A Liga dos Campeões vai mudar já a partir da próxima época (foi alterado o modelo competitivo com a entrada de mais quatro clubes – de 32 para 36 emblemas e com os clubes a fazerem oito jogos na primeira fase da competição) e com essa “revolução”, haverá mais dinheiro à disposição dos clubes, com a UEFA (ainda com a Superliga como ameaça) a ter que “abrir os cordões à bolsa”.
O jornal italiano “Calcio e Finanza” foi o primeiro a avançar com uma estimativa do que poderá representar essa enorme alteração no que diz respeito à forma como os clubes são recompensados por chegar à Liga dos Campeões: 2,5 mil milhões de euros deverão estar destinados aos cofres dos 36 clubes que se qualifiquem para a prova milionária (mais 500 milhões do que na época atual), com especial ênfase para um maior bónus pela participação e um generoso prémio pelo resultado final. Já quanto a receitas, espera-se que a UEFA arrecade mais 40% do que na época anterior.
Com os clubes portugueses cada vez mais dependentes do dinheiro da UEFA para equilibrar as suas operações e em resultado da Liga nacional ter perdido uma posição de “Champions” para a próxima época (em virtude da descida de um lugar no ranking da UEFA), o atual mercado de Inverno reveste-se de especial importância para os clubes com a dúvida existencial: vender bem agora para acautelar uma eventual não qualificação para a Liga dos Campeões ou não negociar e perder a oportunidade de negócio? E nessa equação, que consequências desportivas pode ditar a vendas das principais peças neste mercado.
Menos vendas no verão obriga a esforço no inverno?
Os clubes da Primeira Liga perderam quase 350 milhões de euros em receitas, na janela de transferências deste verão, em comparação com os valores atingidos no mesmo mercado da época passada.
De acordo com os dados recolhidos pelo site “Transfermarkt”, as receitas com transferências dos clubes portugueses, na última janela de transferências, sofreram uma quebra de 343,71 milhões de euros face ao mesmo período da época 2022/23.
Assim, os clubes da Liga portuguesa atingiram um montante de 287,13 milhões de euros na venda de passes de futebolistas, um decréscimo significativo face ao mesmo período da época passada, janela em que essas receitas atingiram 630,84 milhões de euros.
De resto, o montante de 630,84 milhões, garantidos em transferências, foi o maior encaixe de sempre da Liga portuguesa em apenas uma janela de transferências, suplantando o anterior recorde atingido na época 2019/20: 524,60 milhões de euros em vendas. De resto, nas últimas dez épocas, só por quatro ocasiões a Liga ficou abaixo dos 300 milhões em vendas.
Três grandes “a mexer”
Luís Cassiano Neves, sócio fundador da 14 Sports Law, escritório de direito desportivo português que no verão passado esteve envolvido em negócios no valor de 100 milhões de euros nas melhores ligas do mundo, antevê para o JE aquele que poderá ser o mercado de Inverno mais importante dos últimos anos na Liga nacional.
Para este especialista, é muito provável que os três “grandes” preparem algumas movimentações em janeiro no sentido de fortalecer os seus plantéis e prepararem-se para várias contrariedades.
“O Sporting segue na liderança mas é público é que a SAD pretende afinar a máquina de Ruben Amorim e portanto, é possível que haja vaga no meio-campo e na defesa”, refere Luís Cassiano Neves, que antevê ainda que os “leões” possam estar a preparar “saídas pontuais” neste mercado.
Quanto ao SL Benfica, o sócio fundador deste escritório de advogados considera que “tem também acertos a fazer em face daquilo que foi uma prestação preocupante na Liga dos Campeões e que se pode alastrar para a Liga Europa. O SL Benfica vai mexer de certeza e vamos ver em que os sectores irá fazê-lo”.
Já em relação ao FC Porto, Luís Cassiano Neves admite que a SAD “está num contexto de alguma dificuldade financeira que é reconhecida publicamente e está num cenário de preparação de eleições” mas não será por isso que os “dragões” não vão deixar de estar atentos a alguma oportunidade no mercado de janeiro “já que este é um período de ajustes”.
