sonae MC está a formar mais de 600 trabalhadores em programação

A retalhista fez um raio-X aos recursos humanos e escolheu quem poderia beneficiar ao saber código. Mesmo quem não estava na lista se quis inscrever no programa de qualificação e requalificação que resulta de uma parceria com a Code for All (antiga Academia de Código).

A MC, empresa de retalho alimentar do grupo Sonae, tem mais de 600 trabalhadores inscritos numa formação em programação dada pela startup portuguesa Code for All (antiga Academia de Código). O curso de (re)qualificação chama-se “Reboot MC” e conta com 60% de mulheres entre os participantes, disseram fontes oficiais das duas organizações ao Jornal Económico (JE).

Foi de uma análise e planeamento estratégico na MC que se chegou à conclusão de que era preciso investir no código. “Identificámos as competências que seriam fundamentais implementarmos no médio prazo e uma delas, de futuro, foi a programação, porque tem valor per se e também é potenciador de outras competências”, explica a responsável de Aprendizagem, Desenvolvimento e Inclusão da Sonae MC.

“Fizemos uma avaliação por cada função – nem todas as funções, pelo menos para já, precisam – para perceber onde é que as pessoas estavam e onde é que deviam estar e as mais críticas deviam ser priorizadas no plano de upskilling e reskilling”, conta Catarina Oliveira Fernandes ao JE.

“Começámos a falar com empresas que contratam os nossos alunos e percebemos que existiam várias necessidades de capacitação das pessoas, acesso a novo talento tecnológico e desenvolvimento de produtos digitais, para o qual temos equipas próprias que ajudam nessa área. O casamento com a Sonae foi muito feliz por terem esta visão de que isto não é fechado num departamento ou equipa. É uma skill que deve ser transversal a todos os colaboradores da empresa. Algo que defendemos há muito tempo”, admite, em declarações ao JE, o cofundador e CEO da Code for All.

É aí que se forma um acordo e nasce o “Reboot MC”, depois de alguns meses de planeamento e adaptação curricular. A adesão por parte dos colaboradores da MC tem sido expressiva, uma vez que em meados de janeiro o número de inscritos se fixava nos 461 e mais de um terço ter-se-ão inscrito voluntariamente (leia-se: sem estarem na lista de prioridades de reskilling e upskilling da empresa).

A taxa de empregabilidade da Code for All, consequência do contexto laboral no sector tecnológico, caiu um ponto percentual por ano, dos 98% em 2021 para os 97% em 2022 (em 2023 a percentagem ainda não foi apurada), mas João Magalhães considera que continua “bastante elevada”.

“É importante referir que somos uma escola, mas não vendemos cursos. Tentamos encontrar pessoas com motivação e perfil certo, portanto quem quiser fazer o nosso curso tem de passar por um processo de seleção rigoroso, que pode demorar dois ou três meses, com vários exercícios e uma entrevista individual”, ressalva o empreendedor.

A Renata, com um curso de cinema e no desempregado, fez o curso e está agora a trabalhar em projetos de desenvolvimento tecnológico para a Worten. O Miguel, músico, quis um salário digno, fez o curso e está envolvido na criação de apps, como a do Continente

Desde 2015, mais de 20 mil pessoas se formaram em programação com a Code for All, das quais duas mil ingressaram nas formações de requalificação. Os dados mais recentes davam conta de que mais de 130 funcionários da MC tinham concluíram todas as fases do curso. Prognósticos sobre os próximos passos? Só «no fim do jogo».

“É o primeiro ano e muitas das pessoas inscritas ainda estão a concluir um dos dois programas. Temos de lhes dar tempo para terminar. O que acho fantástico é que algumas das pessoas foram identificadas pela Code for All como «high potencials», como eles definem quem demonstrou, do ponto de vista de erro ou rapidez, conseguir os processos. Foram ali descobertos talentos de programação”, comentou Catarina Oliveira Fernandes.

No entanto, há exemplos que podem servir de inspiração. João Magalhães garante que “é possível alguém, com talento e motivação, chegar a outras áreas profissionais”, porque conhece a Renata, que tinha tirado um curso de cinema e estava desempregada, e agora a trabalhar em projetos de desenvolvimento tecnológico para a Worten. Ou mesmo o músico Miguel, que estava com muita dificuldade em conseguir ter um salário digno na sua área de formação e agora está envolvido na criação de várias aplicações digitais, inclusive na do Continente.