O maior negócio dos quase 50 anos de Microsoft, a compra da dona do Call of Duty, ganhou um rumo diferente esta semana com os “remédios” que a tecnológica norte-americana aplicou ao acordo da fusão com a Activision Blizzard, que levaram o regulador da concorrência britânico a dar-lhe uma nova oportunidade de avaliação. Quanto ao documento com os termos anteriores, foi “rasgado” pela CMA (Competition and Markets Authority - Autoridade da Concorrência e dos Mercados) do Reino Unido.
A reestruturação prevê que abdique dos direitos de streaming na cloud para jogos de computador da Activision ou novos jogos lançados nos próximos 15 anos (exceto Europa), cedendo-os à Ubisoft, concorrente nesta indústria com sede em França.
Será suficiente para a luz verde? A Associação de Produtores de Videojogos Portugueses (APVP) disse, ao Jornal Económico (JE), que “valoriza” a abordagem da Microsoft ao reestruturar a proposta de compra da Activision e colaborar com as entidades reguladoras.
“A prevenção de monopólios na indústria de videojogos é essencial para manter a concorrência e a diversidade, garantindo um mercado saudável e inovador para os jogadores. A iniciativa da Microsoft em trabalhar com os países demonstra um compromisso em responder às preocupações levantadas e contribuir para o desenvolvimento sustentável da indústria”, referiu, ao JE, o presidente da APVP, Jeferson Valadares.
O presidente da Microsoft considerou, num artigo publicado no blog oficial da empresa, que esta é uma “evolução positiva” e há agora condições para que a operação avance em mais de 40 países. A seu ver, desde o início, tem havido um esforço da Microsoft em obter aprovação regulatória, “endereçando as preocupações quando levantadas, inclusive assumindo compromissos legais vinculativos para levar o 'Call of Duty' para consolas concorrentes e jogos da Activision Blizzard para plataformas de cloud streaming concorrentes”.
“Continuamos a trabalhar no processo de aprovação regulatória e continuamos confiantes na conclusão do negócio. Estamos comprometidos em levar mais jogos para mais jogadores em todos os lugares. Um ótimo conteúdo é fundamental para a nossa abordagem e nosso pipeline nunca foi tão forte”, garantiu recentemente o CEO, Satya Nadella, na conference call com analistas depois da apresentação dos últimos resultados, referentes ao quarto trimestre do ano fiscal 2023.
Certo é que o anúncio formal da intenção de fazer este negócio foi feito a 18 de janeiro de 2022, após meses de especulação, as investigações abriram em julho do ano passado e com um pé em setembro de 2023 ainda não é conhecida a decisão oficial. O prazo do acordo de fusão dado pela Microsoft é o dia 18 de outubro.
Economia do jogo
O volume de negócios das cerca de 80 empresas, que têm como atividade principal a produção de videojogos em Portugal, foi superior a 23 milhões de euros em 2021, de acordo com os dados mais recentes do Instituto Nacional de Estatística (INE).
Segundo a Statista, o mercado cresceu significativamente nos últimos dois anos, uma vez que este portal alemão aponta para uma faturação de 365 milhões de euros até ao final de 2023, estimando ainda que o número de jogadores em território nacional alcance os cerca de 3 milhões até 2027. Em todo o mundo, 3,5 mil milhões de pessoas jogam videojogos em consolas, computadores e dispositivos móveis, sendo este último o maior segmento, representando 74% das receitas globais.
Fundada em 2021 por algumas das personalidades mais reconhecidas da indústria de videojogos em Portugal (entre as quais Rui Guedes, fundador da Ground Control Studios, ou André Pais, diretor de Produto da Miniclip), a APVP iniciou oficialmente atividade no ano seguinte e conta agora com 17 associados, nomeadamente a Infinirty Games, a Battlesheep, a Fortis ou a FRVR. É ainda um dos 22 membros da Federação Europeia de Produtores de Videojogos (EGDF - European Games Developer Federation).
No caso da Microsoft, as receitas da área de gaming aumentaram 36 milhões de dólares (+1%) no último trimestre, em termos homólogos, à boleia do crescimento dos conteúdos e serviços da Xbox (+5%), que compensaram o hardware da marca, que diminuiu 13% no trimestre terminado a 30 de junho.