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"O valor mínimo a pagar aos requalificados do Upskill deve aumentar em 2024", diz APDC

A diretora executiva da APDC, Sandra Fazenda Almeida, diz que o programa de requalificação deverá ter melhorias, mas este ano dificilmente superará o de 2022 em termos de pessoas formadas. Prestes a completar 40 anos, a associação está a iniciar as obras da nova sede, no Campo Pequeno.

A APDC - Associação Portuguesa para o Desenvolvimento das Comunicações ou Digital Business Community está prestes a completar 40 anos e prepara-se para abrir as portas da nova sede, no Campo Pequeno, que será dedicada aos 500 associados. Em entrevista ao Jornal Económico, a diretora executiva da associação, Sandra Fazenda Almeida, diz ainda que as comemorações terão um(a) embaixador(a) e que o programa Upskill - que nasce da colaboração entre a APDC, o IEFP e o CCISP (Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos) e diversas Instituições de Ensino superior - deverá refletir o aumento do salário mínimo. 

Estamos no décimo mês de um 2023 que parece ter sido uma espécie de annus horribilis para as tecnológicas. Como é que o caracterizaria? 

Não fazemos inquéritos de conjuntura, portanto o que conseguimos sentir é ao nível de resposta e adesão às nossas atividades. O que sentimos foi que houve uma grande contração no processo de contratação de profissionais de TI [Tecnologias da Informação] este ano e isso refletiu-se no nosso programa Upskill. Tínhamos a expectativa de que este ano pudéssemos até superar os números do ano passado, em que foram cerca de mil pessoas, e ainda estamos com 600 e tal pessoas. O programa Upskill termina este ano, portanto estamos agora a renegociar novamente, a rever, com o Governo a continuidade do programa.

É expectável que haja uma nova edição?

Sim. Acreditamos que pode haver aqui uma continuidade. Eventualmente, pode-se reequacionar alguns dos termos, por exemplo os montantes mínimos de pagamento. Nos últimos três anos, era 1.200 euros. Ou seja, quando as pessoas terminavam a formação, tinham de ser contratadas a partir de 1.200 euros, com subsídio de alimentação incluído, e acredito que no próximo ano, tendo em conta o aumento do salário mínimo e a escassez de recursos humanos, possa haver um aumento deste valor mínimo. Acredito também que possa haver um reforço de ambição no número de pessoas requalificadas.

Poderá haver outros ajustes?

Também estamos a tentar trabalhar num Upskill para a Administração Pública, que às vezes tem mais dificuldades de contratação direta, no sentido de, ao terminar a formação de nove meses, abrir logo um ciclo, um contrato individual de trabalho, para acolher estas pessoas. Sei que está a haver algum trabalho de pesquisa para ver qual a melhor forma, do ponto de vista do funcionamento da Administração Pública, de dar resposta ao acolhimento destas pessoas. A única entidade que temos tido a trabalhar connosco desde o início é a ESPAP - Entidade de Serviços Partilhados da Administração Pública. A Teresa Girbal [vice-presidente da ESPAP] está a tentar ajudar-nos a desenvolver este modelo para a Administração Pública. Ainda por cima quando vemos notícias da diferença de remuneração entre o sector público e o privado e se verifica que é superior em cerca de 30% para quem tem o ensino superior… Portanto, pode ser que seja uma nova linha de atuação do Upskill no próximo ano.

Num sentido completamente diferente do horribilis, o que sentimos foi a explosão da Inteligência Artificial (IA). Já estava no mercado há muitos anos só que as pessoas não tinham uma perceção tão óbvia do impacto e agora, com a generalização dos ChatGPT e também do Bard [da Google], que já está disponível para qualquer utilizador, começam a ganhar confiança na tecnologia e percebem o apoio destas ferramentas. Até nós. Na nossa última revista, tivemos o designer a fazer não sei quantas propostas de imagens geradas por IA. Já nem queria ir a bancos de imagens. Acho que, nesta lógica de experimentação, houve um grande crescimento. Antecipo que o potencial de utilização será muito superior nos próximos anos. No outro dia ouvi o professor Arlindo Oliveira a dizer: imaginem quando os contabilistas tiverem IA nos seus programas de contabilidade que otimizam logo todas as declarações fiscais ou quando de facto usarmos a triagem de emails com propostas de resposta.

