O programa "Mais Habitação", com que o anterior governo procurou responder à crise no sector da habitação, foi muito contestado e debatido durante a campanha eleitoral, em que a Aliança Democrática (AD) se comprometeu com uma revogação parcial e, em alguns casos, total das medidas que o compõem, mas os promotores imobiliários consideram que seria positivo um entendimento entre o governo de Luís Montenegro e o PS neste tema.
"Acho que a AD deverá procurar também um consenso e um acordo com o PS para essa análise", disse Hugo Santos Ferreira, presidente da Associação Portuguesa de Promotores e Investidores Imobiliários (APPII), em declarações ao Jornal Económico (JE).
Hugo Santos Ferreira salienta, contudo, que o atual governo estará muito preso aquilo que são as medidas detalhadas no o seu programa eleitoral e que, nesse ponto, estas terão de ser executadas com ou sem o consenso dos socialistas, o que poderá obrigar a procurar um acordo mais à direita.
"Para fazermos fé no programa eleitoral, temos de acreditar que a AD vai executar aquilo que apresentou aos portugueses com acordo ao centro ao ou à direita", sublinha.
A procura de entendimentos terá de ser aplicada a medidas como os Vistos Gold e o regime do Residente Não Habitual, que devem também ser revisitados pela AD e onde o acordo com os partidos da direita será mais fácil de alcançar, dado que todos defendem uma revisão dos programas de captação de investimento estrangeiro. "Se bem que o próprio PS também não acabou com os programas. Eles continuam, mas de forma diferente", realça.
Escolha de Miguel Pinto Luz? "É alguém com peso político dentro do próprio PSD"
Dos 17 ministros que integram o novo governo, a escolha do nome para a pasta da Habitação era um dos que mais curiosidade levantava. A solução avançada por Luís Montenegro foi a de Miguel Pinto Luz, que para o presidente da APPII é visto como "alguém com peso político dentro do próprio PSD e muito próximo do núcleo duro da liderança do partido", o que considera que é um ponto a seu favor , dado que a resolução do problema da crise da habitação vai exigir uma proximidade e um poder negocial com os outros ministérios, desde logo o das Finanças.
"Tem peso e experiência política para conseguir reunir o máximo de consenso possível dentro do parlamento, da esquerda à direita", salienta.
O presidente da APPII desvaloriza também o facto das infraestruturas e habitação voltarem a concentrar-se num único ministério e acredita que tudo vai depender mais de quem for o escolhido para ocupar o lugar de secretário de Estado da Habitação. "Não creio que queira dizer alguma coisa. Miguel Pinto Luz é certo terá uma superpasta e muita responsabilidade, nomeadamente nas infraestruturas e com um tema duro como é a questão do novo aeroporto. A figura do secretário de Estado vai de facto ter um papel importante. Espero que seja alguém que conheça bem o problema da habitação e saiba como resolvê-lo", refere.