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“Próximo Governo deve ter estratégia de investimento industrial”

CEO da Saint-Gobain Portugal defende a promoção de incentivos para estimular o investimento e criar uma rede de empresas industriais competitivas para combater a subida dos custos das matérias-primas.

“Uma estratégia de investimento industrial em sectores-chave para o país”. A ideia – que “deveria estar dentro dos planos de desenvolvimento estratégico do próximo Governo” português, que saia das eleições de 30 de janeiro – foi defendida por José Martos, CEO da Saint-Gobain Portugal, em entrevista ao Jornal Económico (JE). O responsável considera que esta deveria ser umas medidas a implementar para combater o aumento dos custos das matérias-primas cujo valor tem vindo a escalar nos últimos meses e que se tem transformado numa verdadeira crise com efeitos em cascata. “Devem ser promovidos os incentivos necessários para estimular o investimento e criar uma rede empresas industriais competitivas nestes sectores -chave”, realça.

A par deste plano indústrial, salienta o CEO, Portugal deve ter como prioridade prosseguir uma estratégia energética de longo prazo, mas que vise reduzir os custos. “Um país sem baixos custos energéticos não é competitivo”, evitando, deste modo, estar “na total dependência energética do exterior”.

Contudo, o responsável acredita que o crescimento dos preços das matérias-primas que se estão a viver são uma consequência do desequilíbrio entre a oferta e a demanda a nível global e, consequentemente, não será resolvida com mais ou menos apoios do Executivo. “De facto, acredito que o Governo tem poucas ferramentas à mão para influenciar este desequilíbrio”, sublinha.

José Martos não esconde que o aumento dos custos das matérias-primas impactou bastante o sector, tendo levado a aumentos consecutivos sem precedentes. “O nível de instabilidade ainda é grande, especialmente pelo aumento dos custos energéticos, que estão a marcar máximos históricos, o que consequentemente continua a aumentar a pressão nos custos de produção, e que será refletido no preço final das matérias-primas”, refere.

Este cenário de escalada dos custos energéticos, considera a Saint-Gobain Portugal, torna ainda mais estratégica a construção sustentável e as soluções para melhorar a eficiência energética dos edifícios, tanto na obra nova como na reabilitação.

“Estas soluções adquirem ainda maior relevância com os elevados preços da energia, que justificam economicamente o investimento no isolamento da envolvente dos edifícios. Consequentemente, os consumidores finais que implementem soluções de isolamento Saint-Gobain nas suas casas podem poupar nos custos energéticos”, explica o CEO.

ASaint-Gobain Portugal quer ser líder na construção e crescimento sustentável no próximo ano, numa estratégia com outros dois braços:o primeiro é dar resposta aos desafios de descarbonização (ganhos de tempo e produtividade) e da escassez de recursos (redução de até 50% no uso de matérias-primas versus métodos de construção tradicionais). O segundo é “trazer benefícios de bem-estar e conforto para quem constrói e para os utilizadores do espaço”.

Outra das “armas” da Saint-Gobain Portugal para tomar de assalto a liderança deste segmento passa por uma oferta integrada para a construção, “através da inovação em produtos e sistemas que permitam a conceção de edifícios energeticamente eficientes, saudáveis e confortáveis (a nível térmico, acústico, visual e no que diz respeito à qualidade do ar interior)”, aos quais pretende juntar “a experiência do cliente” e digitalização do sector, seja através da facilidade de contacto e acesso a informação, seja através de plataformas de cálculo para sistemas construtivos ou tecnologias como a Modelagem de Informações da Construção (BIM na sigla inglesa).

O responsável classifica o ano de 2021 “muito desafiante” pela forma como feita a gestão das matérias-primas devido à sua escassez e que o grande aumento dos preços que aconteceu ao longo do ano, bem como a instabilidade de toda a cadeia de abastecimento, tornaram este ano “intenso e inigualável”, destacando a política de gestão focada na saúde e segurança das equipas devido à pandemia e onde “felizmente correu tudo pelo melhor”.

Contudo, e apesar de todas estas condicionantes, o grupo conseguiu subir dois dígitos face a 2020, tanto nas vendas, como no volume de produção. “Conseguimos alcançar um ótimo resultado. Isto deve-se à dedicação imensa das nossas equipas, mas também ao momento que vive o sector da construção, os apoios do PRR e também ao aumento da nossa oferta. Em 2020, com a reorganização da Saint-Gobain Portugal S.A. integramos as marcas ISOVER, Placo® e Weber (lãs minerais, gesso e argamassas) e isso permitiu-nos ter uma oferta integrada no sector da construção, melhorando assim a nossa proposta de valor ao mercado. Por fim, a maior conexão que existe também com os outros negócios da Saint-Gobain em Portugal, contribuiu para este resultado. Temos boas perspetivas para 2022, mas a instabilidade é muito grande, pelo que temos que perceber como vão evoluir os fatores que referi acima”, conclui.

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