O Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) pode ser o principal impulsionador da admissão das sociedades multidisciplinares em Portugal, uma vez que o país está atrasado na transposição de uma diretiva europeia de liberalização das profissões reguladas e não pode arriscar cometer mais erros e pôr em causa o dinheiro da ‘bazuca’. A ideia foi transmitida por Francisco Mendes da Silva, sócio da MLGTS, Fernando Antas da Cunha, managing partner da Antas da Cunha Ecija, e António Vicente Marques, managing partner da AVM, na conferência Lisbon Law Summit, que se realizou na terça-feira na Faculdade de Direito da Universidade Católica de Lisboa e da qual o Jornal Económico foi media partner.
No entanto, num painel moderado por Márcia Martinho da Rosa, os advogados debateram-se sobre a presença do sector público no PRR. O professor Gonçalo Saraiva Matias referiu que “era importante que o dinheiro fosse mais canalizado para as empresas”, mas salvaguardou que mesmo o capital que será para a Administração Pública refletir-se-á nos privados com os quais contratualizarão equipamentos e serviços. “Há aqui muito trabalho para os advogados, como desenhar os contratos públicos envolvidos e assessorar os negócios”, assegurou o sócio da Saraiva Matias & Associados. “Há uma necessidade do sector público. É preciso é debater se o dinheiro está a ser bem ou mal gasto pelas instituições”, respondeu o advogado Pedro Vaz Mendes.
Já na intervenção de abertura, o bastonário da Ordem dos Advogados (OA) preferiu apontar o dedo ao diploma apresentado pelo PS em outubro: “Foi um ataque político a algumas ordens que incomodavam o Governo”. Luís Menezes Leitão falou ainda do rigor necessário na formação dos futuros juristas: “O advogado tem de se bater de igual para igual com o magistrado, por isso não deve ter uma formação inferior”. Nesse sentido, o ex-bastonário Rogério Alves propôs a criação de um mestrado forense em parceria entre a Universidade e a Ordem. “O acesso à profissão tem de ser livre, mas não tem de ser fácil”, declarou.
Entre o advogado Rui Gomes da Silva, Leonor Costa Freitas, sócia da GPA, Hugo Teixeira, sócio contratado da Abreu, e Inês Palma Ramalho, da Sérvulo, a conclusão foi unânime: a formação dos jovens advogados e a passagem do conhecimento nas sociedades foram os aspetos mais prejudicados pela pandemia. Como tal, um dos temas também em debate foi o employer branding, se está ou não verdadeiramente alinhado com o que os jovens advogados procuram para o futuro.
A coach jurídica Bárbara Eliseu garante que não há diferença entre os que os mais novos e os séniores querem: sucesso, reconhecimento e prestígio. “As sociedades tentam ser cool para atrair e reter talento, mas devem pensar na forma como captam clientes e utilizar o mesmo modelo e motivar os estagiários com tarefas com as quais se identifiquem”, defendeu. Telmo Semião, sócio fundador da CRS, discordou e disse que agora, no acesso à profissão, é mais valorizado o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional. Logo, os escritórios têm de perceber que houve uma mudança de paradigma: não é suposto fazer noitadas se não houver prazos para cumprir, julgamentos no dia seguinte ou operações a ponto de fechar.