Ambos os acionistas – Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (55%) e Parpública (45%) – estão a avançar com o processo de venda da CVP – Sociedade de Gestão Hospitalar, que detém o Hospital da Cruz Vermelha e o processo está na fase das propostas vinculativas (binding offers).
Segundo apurou o Jornal Económico (JE), há três a quatro entidades interessadas que foram escolhidas para avançarem com propostas vinculativas e estão a ser feitas as due diligences.
Depois de entregues as propostas caberá ao banco de investimento que está a assessorar a operação, que neste caso é o Caixa Banco de Investimento (Caixa BI), avaliar as propostas vinculativas e hierarquizá-las, com vista a escolher um vencedor deste processo competitivo de venda.
Tal como noticiado pelo JE em março, este ano foi relançado o processo de venda do Hospital da Cruz Vermelha. Essa informação foi então confirmada pela Parpública e a Santa Casa não comentou.
O processo de venda da sociedade que gere o Hospital da Cruz Vermelha começou por ser desencadeado em abril do ano passado, tendo sido contratados os serviços do Caixa Banco de Investimento (Caixa BI) para a assessoria financeira. No entanto, a escolha de potenciais compradores ficou suspensa com a queda do Governo socialista.
O contrato da assessoria financeira com o Caixa BI foi celebrado em 31 de março de 2023, e tinha um prazo de 18 meses para a concretização da operação, segundo uma informação que foi publicada no Portal Base na altura.
O mandato do Caixa BI tem, por isso, como prazo de validade o mês de setembro deste ano. Pelo que o processo de venda de 100% da sociedade que gere o hospital deverá ficar concluído até ao fim de setembro. Pelo menos no que toca à assinatura do acordo de venda, uma vez que depois o closing ficará dependente da luz verde dos reguladores.
A história da venda do Hospital remonta a dezembro de 2020, quando a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) assinou a compra dos 55% que a Cruz Vermelha Portuguesa detinha na Sociedade Gestora do Hospital da Cruz Vermelha (HCV). No fim de 2020, estava previsto que, numa segunda fase, a Santa Casa adquirisse também as ações da Sociedade Gestora do HCV detidas pela Parpública, “pretendendo a Santa Casa constituir-se como única acionista do Sociedade Gestora”, segundo o comunicado da altura da instituição de solidariedade. Isto é, a Parpública tinha um acordo para vender os seus 45% no hospital à Santa Casa (SCML) desde o fim de 2020, mas esse negócio não se concretizou.
O Hospital da Cruz Vermelha tem um histórico de prejuízos que em 2022 eram 5,8 milhões. Nesse ano o EBITDA era negativo em quase 5 milhões de euros, mas melhor que os 6,3 milhões negativos em 2021.
Mas em 2023 dá-se um aumento de 32% do volume de faturação para 30,6 milhões de euros; há uma requalificação das infraestruturas; e a aposta na qualidade e segurança. Bem como foram implementados vários projetos de melhoria que permitiram ganhos de eficiência nas várias áreas operacionais, segundo relata o Relatório e Contas de 2023.
O hospital renovou o seu quadro clínico com contratação de médicos em várias áreas de especialidade. A Cruz Vermelha destaca que em 2023 a atividade cirúrgica cresceu 46%; o número de dias de internamento subiu 29% e as consultas em ambulatório cresceram 19%.
Ainda assim o EBITDA continua negativo em 2023, ao atingir o valor de -2,36 milhões de euros (menos negativo que em 2022 que foi de cerca de -5 milhões).
Num ano de subida das taxas de juro o Hospital da Cruz Vermelha continuou a registar prejuízos em 2023 de 4,2 milhões de euros, melhorando face a 2022 quando registou prejuízos de 5,8 milhões de euros (teve menos 28% de prejuízos em 2023).
O capital próprio cresceu 472% num ano para 8,47 milhões de euros. “O reforço dos capitais próprios permitiu à sociedade apresentar em 2023 um rácio de autonomia financeira de 17,7% o que compara com 3,6% um ano antes”, refere o hospital.
Em 2022 os acionistas da sociedade SCML e Parpública SGPS, procederam à recapitalização da CVP – Sociedade de Gestão Hospitalar, “o que se revestia de particular importância devido às gravosas consequências resultantes do facto da situação líquida se apresentar negativa, antes da recapitalização”, lê-se no relatório e contas de 2022.
Em 2023 o relatório e contas evidencia o aumento dos capitais próprios em sete milhões de euros passando para 8,5 milhões, como consequência da recapitalização no valor de 11,2 milhões de euros.