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Ricardo Borges dos Santos: “A economia social é uma alternativa forte, eficiente e equitativa para resolver o problema das pessoas”

O diretor do Centro de Transferência de Conhecimento da UAL, explica ao JE o propósito e as metas do Observatório da Economia Social Portuguesa, agora constituído: construir uma via alternativa para além da economia pública e privada e facilitar a investigação da temática, buscando a criação de novos modelos económicos.

A tão apregoada ideia neoliberal de que “não há alternativa” ao modelo económico-social dominante não passa de uma ideia feita. Ricardo Borges dos Santos, que dirige e investiga no Centro de Transferência de Conhecimento (CTC) da Universidade Autónoma de Lisboa (UAL), não só sabe que a alternativa existe, pois estuda-a, como está a impulsionar um projeto que se propõe divulgá-la de forma acessível para todos. 

O Centro de Transferência de Conhecimento da UAL, em parceria com a Cooperativa António Sérgio (CASES) e o Centro de Estudos de Economia Pública e Social (CIRIEC), organismo científico que junta associações e redes nacionais de investigadores e outros atores da economia coletiva de dezenas de países no mundo inteiro, estão a criar o OBESP – Observatório da Economia Social Portuguesa, dedicado ao estudo, análise e promoção da economia social no país e único no género. Além de Ricardo Borges dos Santos, integram a comissão coordenadora Eduardo Graça, pela CASES e Manuel Belo Moreira, do Ciriec Portugal.

“A ideia é centralizarmos tudo o que tem a ver com a economia social”, diz ao Jornal Económico Ricardo Borges dos Santos. “Queremos que o Observatório seja não só um instrumento de referência para que quem quer, possa saber o que se passa na economia social, mas também dar a conhecer às pessoas que esta é de facto uma alternativa forte, eficiente e equitativa para resolver os seus problemas”, afirma. “A economia social, em particular o sector cooperativo, é uma via alternativa e tem resultados mais eficientes e melhores para a sociedade e para as pessoas e não tem sido utilizada”, acrescenta o investigador da UAL.

 

Um estudo realizado já este ano por Ricardo Borges dos Santos, com base em dados do período entre 2010 e 2019 num universo de mais de três milhões de observações, cujos resultados o investigador revela ao Jornal Económico, conclui que em Portugal ”as empresas cooperativas pagam, em média, salários superiores, entre 5% a 10% às empresas fora do sector da economia social”. Também conclui que "nas cooperativas as disparidades salariais entre homens e mulheres são inferior às das empresas fora do sector da economia social, como sociedades anónimas, por exemplo", acrescenta.

Este estudo é apenas um exemplo do muito que, a partir de agora, poderá ser encontrado no OBESP, que será um ponto de confluência de dados, investigações e tendências, procurando compreender o papel e o impacto das organizações sociais na economia nacional. A sua missão é divulgar tudo o que é feito na economia social, quer em Portugal, quer noutros observatórios e noutras instituições e associações e entidades que tenham que ver com a economia social na América Latina, na Europa, na Ásia e por aí fora.

No fundo, o OBESP pretende construir uma via alternativa para além da economia pública e privada e facilitar a investigação da temática, buscando a criação de novos modelos económicos.

O Observatório, em parceria com académicos, especialistas e entidades do setor, pretende impulsionar a criação de políticas informadas e estratégias sustentáveis para a economia social. O seu trabalho é crucial na identificação de oportunidades e desafios, garantindo que a economia social continua a crescer, inovar e fortalecer a coesão social em Portugal, afirma Ricardo Borges dos Santos

O projeto, que tem como principal montra um site, foi apresentado em primeira mão durante a Conferência “Economia Social: Tendências e Perspetivas”, que se realizou na semana passada, na UAL, em Lisboa, e será, em breve, lançado oficialmente.

O sector da Economia Social emprega, em Portugal, 234.886 pessoas, o que equivale a mais de 6% do total do emprego remunerado em Portugal, segundo dados do INE, em parceria com a CASES. No que respeita ao peso relativo da economia social na economia nacional (VAB ou PIB), Portugal apresenta a terceira posição mais elevada entre os sete países da União Europeia com informação disponível, com cerca 3,2% da riqueza produzida.

"São os valores e princípios éticos da economia social, que promovem o respeito e protegem a dignidade humana, independentemente da sua origem, raça, género, religião, orientação sexual, ou qualquer outra característica, protegendo os direitos humanos e oferecendo igualdade de oportunidades", diz Ricardo Borges dos Santos ao JE. A alternativa existe.