Os cinco maiores bancos – CGD, BCP, Novobanco, Santander, BPI – apresentaram as contas dos primeiros nove meses do ano e em comum revelam uma subida do produto bancário e da margem financeira, graças à subida das taxas de juro. A rentabilidade dos capitais próprios com dois dígitos também atravessa todo o sector. Assim como a subida dos custos, que tocou a todos os cinco bancos, justificado em boa parte pela inflação.
O conjunto dos cinco bancos lucrou 3,3 mil milhões de euros até 30 de setembro, o que traduz uma subida de 27,3% face aos 2,58 mil milhões de euros no mesmo período de 2022.
Este é o retrato da banca em pleno pico de juros. Recorde-se que a DBRS disse que “o crescimento desta receita pode ter atingido o pico em alguns bancos ou estar próximo do pico para outros, devido a uma possível estabilização das taxas de juro, a um abrandamento nos novos volumes de empréstimos e a aumentos na remuneração dos depósitos nos próximos trimestres”.
"Em média o pico da subida da margem financeira deverá ter sido entre junho e setembro, depende de banco para banco", segundo fonte de um dos bancos analisados.
Por exemplo Miguel Maya, CEO do BCP – que nos nove meses obteve lucros de 650,7 milhões com uma subida da margem financeira de 37% para 2,1 mil milhões de euros, a beneficiar dos juros dos créditos a subirem mais do que os juros pagos nos depósitos – acredita que o pico deste impulso vindo da margem terá sido atingido no terceiro trimestre.
Ainda que haja tendências comuns, o Top5 dos bancos revela algumas diferenças entre eles. Os mais rentáveis (maior ROE ou ROTE) são o Novobanco (22,4%) e o Santander Totta (21,7%). Os menos rentáveis são o BPI (13,7%) e a CGD com 14,7%. O BCP reportou um ROE de 16,7%.
Os maiores lucros claro que foram reportados pela Caixa que é o maior banco do sistema (987,4 milhões de euros), a subirem 42,6% face ao período homólogo de 2022. Seguiu-se o maior banco privado, Millennium BCP que viu o lucros crescerem 625% para 651 milhões. Depois o Novobanco com lucros de 638,5 milhões, a subirem 49,1%. Em quarto lugar surge o Santander Totta com 621,7 milhões, o que traduz uma subida de 61,5% e por fim o BPI com 390 milhões de lucros, a crescerem 35%.
O produto bancário, que inclui a margem financeira, as comissões e os resultados de operações financeiras, cresceu mais na Caixa Geral de Depósitos (+79% para 2.808 milhões). Seguiu-se o Santander Totta (+50,8% para 1.407,6 milhões); o BCP com a receita a crescer 35,3% para 2.792,7 milhões de euros. No fim da lista surgem o BPI com um crescimento do produto bancário de 30% para 960 milhões de euros e por fim, o Novobanco viu subir a receita 29,5% para 1.102,1 milhões de euros.
Dentro do produto bancário, os campões da subida da receita de margem financeira são a CGD e o Novobanco. A Caixa viu a receita da margem financeira subir 129,4% para 2.090 milhões nas contas consolidadas e o banco liderado por Mark Bourke reportou uma subida de 105% para 831,2 milhões de euros.
Em compensação as comissões caíram em quase todos os bancos, sendo a excepção o Novobanco que viu a receita crescer 0,70% para 217,1 milhões de euros.
A CGD obteve -6,8% de receitas de comissões (426 milhões). O Santander Portugal viu a receita cair 3,6% para 345,7 milhões de euros, o BCP registou menos 0,8% em receita de comissões para 578,5 milhões e o BPI viu a receita de comissões cair 0,5% para 218,4 milhões.
Do lado dos custos a maior subida deu-se no BPI (+16,5% para 397 milhões); depois na CGD (+11% para 791,4 milhões); 8,5% no BCP (para 854,6 milhões); Novobanco com uma subida dos custos de 8,1% para 339,6 milhões de euros; e o Santander 6,3% para 387,4 milhões.
Com isto a eficiência medida pelo rácio de custos sobre proveitos é melhor no Santander (27,5%). Segue-se por esta ordem a CGD (27,9%); o BCP (32%); o Novobanco (33,6%) e o BPI (39,10%).
Em tempo de subida de juros, há um indicador que emerge em importância que é a qualidade da carteira de crédito. O reforço de imparidades no período em análise está representado no custo do risco de crédito. O melhor no rácio sobre a carteira de crédito total é o Santander com um custo do risco de 0,14% e o pior é o BCP com um custo do risco de 0,50%. Pelo meio ficam a CGD e Novobanco com um custo do risco de 0,36% e o BPI com um custo do risco de 0,23%.