Gonçalo Inácio, João Neves e Diogo Costa: candidatos à saída
Sendo o mercado de Inverno um momento para retificar o plantel, este é também um período em que os clubes tentam compensar as contas da SAD com verbas que não vão entrar em virtude de uma prestação menos boa na Liga dos Campeões. A título de exemplo, A eliminação do SL Benfica representou uma perda de 28,4 milhões de euros em receita da UEFA, em comparação aos 71,6 milhões de euros que os ‘encarnados’ tinham encaixado na temporada anterior.
João Neves, médio da formação do clube da Luz, é o jogador com mais mercado no plantel do SL Benfica. Com uma cláusula de 120 milhões de euros e alguns clubes ingleses com vontade de reforçar antecipadamente os seus conjuntos, este médio poderá estar na “porta de saída”. Luís Cassiano Neves, que esteve presente no dérbi na Luz, contou ao JE como os inúmeros agentes ficaram “impressionados com o que viram nessa noite” e considera mesmo que a prestação menos conseguida do SL Benfica na “Champions” não vai prejudicar o valor de mercado do futebolista. Além do jovem médio, também António Silva está na calha, apesar da época menos fulgurante que está a desempenhar.
Ainda quanto a saídas, este especialista considera que “o Sporting tem jogadores valorizados” e portanto “há possibilidade de saídas”. Já nos rivais, destaca que isso “não é tão patente no SL Benfica e FC Porto” sendo que nestes dois clubes “há jogadores em final de contrato e não se prevê que estas SADs possam ganhar dinheiro com jogadores que poderão sair livres daqui a seis meses”.
“É um mercado em que os jovens talentos dos grandes estão na montra: Gonçalo Inácio, António Silva e João Neves, Diogo Costa e Pepê. São jogadores que podem ser alvo de uma operação relâmpago de um grande europeu que chegue e bata a cláusula ou próximo disso. Aí, os clubes têm que se conformar no sentido em que sabem que têm de vender para equilibrar a sua operação e a sua tesouraria”, explica Luís Cassiano Neves.
No Sporting CP, este advogado olha para valores como Gonçalo Inácio, Ousmane Diomande e Viktor Gyokeres e vê grandes possibilidades de excelentes negócios já em janeiro, com destaque para o avançado sueco que, “pela intensidade que tem mostrado em Alvalade antevê-se uma expectativa de venda forte”. Já quanto ao FC Porto, e com Taremi a terminar contrato, é na baliza e em Diogo Costa que está o “grande valor” deste plantel, se bem que Pepê também possa reunir interessados nas melhores ligas da Europa.
Sauditas menos ativos neste Inverno?
Se o mercado que se abre em janeiro for movimentado, em muito se vai dever à capacidade de negociação dos clubes da Premier League e da Arábia Saudita. Luís Cassiano Neves faz depender daqueles que são “os dois maiores polos do dinheiro no futebol mundial” a capacidade de fazer com que a cadeia de transferências se mexa neste inverno.
Destaca o advogado que “Portugal é juntamente com o Brasileirão um dos campeonatos que mais valor líquido cria entre o que gasta e o que recebe em termos de transferências” e que o mercado saudita “está muito atento” à liga portuguesa.
Estando a quota de estrangeiros preenchida, é de esperar que a Arábia Saudita seja menos exuberante do que no mercado de verão (onde foi a terceira que mais investiu com quase 897 milhões de euros. “Os clubes sauditas teriam que fazer cair a inscrição de um estrangeiro para contratar outro jogador proveniente de fora”, recorda.
Já a Premier League, que gastou 2,8 mil milhões de euros em contratações no verão, pode voltar ao ataque em Portugal. “Clubes como Newcastle, Manchester United, Chelsea, Manchester City, Arsenal, West Ham, Tottenham, Fulham podem mexer-se neste mercado”, conclui o especialista em entrevista ao JE