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Rússia esvazia os cofres com guerra na Ucrânia. Até quando vai conseguir aguentar?

O aumento das despesas tem levado o Kremlin a recorrer ao fundo soberano, que recuou 50% desde o início da guerra. Petróleo continua a gerar receitas, mas pode não ser suficiente. Até quando vai aguentar o 'porquinho' de Vladimir Putin?

A guerra na Ucrânia está a esvaziar os cofres russos. O fundo soberano russo (NWF) perdeu 50% das suas reservas para 55 mil milhões de dólares desde o dia 24 de fevereiro de 2022, quando os tanques russos invadiram a Ucrânia.

A prioridade tem sido usar este dinheiro para financiar o Orçamento do Estado e as empresas públicas. Parte das receitas com a venda de petróleo e gás revertem para este fundo que tem o objetivo de servir como bóia de salvação do país em momentos de necessidade.

Em fevereiro de 2022, este fundo detinha 113 mil milhões de dólares (equivalente a 6,6% do PIB do país), tendo recuado para os 55 mil milhões (2,7% do PIB) desde então. Ao mesmo tempo, o país conta com 300 mil milhões de dólares de reservas retidas no estrangeiro.

Há mais despesas a caminho: o Orçamento do Estado para este ano prevê gastos de 1,3 biliões de rublos (12 mil milhões de euros) , com mais 900 mil milhões de rublos (8,9 mil milhões de euros) para projetos e empresas, segundo as contas da "Reuters". Só em 2023, o Governo tirou 3,46 biliões de rublos do NWF para cobrir despesas do OE e mais um bilião para outros gastos.

Gigantes asiáticos compram tudo

A Rússia vendeu quase todas as suas exportações de petróleo para a China e a Índia em 2023. Parte deste petróleo é refinado para gasóleo e gasolina e é vendido novamente para o ocidente.

O petróleo está a ser transportado por uma frota-fantasma de petroleiros, que desligam os sistemas de localização para operarem debaixo dos radar. Esta frota-fantasma deu origem a uma nova classe de traders que fazem a ponte entre a Rússia e os compradores. Com cada petroleiro a transportar o equivalente a um milhão de barris, um trader ganha entre 10-15 milhões de dólares por carga, segundo a "Bloomberg".

Os dois gigantes asiáticos receberam 90% da exportação de Moscovo, o que serviu para compensar a quebra nas vendas para a Europa: de um peso de 40-45% para 4-5%.

"Os principais parceiros na situação atual são a China, cuja quota subiu para 45-50% e a Índia. Antes, não havia envios para a Índia, mas em dois anos a quota subiu para 40%", afirmou o primeiro-ministro-adjunto Alexander Novak no final de 2023.

O preço certo

Os especialistas alertam que uma eventual descida dos preços do petróleo vai afetar diretamente o fundo.

Se o preço do barril recuar de 65 para 60 dólares, o NWF vai perder mais um bilião de rublos, nas contas de Sofya Donets da Renaissance Capital.

Por outro lado, com o barril a 50 dólares este ano, o Kremlin deverá precisar de retirar mais dois biliões de rublos ao fundo de emergência, estima Yevgeny Suvorov do CentroCreditBank.

"Neste cenário, vamos aproximar-nos da exaustão das reservas no início de 2025. De forma simples, a Rússia já não tem seguro contra os preços baixos do petróleo", disse Suvorov à "Reuters".

Recorde-se que o preço do barril russo está a ser vendido com desconto fruto das sanções impostas: o Brent tem estado a negociar nos 82 dólares, com o barril de Urals nos 74 dólares.

O ministro das Finanças russo disse em dezembro que não tinha a intenção de colocar o NWF em zeros.

"Se virmos o balanço a recuar, vamos tomar outras medidas para equilibrar o orçamento", afirmou Anton Siluanov.

Já Elina Ribakova, do Peterson Institute for International Economics e da Kyiv School of Economics (KSE), aponta que o NWF ainda está para durar.

"Fizeram o trabalho de casa para dar prioridade aos gastos de guerra sobre os gastos sociais e produzir um ajustamento orçamental mais severo para se isolarem da pressão do Ocidente", começou por dizer à "Reuters".

"O preço do barril nos 80 dólares é bastante confortável para a Rússia. Talvez nos 60-70 dólares comecem a sentir algum efeito, mas não podemos falar de crise se a Rússia estiver a vender petróleo acima dos 60 dólares", argumentou.

A indústria russa expandiu-se pelo terceiro ano consecutivo em 2023, registando um crescimento de 3,5%. As fábricas russas estão a produzir mais bombas, armas, aviões, motores para rockets, navios, e veículos de combate, segundo a "Bloomberg".

Mas também está a obter armas de aliados, como o Irão e a Coreia do Norte, incluindo dois milhões de obuses de artilharia e mísseis balísticos.

A Ucrânia corre contra o tempo para obter mais armas para proteger as suas cidades. Já o apoio financeiro dos EUA e da União Europeia tem estado envolvido por disputas políticas.

O país também sofreu uma queda de 1,3% na sua indústria extrativa (mineração, petróleo e gás) , o que aconteceu devido a um corte voluntário na produção de petróleo, alinhado com os parceiros da OPEP+. Em relação a números específicos, o país deixou de divulgar dados da produção de petróleo em 2023.

Drones são ameaça

Uma ameaça à indústria petrolífera russa são os drones ucranianos. Desde o início de 2024 que já atacaram refinarias russas nos mares Báltico e Negro.

Num dos ataques, drones transportando cada um cinco quilos de explosivos voaram mil quilómetros para atacar a refinaria de Ust-Luga.

Nas contas do think tank norte-americano Carnegie, existem 18 refinarias que produzem mais de metade dos produtos petrolíferos russos (3,5 milhões de barris diários) que são alvos possíveis.

O Carnegie destaca que a exportação de produtos petrolíferos gera poucas receitas face ao petróleo.

Por outro lado, o gasóleo e gasolina são essenciais tanto para a economia russa como para a guerra na Ucrânia, alimentando carros, camiões, tanques, navios, aviões.