Se o sismo da madrugada de segunda-feira tivesse sido mais forte, teria tido um custo total de 15 mil milhões de euros, cerca de 6% do PIB português.
As contas são de Vítor Silva, da Universidade de Aveiro, engenheiro civil especializado em sismologia e que trabalha no centro europeu Global Earthquake Model Foundation.
No cenário do sismo atingir sete graus na escala de Richter, com o mesmo epicentro, as contas do perito apontam para "perdas de oito mil milhões" de euros somente para o "parque habitacional", a que se juntam os danos em outros edifícios (saúde, educação, infraestruturas, empresas, edifícios administrativos, edifícios do Governo), com o valor a subir para 11 mil milhões de euros, disse ao Jornal Económico.
Além dos custos diretos, existem os custos indiretos, os impactos nas cadeias de abastecimento, e consequentemente nas importações/exportações do país. Conta total, "15 mil milhões de euros, as perdas diretas mais as perdas indiretas, o que não é nada diferente do que se viu noutros sismos".
Sentido pelas 04h11 desta segunda-feira, com uma magnitude de 5,3 graus na escala de Richter, o epicentro do sismo teve lugar a 60 km a oeste de Sines, distrito de Setúbal, a uma profundidade de 21 km.
O responsável apontou para os impactos que o sismo teria no terminal de contentores de Setúbal, no porto de Sines, na refinaria local, indústrias, centrais energéticas.
"Um terço do PIB doméstico bruto é produzido na zona de Lisboa. Era impossível não serem perdas consideráveis nesta zona do país", afirmou.
Questionado sobre o impacto de um sismo com uma maior magnitude neste local, o responsável aponta que "não faz sentido experimentar com magnitudes maiores nestes locais".
Sobre o epicentro, diz que "não faz sentido. Fica a norte das falhas que conhecemos melhor", onde tiveram origem os sismos de 1755 e 1969.
Em relação aos impactos de um grande sismo, semelhante ao de 1755, diz estar mais preocupado com um sismo mais baixo, mas cujo epicentro seja em terra, o que teria um grande impacto, dado não haver "atenuação das ondas sísmicas".
Sobre a qualidade da habitação, aponta que os Censos concluíram que "metade dos edifícios são de alvenaria não reforçada, são edifícios antigos e que não foram dimensionados para resistir a sismos. Apenas um terço da população vive em edifícios após termos introduzido regulamentos mais rigorosos", o que aconteceu a partir de 1983 quando foi criado o primeiro regulamento sísmico "mais rigoroso", após as primeiras regras que foram introduzidas em 1958, mas "mais simples".
"Não quer dizer que dois terços da população estão em perigo, nesses casos não são preocupantes. Mas toda a parte do Vale do Tejo, Santarém, Lisboa, Setúbal, Algarve, tem uma perigosidade sísmica moderada. Nestas zonas tem de haver maior preocupação", afirmou.
Vítor Silva começa por deixar uma primeira sugestão: "Não é praticável reforçar todos os edifícios em Portugal, não conseguimos melhorar todos os edifícios, mas porque não fazer pequenas intervenções e não custosas? Em Itália, o próprio Governo financiou pequenas obras de alvenaria, como instalar tirantes, cabos de aço para dar mais consistência a edifícios mais vulneráveis. É melhor do que não fazer nada, porque para ficar a um nível mais moderno era economicamente impraticável".
A sua segunda sugestão: "E caso alguém fizesse alterações, essas despesas podiam ser incluídas na dedução do IRS. Seria um incentivo à população para tentar fazer pequenas alterações, reduzir a vulnerabilidade dos edifícios. Não é tão custoso como alterar a estrutura do edifício".
"Em Portugal, atualmente não existem incentivos, existem para a eficiência energética. Tivemos um período negro em que era possível fazer alterações aos edifícios sem que houvesse verificação sísmica, como no caso dos open spaces, sala ligada à cozinha, houve imensas alterações nas estruturas, nas paredes resistentes", acrescentou.
Para terminar, o responsável aponta que o "pânico é perigoso, mas que a calma em demasia é igualmente perigosa".