R. Thyagarajan, conhecido por RT no meio empresarial, apresentar-se-ia, certamente, nos lugares cimeiros da lista de homens e mulheres de negócios que distribuíram a fortuna pelos seus trabalhadores - ou por parte -, caso ela existisse. Isto porque o empresário indiano, apelidado outlier por uns e game changer por outros, doou 750 milhões de dólares (684,07 milhões de euros) a um grupo de funcionários do conglomerado indiano que ajudou a fundar em 1974.
Porém, será a expansão do acesso financeiro às pessoas excluídas do sistema bancário na Índia a divisa do percurso empresarial do fundador do Shriram Group, que emprega atualmente 108 mil pessoas e cuja atividade passa pelo sector dos seguros à corretagem de valores.
Por que é R. Thyagarajan, que diz que "emprestar aos pobres é uma forma de socialismo" e goza uma vida aparentemente modesta, considerado um dos financeiros mais idiossincráticos do mundo?
Assumindo uma visão dissidente da banca tradicional, R. Thyagarajan construiu uma fortuna concedendo empréstimos a pessoas com baixos rendimentos, cujos perfis enquanto mutuários não eram considerados pelos bancos.
Em entrevista à ‘Bloomberg News’, o empresário indiano diz que sempre teve uma mente analítica e orientada para a igualdade.explicou que entrou no sector para provar que emprestar dinheiro a pessoas sem historial de crédito ou rendimentos regulares não é tão arriscado como se pensa.
Oferecendo uma alternativa às taxas ao sistema bancário inacessível a uma parcela considerável da população, R. Thyagarajan tentou demonstrar que o negócio que iniciou há várias décadas pode ser seguro e lucrativo, apesar de ser baseado num modelo não convencional de financiamento de terceiros.
Os empréstimos da Shriram Group baseavam-se em taxas elevadas para os padrões mundiais, ainda que abaixo das restantes, com taxas de juro "de 30%-35%", numa primeira fase, e, mais tarde, de "17%-18%", detalhou na mesma entrevista, rejeitando, porém, uma abordagem baseada na caridade, mas sim alinhada com a "importância do empreendedorismo do sector privado" e com a "fé nos princípios do mercado".
De acordo com R. Thyagarajan, o Shriram Group cobra mais de 98% das dívidas a tempo e, além disso, o departamento local da S&P Global Ratings entende que a empresa toma as decisões corretas em matéria de empréstimos.
À 'Bloomberg News', R. Thyagarajan revelou que se considera "um pouco de esquerda" e que sempre teve uma mente "analítica e orientada para a igualdade".
"Nunca me entusiasmei com o facto de tornar a vida mais agradável para as pessoas que já têm uma boa vida”. Por outro lado, "queria eliminar alguns aspetos desagradáveis da vida das pessoas com problemas”, disse, justificando a declaração anterior.
Quanto à gestão interna do grupo, a empresa adopta uma abordagem particular em relação à remuneração, genericamente abaixo do mercado. Os executivos seniores recebem cerca de menos de metade em relação aos seus pares e os restantes funcionários cerca de 30% menos.
Hoje, Thyagarajan, que cresceu no seio de uma família de agricultores abastados no estado de Tamil Nadu, exerce funções consultivas no grupo criado há quase meio século; a poucos dias de completar 86 anos, o empresário passa várias horas do dia a ouvir música clássica e a ler revistas de negócios ocidentais.
Thyagarajan começou a trabalhar na seguradora New India Assurance Co, sediada em Mumbai, em 1961, tendo passado pelo Vysya Bank e no corretor de resseguros JB Boda & Co, até fundar o Shiram Group em Chennai, no dia 5 de abril de 1974.
Em 2013, o empresário recebeu do governo da Índia o 'Padma Bhushan', o terceiro maior prémio civil do país, na área de comércio e indústria.
A Shriram Finance, a principal empresa do grupo, tem uma capitalização de mercado de cerca de 8,5 mil milhões de dólares (70.400 rúpias, 7,75 mil milhões de euros).
Em julho, o preço das ações do Shriram Group registou um recorde, depois de ter subido mais de 35% em 2023, mais de quatro vezes acima do índice de referência das ações da Índia.