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Sistema de IA do Banco de Portugal respondeu a mais de 6.400 pedidos de informação

"Trouxe um ganho de produtividade gigante. Muda a atividade, a qualidade e também de satisfação das nossas próprias pessoas, que acabam por desempenhar tarefas de muito maior valor acrescentado", afirmou Filipa Lima, diretora adjunta do departamento de Sistemas e Tecnologias de Informação do BdP.

O sistema de Inteligência Artificial (IA) do Banco de Portugal (BdP) deu resposta a mais de 6.400 pedidos de informação no ano passado, disse esta terça-feira a diretora adjunta do departamento de Sistemas e Tecnologias de Informação do supervisor bancário.

Todos os anos, o BdP recebe mais de seis mil pedidos de informação dos clientes bancários, no contexto da supervisão comportamental. Em 2023, a plataforma tecnológica ALYA deu 6.418 sugestões de respostas automáticas. Segundo Filipa Lima, esta ALYA “trouxe um ganho de produtividade gigante”.

“Muda a atividade, a qualidade e também de satisfação das nossas próprias pessoas, que acabam por desempenhar tarefas de muito maior valor acrescentado. A digitalização não é passar do papel para o PDF é mudar completamente um modelo de negócio”, afirmou Filipa Lima, num evento, organizado pela ASFAC - Associação de Instituições de Crédito Especializado e pela consultora a Management Solutions, no qual o Jornal Económico esteve presente.

A executiva do BdP explicou que o banco central percebeu que havia “muita afinidade” entre determinados contactos que recebiam com perguntas sobre aberturas de conta, crédito à habitação, empréstimos ao consumo, entre outros, portanto também havia “respostas-padrão”. A função da ALYA é apresentar ao(à) analista uma proposta de resposta, que a seguir é validada e enviada. Antes deste sistema, os documentos eram praticamente todos tratados manualmente.

Na prática, a ALYA é uma plataforma de machine learning que assenta numa infraestrutura técnica comum e, a partir daí, o BdP monta o seu “menu” de modelos de IA. “É importante perceber que nestes modelos os resultados não podem ser vistos como absolutamente certos. Temos de ter um olho muito crítico, das pessoas do negócio, fazer monitorização contínua e reeducá-los se for necessário”, advertiu a especialista em informática.

“A ALYA é uma «fábrica», uma cadeia de valor onde que há uma fase de integração das fontes de informação, depois os ficheiros são submetidos a processamento, entra então a parte da modelação (adaptação) e depois disponibilização de resultados”, detalhou Filipa Lima. “Por exemplo, na validação dos processos de compras dos bancos, a IA acelera o processo de tratamento de milhares de documentos”, exemplificou.

Manuel Ángel Guzmán, partner da consultora Management Solutions, também fez uma série de reflexões sobre a utilização da IA por parte das instituições financeiras, explicando que é necessário seguir um conjunto de etapas quando se pondera incorporar sistemas algorítmicos. A saber: recolher informação sobre as diferentes leis de dados (RGPD, AI Act..), fazer benchmarking, analisar o desenvolvimento tecnológico da organização, perceber o que a equipa está disposta a fazer para isso e, só depois, desenhar um plano específico.

“Cuidado para não depender demasiado de um fornecedor cloud. Em relação à transparência, mesmo se estivermos a desenvolver um L.L.M. complexo, devemos ser capazes de perceber a estrutura do modelo. Há métricas para perceber se foi bem construído”, esclareceu ainda o consultor espanhol.

“É essencial proteger os direitos das pessoas. A máquina não deixa de ser uma máquina e demora a perceber o que tem de fazer em termos de privacidade”, concluiu, por sua vez, o secretário-geral da ASFAC, nesta conferência que se realizou ontem no Hotel Eurostars Lisboa.