No início deste mês, a vice-presidente da Comissão Europeia para os Valores e Transparência disse ser contra a “paranoia” ou demasiada restrição na regulação da IA generativa, porque o receio extremo desta tecnologia pode impactar negativamente a inovação. Concorda?

Acho que existe um consenso, pelo menos ao nível empresarial, de que o excesso de regulação impede a inovação. Às vezes, a Europa tem padecido de alguma inovação pelo facto de querer legislar, regular. Muitas vezes, a regulamentação impede a própria progressão porque cria entraves. Temos uma oportunidade enquanto Europa – e acho que o mundo está à espera - de regular a utilização da IA, nomeadamente, como dizia Yuval Harari [filósofo israelita e autor do livro “Sapiens”] quando cá esteve, tudo o que são produtos gerados por IA. Os consumidores têm de ser informados, porque não faz sentido a as pessoas não saberem que estão a obter resultados de IA. Não tem impacto no funcionamento propriamente dito, mas na forma de comunicação do esclarecimento. Ele também defende que devemos ter áreas de experimentação, testar bem antes, antes de massificar. Não devemos ser nós, Portugal, nem nenhum país, individualmente, a traçar as suas próprias regras. Estamos todos a trabalhar numa lógica integrada com a União Europeia.

Se pudesse escolher a medida ideal para o Orçamento do Estado, nesta área das TIC, qual seria?

A criação de um sistema de certificação digital por níveis para os trabalhadores da Administração Pública, que seria obrigatório para todos os trabalhadores que desejassem aceder a um emprego ou ser promovidos. Esta certificação seria obtida através da conclusão de cursos de formação ou da realização de provas de avaliação. A medida incentivaria os trabalhadores a investirem na formação digital, o que contribuiria para melhorar a qualidade do serviço público e permitiria à própria Administração Pública continuar a investir na transformação digital dos seus processos e serviços, sem recear não ter trabalhadores capacitados.

A APDC completa 40 anos em 2024. Qual é o plano de atividades?

O próximo ano será em grande para a APDC. Já vendemos as antigas instalações e comprámos novas, no Campo Pequeno. As obras irão começar em breve. Será uma nova sede aberta aos associados – temos cerca de 125 institucionais e 400 individuais - para os poder acolher numa reunião de trabalho em Lisboa ou nos seus pequenos eventos. Teremos um pequeno auditório e estúdio para gravar podcasts, videocasts e webinars. Ao longo do ano, uma das propostas que está em cima da mesa é convidamos uma pessoa para ser comissária das comemorações, alguém que nos ajude a pensar nas várias iniciativas e mobilizar as pessoas. Já fizemos o convite, mas como ainda não foi aceite não podemos revelar.

Promoveram mais um “Evolve - Digital Transformation Summit”, sob a coordenação científica do professor Paulo Cardoso Amaral. O que mudará no formato daqui para a frente?

Estamos a considerar expandir para o Porto, portanto organizar dois Evolve: um em Lisboa e um no Porto. Criámos o Evolve para dar resposta a alguns temas que não estávamos a abordar no congresso, porque o reformulámos e deixámos de ter a abordagem ao impacto da tecnologia nos sectores de atividade, nas várias instituições. Privilegiámos leituras mais macro e não tanto micro e sentíamos falta disso, de abordar estes estudos de caso. Decidimos manter o evento anual, porque se comprovou que havia uma lacuna na oferta destas iniciativas. As nossas empresas querem dar visibilidade aos estudos de caso de transformação digital que estão a fazer com os seus clientes. Aliás, nem todos são transformação digital, mas apenas de digitalização…. No ano passado, tivemos caso de estudo ligados à indústria e neste já tivemos membros da plateia da edição anterior, como a Delta, a subir a palco, porque ficou “contagiada” depois de ter assistido a um caso. Já temos bebés - ou resultados - deste processo. Refletindo um pouco as temáticas mais discutidas no país e o que se começa a detetar como premente em termos de digitalização, temos dois estudos de caso na área da educação - um com o Instituto Piaget e outro com uma escola secundária de Castelo Branco – e outros de indústria de retalho. Em 2022 foi uma maratona e este ano mais ainda: 17 estudos de caso.