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Portugueses na construção de projeto solar de dois mil milhões em Angola

Projeto de 500 megawatts conta com o financiamento do Governo norte-americano e vai levar energia a 1,5 milhões de angolanos.

Uma construtora angolana fundada por portugueses é uma das empresas responsáveis pela construção de um projeto de energia solar fotovoltaica de 500 megawatts (MW) em Angola.

Isto representa um investimento de dois mil milhões de dólares (1.865 milhões de euros) pelo Governo angolano, com os Estados Unidos a financiarem o projeto em 900 milhões de dólares (833 milhões de euros).

A Omatapalo é uma construtora sediada em Angola, fundada por portugueses e com presença em Portugal, e que vai desenvolver o projeto em conjunto com a Sun Africa.

"Vamos desenvolver um projeto, que temos esperança que ainda inicie este ano, que é um projeto para a construção de um dos maiores parques fotovoltaicos de África. Este projeto em concreto tem o financiamento dos Estados Unidos, através do EXIM Bank USA, com a garantia do Estado norte-americano. Prevê-se que o projeto tenha um impacto no crescimento do PIB angolano de 5,9 mil milhões de dólares", disse ao Jornal Económico (JE), Ricardo Costa CFO da Omatapalo Portugal.

O responsável destacou que este projeto vai proporcionar a "1,5 milhões de angolanos acesso a energia eléctrica pela primeira vez". A construção das centrais deve arrancar até ao final deste ano/início do próximo e deverão estar prontas em 2026.

"Juntamente com o nosso parceiro Sun Africa estamos a trabalhar no projeto que tem duas fases: o financiamento da primeira fase já está aprovado pelo EXIM Bank e pelo Congresso dos EUA. Já estamos em estado avançado de negociações com fornecedores. Para ter uma noção, este projeto engloba cerca de um milhão de painéis solares", afirmou o gestor.

"O mais interessante é que este projeto é constituído por parques fotovoltaicos de grandes dimensões, mas também micro parques. Isto para possibilitar que as localidades mais isoladas no interior de algumas províncias de Angola tenham acesso pela primeira vez a energia, isso é a parte mais importante", acrescentou, durante a conversa que teve com o JE durante o EurAfrican Forum, organizado pelo Conselho da Diáspora Portuguesa, que decorreu em Cascais, no passado mês de julho.

A agência oficial de crédito à exportação dos EUA vai apoiar a construção das centrais solares em Malanje (Laúca) e Ícolo-Bengo (Catete) com um financiamento de 900 milhões de dólares. A central de Catete conta com uma potência de 104 MW com a de Laúca a contar com 400 MW. Se estivesse concluída hoje, seria um dos maiores projetos solares em África em operação. O projeto vai criar 1.600 postos de trabalho.

"É um projeto muito interessante do ponto de vista político para os Estados Unidos, o Joe Biden falou entre oito a dez vezes neste projeto nos últimos seis meses. É claramente uma afirmação do interesse dos EUA em Angola ao apoiar projetos no país", adianta.

A Omatapalo foi fundada em 2003 no sul de Angola pela empresa portuguesa de construção civil Carlos José Fernandes e Cª., com mais de 70 anos de experiência, e a CNS Norte. Em 2016, fez o sentido inverso de muitas empresas portuguesas e entrou no mercado português, estando sediada em Leça do Balio, distrito do Porto.

"A génese da Omatapalo é em Angola, faz 20 anos este ano que a empresa nasceu. Temos hoje um quadro de pessoal superior a 10 mil colaboradores", afirmou o responsável, apontando que a faturação a nível global em 2022 ascendeu a "500 milhões de dólares".

"Há 20 anos, a empresa localizou-se no sul de Angola na cidade do Lubango, na província de Huíla, numa altura em que todas as grandes empresas queriam estar em Luanda, e fomos pioneiros em começar um negócio longe da capital. Correu bem, graças ao rigor e qualidade da empresa. Hoje em dia, estamos presentes em todas as províncias de Angola e no sector da construção, agropecuária, agricultura, da energia, metalúrgica, transportes, mineração, acabando por expandir diferentes áreas de negócio. E acabamos por nos internacionalizar há oito anos para Portugal. Inicialmente, só com o intuito de exportar matérias-primas que são necessárias para desenvolver os projetos em Angola, que ainda não tem a capacidade de produzir, e fruto desse negócio acabou por haver oportunidades de negócio em Portugal, na área da energia, metalúrgica, tratamentos de água, imobiliario", afirmou Ricardo Costa.

Entre os projetos em Angola, o gestor destaca o "desenvolvimento de hospitais, como o Sanatório de Luanda, com garantia de Estado do Reino Unido, e o Hospital dos Queimados Neves Bendinha em Luanda, projeto financiado pelo Banco Mundial. Temos orgulho em ajudar Angola a desenvolver-se e a melhorar as condições de vida da população".

A companhia também está presente em Moçambique no sector da energia, com a construção de subestações. Paralelamente, está a desenvolver parcerias com parceiros internacionais para desenvolver estações de tratamento de águas, construindo unidades hoteleiras. A ideia é expandir o negócio de uma forma coerente, com respeito pelos locais onde estamos".