Já está praticamente no fim mais uma temporada de resultados nos Estados Unidos (EUA). Esta semana esperam-se apenas as contas trimestrais das tecnológicas Zoom e Nvidia para uma despedida mais a sério da earnings season na maior economia do mundo, uma vez que nos últimos dias, com as apresentações financeiras das gigantes do retalho, o calendário das do segundo trimestre ficou praticamente cumprido. A principal – e melhor – notícia é que, no geral, as empresas superaram as previsões de Wall Street.
Até sexta-feira, antes da abertura da bolsa de Nova Iorque, mais de 90% das cotadas do S&P 500 tinham publicado os últimos resultados trimestrais, mais precisamente 468. Segundo os analistas do Bankinter, a queda média dos lucros por ação (EPS – Earnings Per Share) é -6,4% quando o esperado, antes do arranque desta temporada, era -8,9%. O saldo qualitativo mostra que 81% bateu as expectativas, só 14% desiludiu e 5% manteve-se em linha com o previsto.
“O número de empresas que superou as estimativas de vendas e lucros foi ligeiramente melhor do que a média histórica, mas os preços das ações não reagiram em conformidade com os resultados apresentados, pois é possível que muitas das boas notícias já estejam incorporadas nos preços. O segmento de hotéis, restaurantes e lazer foi o que mais cresceu, com um crescimento de 246% em relação ao EPS. Também é de destacar as componentes automóveis (+116%), que mais do que duplicou o crescimento dos lucros do ano anterior”, detalha Henrique Tomé, analista da XTB, ao Jornal Económico (JE).
Então, com uma época de resultados que surpreende pela positiva, porque é que o S&P 500 tem tido um desempenho fraco nas últimas semanas? “Acreditamos que a principal razão se prende com a evolução das taxas de juro do Governo, particularmente as taxas de juro longas. Na maturidade de 10 anos, as yields dos EUA subiram cerca de 30/50 pontos base nas últimas semanas, pressionando os mercados acionistas”, diz António Seladas, fundador da AS Independent Research, ao JE.
A semana passada foi marcada pelo sector do retalho e houve números importantes a reter para perceber o comportamento do consumidor norte-americano com as idas (e despesas) na Walmart, Home Depot e Target. Enquanto a Home Depot e a Target viram as vendas caírem ou cortaram a perspetivas para o ano, mencionando que a subida da inflação ainda aflige as carteiras de muitos consumidores, a Walmart não só teve 6% mais receitas em loja como as vendas online aumentaram significativamente (+24%), sinalizando que as pessoas estão a deslocar-se mais a esta cadeia para comprar bens essenciais.
“Apesar dos bons resultados, o facto de os consumidores estarem a fazer cedências para redefinir as suas prioridades de despesa sugere que poderá ser necessária alguma prudência no futuro”, alerta Henrique Tomé.
“Há empresas que são consideradas amostragens do estado dos mercados. Hoje em dia, olha-se para a Apple, para a Microsoft ou para a Alphabet, entre outras. A nível sectorial, o consumo discricionário deu cartas e liderou os ganhos e receitas e o da energia ficou em último, com os preços baixos do petróleo a justificarem esta posição, apontam dados da Factset", destaca Carla Maia Santos, responsável de Vendas da Forste, ao JE.
Retalho à parte, em termos gerais, espera-se que os lucros do segundo trimestre nos EUA tenham recuado 3,8% em relação ao ano anterior e depois comecem a melhorar até que no terceiro trimestre os resultados das empresas S&P 500 cresçam 1,3% face ao período homólogo, de acordo com a Refinitiv. Nos próximos dias as atenções estarão mais viradas para Jackson Hole.