Que está Israel a pensar fazer como retaliação?
Ninguém sabe, mas todos sabem que irá haver uma. Em termos oficiais, o gabinete de crise liderado pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu diz que a retaliação será dolorosa mas não desencadeará uma guerra regional. Uma afirmação que tem pouco cabimento, dado que Israel – sabendo o que vai fazer – não sabe qual será a reação àquilo que está a implementar. O Irão já deu mostras de ter paciência com as ações de Israel – o ataque de 1 de abril ao consulado iraniano em Damasco, na Síria, não foi propriamente o primeiro que visou interesses do Irão em países terceiros. E deu também mostras de que não estava interessado, na noite de sábado passado, em retaliar com um banho de sangue. Mas os desígnios do Estado hebraico são insondáveis.
Há alguma garantia de que a próxima ação de Israel não desencadeará uma guerra no Médio Oriente?
Não. Mas há um bom indicador: os Estados Unidos já fizeram saber, segundo as agências internacionais, que não vão participar nessa retaliação. Isso coloca duas questões: dificuldades acrescidas de Israel em termos de armas; e um aviso desde a Casa Branca de que o Estado hebraico pode não contar com a concordância de Washington se vier a verificar-se alguma desproporcionalidade na resposta. Desproporcionalidade que é, precisamente, a maior queixa da comunidade internacional ao que se passa com a invasão de Gaza desde a segunda semana de outubro passado.
O que fará a comunidade internacional?
Aparentemente, pouco mais que o que tem feito até agora: pedir contenção. Os meandros da diplomacia internacional são normalmente insoldáveis, mas se pedir contenção é a única ação pública que os países ocidentais conseguem gerar face ao que está a passar-se no Médio Oriente, parece pouco. Resta ainda o facto, como vários analistas têm dito, que a pouca assertividade com que Estados Unidos e União Europeia comentaram o ataque de Damasco foi o esteio para Israel continue a achar-se impune face a todas as suas ações, por muito impactantes que sejam.
Que ações está a tomar Israel desde sábado?
Para além do muito que não se sabe, o gabinete de crise tratou de abrir uma via diplomática com a Rússia – considerava um aliado do Irão. Mas convém não esquecer que a aliança entre Irão e Rússia não é propriamente uma certeza: nas últimas décadas, essa aliança tem passado por momentos de convergência, mas também de divergência. De qualquer modo, o conselheiro de Segurança Nacional de Israel, Tzachi Hanegbi, esteve em conversa com o líder de segurança russo, Nikolai Patrushev, com que discutiu o aumento das tensões no Médio Oriente revelou a agência de notícias russa Interfax. Patrushev observou a necessidade de todas as partes mostrarem moderação para evitar uma nova escalada do conflito, refere ainda a mesma fonte.
O ambiente interno é confortável para Netanyahu?
Cada vez menos. É difícil acreditar na teoria segundo a qual o primeiro-ministro tem interesse em manter uma guerra para se colocar longe das consequências os casos que tem em tribunal. Para além dos casos em continuarem as suas tramitações – o primeiro-ministro tem sido chamado às audiências – essa razão seria com certeza intolerável para os israelitas. Mas, como dão nota os jornais do país, o apoio a Netanyahu está a diluir-se. Esta segunda-feira, o líder da oposição israelita, Yair Lapid, disse que Netanyahu e o seu gabinete representam uma ameaça para o próprio país e pediu a realização de novas eleições – coisa que não havia feito até agora. Falando após uma viagem a Washington, Lapid disse que a administração norte-americana está "chocada" com o comportamento do governo israelita. "Este governo, este primeiro-ministro, tornaram-se uma ameaça existencial para Israel", disse. "Estive em Washington numa reunião com altos funcionários do governo. Estão estarrecidos com este governo: a irresponsabilidade, a falta de profissionalismo, a gestão fracassada, a ingratidão", afirmou.
Já há consequências económicas da ação de sábado?
As primeiras reações costumam incidir sobre as bolsas e sobre o preço das commodities, principalmente o petróleo. Há hora do fecho desta edição, são inúmeros os índices do mercado de capitais que estão a negociar no lado positivo, mesmo que ligeiro. Os norte-americanos Dow Jones e S&P500 fazem parte deste grupo – assim como o alemão DAX, o francês CAC 40, o espanhol IBEX 35 e a maioria dos índices chineses. O barril de petróleo começou o dia a cotar nos 90,37 dólares e fechou ligeiramente mais caro (90,45 dólares), mas chegou a cotar num pico máximo de 91,15 dólares e num mínimo de 88,73 dólares. Ou seja, há evidências de instabilidade, mas nenhuma de aumento sustentado dos preços. A maioria das consultoras parece ter optado por concluir que há volatilidade nos mercados, mas não uma tendência consistente de aumento dos preços e de queda do valor dos ativos mobiliários. Um exemplo: a ação do Irão gerou temores de mais uma escalada, “mas a ausência de uma crise total na região” leva Gregor Hirt, analista da Allianz Global Investors, a afirmar que “achamos que os impactos sobre os mercados financeiros serão contidos”. O analista admite que “o receio é que a ação do Irão possa levar a uma nova escalada perigosa na região, justificando um aumento da probabilidade de uma crise total” – mas, por outro lado, há alguns elementos “tranquilizadores”: os Estados Unidos, o país aliado mais importante de Israel, disse que não vai participar de qualquer retaliação”.