Já o crédito malparado medido pelo rácio de NPL (non performing loans) ou de NPE (non performing exposure) revela um claro vencedor, o BPI com o rácio de NPE mais baixo do mercado (1,5%), segue-se o Santander Totta com 1,6% de NPE (1,9% de NPL), depois a CGD com 1,8% de NPE (2,09% de NPL). Os piores em risco da carteira de crédito são o BCP e o Novobanco. O BCP reportou um rácio de 3,6% de NPE, ainda assim melhor que um ano antes (e é preciso não esquecer que o BCP não beneficiou como a CGD e o Novobanco de uma injeção de capital substancial para limpar o legado de malparado). “Houve uma redução expressiva de ativos não produtivos face a setembro de 2022: 398 milhões em NPE, 149 milhões em imóveis recebidos por recuperação e 404 milhões em fundos de reestruturação", disse o BCP.
O Novobanco é neste indicador o pior do Top5, ao reportar um rácio de NPL de 4,2%.
Os bancos apresentam no geral bons níveis de capital, sendo que o que detém o maior rácio de capital core (CET1) é a CGD com 20,1%, seguindo-se por esta ordem o Novobanco com 16,5%, o Santander Portugal com 16,3%, o BCP (14,9%) e o BPI com 14,5%.
Com este capital põe-se o tema dos dividendos. O FMI recomenda que os bancos em Portugal criem um 'buffer', ou seja, uma almofada para malparado com a subida dos lucros. "Em resultado do ajustamento pós-pandemia, vamos ver um aumento das falências, vamos ver um aumento do crédito malparado, e isto é em toda a Europa, esta não é uma questão específica de Portugal", diz o diretor do FMI para a Europa, Alfred Kammer.
"É necessário que os bancos sejam capitalizados, inclusive os bancos portugueses, e estamos a sugerir que os bancos na fase atual aumentem os seus fundos próprios e as suas reservas de capital e que se abstenham, na medida do possível, de pagar todo o acréscimo dos lucros através de dividendos", defendeu o diretor do FMI para a Europa num encontro com jornalistas europeus em Bruxelas, incluindo a Lusa.
Depois veio o Governador do Banco de Portugal aconselhar os bancos a criarem almofadas de capital e a prepararem-se para uma nova crise.
Mário Centeno diz que os bancos têm de aproveitar os lucros do atual ciclo positivo da sua atividade para aumentar as ‘almofadas financeiras’ e, assim, estarem mais bem preparados para futuras crises.
Mas, com lucros recorde, a banca prepara-se para distribuir dividendos pelos acionistas.
Numa conferência organizada pela Global Media, a "Money Conference", que se realizou na semana passada, os banqueiros responderam aos alertas“Cumprimos as indicações do supervisor, o mais importante é o que me dizem o Banco de Portugal e o Banco Central Europeu e para já, há claro espaço para os dividendos, ainda que a decisão só seja tomada no início do próximo ano. Pagaremos os dividendos ao acionista de acordo com as regras que são impostas pelo supervisor, e iremos aplicá-las”, disse o CEO do BPI João Pedro Oliveira e Costa.
A CGD disse que espera pagar ao Estado em 2024 dividendos de 461 milhões de euros referente aos resultados deste ano. O banco avança que em setembro, e após autorização do supervisor, “a Caixa pagou dividendos de 713 milhões de euros".
Também Pedro Castro e Almeida rejeitou suspender a distribuição dos dividendos. "O que seria se o fizéssemos?", disse o CEO do Santander Totta. “O Santander tem tido lucros, paga impostos e distribui dividendos”, rematou.
Miguel Maya, CEO do BCP, afirmou, por sua vez, que o banco irá certamente pagar dividendos aos acionistas, mas que o fará com a prudência adequada. O CEO declarou que “seguramente que o vamos fazer com a prudência adequada àquilo que é a leitura que fazemos do contexto que estamos a fazer e dos desafios que estamos pela frente”, lembrando que só por duas vezes remunerou os acionistas nos últimos dez anos.
Finalmente olhamos para a evolução do balanço dos bancos. O que vemos? Vemos que o crédito caiu em todos os bancos, menos no BPI que registou uma subida de 3%. A maior queda da carteira de crédito bruta deu-se no Santander Totta (-7,5%). A seguir surge o BCP com uma queda de 3,3%; depois o Novobanco (-0,5%) e a CGD (-0,46%).
Nos depósitos a queda dominou, impulsionado pela inflação, pela canalização da poupança para os certificados de aforro que pagam mais e pelos reembolsos antecipados dos créditos, por causa da subida dos juros indexantes. A exceção foi o BCP que vou os depósitos crescerem 2,3% num ano para 75,5 mil milhões de euros.
A maior queda dos depósitos deu-se no Santander Portugal (-9,7%); seguiu-se o BPI com um recuo de 6%; a CGD com uma queda de 5,3%; e o Novobanco que viu os depósitos caírem 1,7%.