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Segunda volta das presidenciais: um país, dois extremos

Depois das revoltas de 2019 e de uma sucessão de eleições e referendos, os chilenos decidiram desprezar as propostas ao centro e optar por soluções mais radicais, com várias incógnitas.

A segunda volta das eleições presidenciais no Chile – país sobejamente conhecido pela radicalidade dos seus avatares políticos – coloca em confronto duas propostas radicais, uma à direita outra à esquerda, que secaram o centro do espectro partidário, e quem quer que seja que ganhe lançará os chilenos numa aventura de contornos não totalmente conhecidos.
Segundo as sondagens mais recentes, o candidato da Frente Ampla e do Partido Comunista do Chile, Gabriel Boric, está um passo à frente do candidato da extrema-direita e do Partido Republicano, José Antonio Kast, mas a dois dias da decisão final ainda nada é definitivo.

Os últimos 15 meses foram de intensa atividade política para os chilenos, chamados a votar um referendo constitucional, parlamentares, munícipes dos mais diversos escalões, primárias presidenciais, a primeira volta das presidenciais e finalmente a segunda – que irá decidir o ocupante do célebre palácio de La Moneda.

De uma forma muito genérica, a proposta de Boric inscreve-se na tradição das esquerdas sul-americanas: maiores direitos sociais, crescimento do edifício institucional do Estado para abarcar novas camadas da população (ou seja, aumento da despesa pública), uma atenção especial aos desafios do investimento estrangeiro e a vontade de internacionalizar essas propostas para outros países do continente.

José Antonio Kast também não passa por um inovador: quer restaurar a ordem e a estabilidade perdidas desde 2019 – quando o país foi assolado por graves e violentas manifestações contra a inflação, o desemprego e a quase inexistente segurança social –, manter um Estado pequeno e abrir a economia à iniciativa privada, interna ou externa.

As semanas precedentes a esta segunda volta foram apesar de tudo menos radicais do que as que antecederam a primeira. Afinal, 46% dos eleitores que votaram a 21 de novembro fizeram-no num dos outros cinco candidatos que ficaram pelo caminho, e que assim não poderão suceder a Sebastián Piñera, amado e odiado (como quase todos os seus precedentes) pela mesma sobressaltada sociedade chilena.

A ideia de ambos os candidatos – talvez a única que partilham – é tentar chamar o maior número possível de chilenos a esta segunda volta (a abstenção superou os 50% na primeira). Não que isso tenha impacto idêntico nas duas candidaturas, mas porque quem quer que seja que ganhe não pode assumir o poder com lacunas em termos de representatividade – possibilidade que tradicionalmente serve para lançar o caos de volta às ruas.

A 21 de novembro, o líder do Partido Republicano ficou ligeirametne à frente do adversário: 27,9% contra 25,8%, sendo certo que desde 1999 o vencedor da primeira volta ganhou sempre a segunda. Mas a abstenção então verificada não dá nenhuma garantia.

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