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Ryanair pede ao próximo Governo para abrir o aeroporto do Montijo e acabar com monopólio da ANA/Vinci

CEO do grupo Ryanair deixou duras críticas ao aumento das taxas nos aeroportos nacionais, apontando que países como Espanha, Itália e Grécia estão a reduzir os custos. E defendeu que a Portela pode ganhar mais 10 milhões de passageiros por ano (para 40 milhões) com "poucas mudanças".

A Ryanair enviou uma mensagem ao próximo Governo que sair das eleições antecipadas de 10 de março: abram o aeroporto do Montijo, mas com uma gestora que não seja a ANA - Aeroportos de Portugal, detida pelos franceses da Vinci.

Apesar da concessão detida pela Vinci, a companhia aérea irlandesa de baixo custo vai mais longe e exige ao novo Governo que "acabe com o monopólio" da empresa francesa sobre os principais aeroportos nacionais.

"Abram o Montijo, mas entreguem a outro operador de aeroportos para termos concorrência aqui em Lisboa. Se entregarem a infraestrutura à ANA, não vai ter incentivo para abrir o Montijo, porque pode aumentar as taxas na Portela em 17%. Vamos abrir o Montijo, mas gerido por outro operador de aeroportos, que não sejam os monopolistas franceses da ANA", disse o CEO do grupo Ryanair em entrevista ao Jornal Económico.

"Temos tido problemas com a ANA nos últimos quatro/cinco anos. Continuam sem expandir o terminal 2, que pode ser expandido. Continuam a arranjar barreiras artificiais na capacidade porque querem aumentar os custos. A nossa mensagem para o novo Governo é que Portugal tem espaço para crescer. Portugal precisa de ter custos mais baixos nos aeroportos como Espanha ou Itália, que estão a baixar as taxas", acrescentou na entrevista que teve lugar na terça-feira em Lisboa.

A Ryanair anunciou ontem que vai cancelar um dos dois aviões na Madeira a partir de janeiro de 2024 e reduzir voos para Porto e Faro no verão do próximo ano, devido às subidas das taxas aeroportuárias. A empresa já encerrou a sua base durante o inverno em Ponta Delgada, nos Açores. Na Madeira, a companhia irlandesa eliminou um avião e só irá manter outro, depois de conversações com o Governo regional.

A ANA vai aumentar as taxas da seguinte maneira: Lisboa (17%), Faro (12%), Porto (11%), Ponta Delgada (9%), Funchal (6%).

"Portugal e o novo Governo precisam de uma estratégia para o turismo. Portugal tem de competir com outros destinos na Europa. Isso signifca que é preciso reduzir as taxas de aeroporto. A Ryanair vai comprar quase 400 aviões ao longo da próxima década. Quantos destes vão ficar sediados em Portugal? Zero. Estamos a tirar aviões de Portugal, e não vemos nenhuma razão para que o tráfego ou o turismo em Portugal não aumente para o dobro na próxima década, se conseguirmos colocar mais aviões em Lisboa", sublinhou.

"Se abrirem o Montijo, podemos facilmente colocar lá 5 a 10 aviões no espaço de um ano ou dois", garantiu Michael O'Leary.

"A minha mensagem para o novo Governo é: acabem com o monopólio, abram o Montijo. Parem de fazer relatórios estúpidos que vão concluir todos o mesmo. Se fosse um projeto do zero ou uma reserva natural, eu perceberia. Mas já é um aeroporto, já lá está. Só é preciso construir o terminal. E essa é a tragédia, é que quando Portugal precisa de mais empregos, mais turismo, mais crescimento, está a perder para aeroportos com custos mais baixos aqui ao lado, como em Marrocos e em Espanha", de acordo com o

Por seu turno, o administrador responsável pelas Operações, Jason McGuiness, destacou que Portugal "não tem uma estratégia para aumentar o turismo. Está tudo a ser feito numa folha de Excel em Paris. Não querem saber da economia portuguesa, dos postos de trabalho, da indústria do turismo. Espero que o próximo Governo acabe com o monopólio da Vinci. Eles estão interessados em extrapolar os lucros do seu monopólio".

De regresso a Michael O'Leary, o CEO deixou críticas a António Costa, considerando que demonstrou "não ter visão". "Falhou durante quatro anos em tomar medidas para o Montijo. Qualquer outra cidade europeia adoraria ter um segundo aeroporto. Lisboa tem e ainda não o abriu. São sempre mais desculpas, mais relatórios ambientais, mais estudos. Faltou-lhe atitude para tomar decisões para principal indústria de Portugal que é o turismo e que transformou Lisboa, que tem sido um dos destinos com maior crescimento nos últimos anos em city breaks", afirmou, referindo-se às escapadinhas de poucos dias.

Sobre a possibilidade de ficar com mais slots em Lisboa no futuro, isso seria interessante para a companhia, mas considera que não haverá slots disponíveis num futuro próximo.

"A ANA diz que a capacidade de Lisboa está preenchida com 24/25 milhões de pessoas, abaixo dos 30 milhões de passageiros. O aeroporto de Gatwick (Londres) tem 60 milhões de passageiros por ano também com uma pista. Dublin tem 35 milhões de passageiros por ano. É possível obter mais capacidade da infraestrutura existente. Não existe um problema na capacidade do terminal", afirmou.

Sobre as medidas anunciadas para a Portela - como o fim dos jatos ou dos voos militares -, o responsável disse que ainda não as estudou, mas considera que "não existe um problema de capacidade, nem no terminal, nem na pista. As companhias aéreas fazem cada mais check ins online, não é preciso tanto espaço para processar os passageiros. Se acham que a Portela tem um problema de capacidade, abram o Montijo. A ANA não fez nada por isso. O Governo português deveria dar a concessão à Ryanair: nós abrimos o Montijo".

"Mas então os monopolistas franceses teriam concorrência. E teríamos taxas mais baixas em Lisboa e um crescimento do tráfego. É um escândalo como a capacidade está limitada a 30 milhões anuais de passageiros. Com uma gestão competente do aeroporto, aumentaria dos 30 para os 40 milhões com poucas mudanças. Lisboa deveria estar com 40 milhões de passageiros. A Vinci e a ANA estão com a Portela desde 2012. O que fizeram desde então"? questionou Michael O'Leary.