A união de vontades gerou um prémio. A ideia começou a ganhar forma no ano passado e será concretizada com o anúncio do novo galardão na 21ª edição do Doclisboa, que terá lugar entre 19 e 29 de outubro. A Apordoc – Associação Para o Documentário e o Doclisboa associaram-se à Legal Partners para criar o Prémio Direitos e Liberdades Legal Partners Portugal para o melhor filme dos 11 a concurso (ver lista abaixo), numa iniciativa que visa divulgar diversos olhares, de diversas geografias, cujo elo comum é o alerta e defesa dos Direitos da Humanidade.
António Martins Rodrigues, sócio fundador da Legal Partners partilhou com o Jornal Económico (JE) que, da parte da firma, “havia a necessidade de ter uma postura mais interventiva e mais criativa, por sentirmos que existe, muitas vezes, um fosso entre o setor empresarial e o setor cultural”. Salienta a propósito que “a nossa postura é muito de fazer pontes, de ligar mundos, atividades e organizações diferentes. Este era também um objetivo: fazer essa ponte entre o cinema, a Cultura, as associações culturais que apoiamos, e o setor empresarial, i.e., os nossos outros clientes, pois achamos que todos temos a ganhar com esta aproximação e conhecimento mútuo”.
Por outro lado, realça, “quando, no ano passado, discutimos esta ideia com a Apordoc e o Doclisboa, queríamos também ter um posicionamento no sentido de, publicamente, fazermos a defesa dos Direitos da Humanidade, dos Direitos Humanos. E achámos que, mais do que dar palco aos advogados, a ideia é criar um prémio que possa dar palco a quem faz advocacia para a Humanidade, ou seja, a todos aqueles que lutam pelos Direitos Humanos, por vezes, pondo em risco a sua própria vida”.
António Martins Rodrigues refere ainda que o “DocLisboa fez um trabalho excecional ao nível dos filmes selecionados, uma vez que vai exibir alguns filmes que abordam a questão diretamente, enquanto outros abordam a problemática de poder fazer um filme, como é o caso do filme de uma realizadora iraniana que vai passar no festival. Interessa-nos poder valorizar as pessoas que continuam a fazer aquilo que mais gostam, que é filmar, fazer cinema”.
Para Miguel Ribeiro, diretor do Doclisboa, este prémio surge, antes de mais, por terem compreendido que “importa dar visibilidade ao tipo de cinema que os cineastas [que passam no Doclisboa] fazem e que, através dele, se pode mobilizar a sociedade. Os prémios têm essa capacidade, i.e., de dar destaque a filmes e cineastas implicados em causas. Cada um dos 11 filmes selecionados aborda um aspeto importante dos Direitos da Humanidade, o que permite chamar a atenção e suscitar o debate de cada um desses temas”.
Tendo em mente a responsabilidade que cada uma das partes envolvidas tem perante a sociedade, Miguel Ribeiro aponta o trabalho que a Legal Partners tem desenvolvido de apoio ao Doclisboa, “já há alguns anos, no sentido de encontrarmos [Apordoc e Doclisboa] um espaço onde se debatem a fundo assuntos que, no trabalho de advocacia da Legal Partners, lhe interessa debater e encontra no cinema um aliado para esse tipo de discussões. Com este prémio, damos todos mais um passo nessa direção”.
Outro aspeto relevante, diz ao JE o diretor do festival, é “a liberdade de expressão que os realizadores encontram no cinema, enquanto forma de comunicarem e de ampliarem o discurso. No caso do filme iraniano que vai ser exibido, a produção do mesmo – no contexto iraniano – é, em si mesmo, um ato de defesa dos Direitos da Humanidade. Mas, dentro da programação, vamos encontrar outros aspetos, como um cineasta que nos fala dos fascistas após a ditadura na Argentina, um filme que aborda os direitos à migração e circulação, outro ainda sobre a guerra Rússia/Ucrânia… Estes e outros assuntos importantes do nosso tempo estão presentes na programação do Doc”, afirma Miguel Ribeiro.
Retomando a imagem das “pontes”, o sócio fundador da Legal Partners, António Martins Rodrigues, coloca a tónica no facto de “nós, como advogados, apostarmos muito na ideia de negociação, de autorregulação dos interesses, de aproximação a quem está do outro lado para criarmos uma solução conjunta, achamos também que devia ser esse o nosso papel – juntar os mundos da advocacia e da cultura e pô-los a trabalhar em conjunto no apoio e na divulgação do trabalho de quem [na área do cinema], pelo mundo fora, vai defendendo os Direitos da Humanidade”.
O prémio agora criado, que celebra o cinema enquanto aliado do debate de temas prementes para a sociedade atual, teve ainda na sua génese “a discussão interna [na Legal Partners] em relação ao greenwashing e ao que podemos chamar de Human Rights Washing, e sobre os quais temos algum receio e pudor. Mas, mais do que Direitos Humanos, estamos a falar de Direitos da Humanidade. Somos uma espécie só, temos um futuro comum. Para nós, Legal Partners, o objetivo é, apesar das diferenças que nos enriquecem, queremos valorizar e reforçar essa ideia de futuro comum, valorizando o respeito pela diferença e pela democracia”, frisa António Martins Rodrigues.
O Doclisboa’23 já está na contagem decrescente para se apresentar nos locais habituais: Culturgest, Cinema São Jorge, Cinemateca Portuguesa e Cinema Ideal. A edição deste ano vai exibir 250 filmes de 42 países, entre os quais 35 estreias mundiais e 39 filmes portugueses. O pulsar do mundo estará no Doclisboa e o Prémio Direitos e Liberdades Legal Partners Portugal para o melhor filme dos 11 a concurso será decidido pelo júri composto por Alice Neto de Sousa, poeta; Daniel Oliveira, jornalista e comentador; e Graça Castanheira, realizadora e sócia fundadora da Apordoc.
O anúncio do filme vencedor da 1ª edição deste prémio está previsto para 28 de outubro, na Cerimónia de Entrega de Prémios do Doclisboa’23 que, este ano, terá lugar na Casa Independente, a partir das 20h30.
Lista de filmes a concurso
Clandestina
De Facto
Diário de um Crime
État limite
La garde blanche
Hormigas Perplejas
Joghd, Bagh va Marde Nevisandeh
El juicio
Motherland
Tan inmunda y tan feliz
la tierra los altares