Mesmo que não se tenha vestido de rosa para assistir ao maior filme do ano - com mais de 5,2 milhões de euros de receita de bilheteira e mais de 870 mil espetadores em Portugal – ter-se-á certamente apercebido do fenómeno Barbie.
A película sobre a boneca mais famosa do mundo gerou autênticas ‘economias paralelas’ e mais de 100 contratos de franchising com outras marcas, revelou ao Jornal Económico (JE) André Moreira, head of Consumer Products da Mattel para Portugal e Espanha. Falamos de grupos de retalho como a Inditex, Crocs, Superga, NYX, OPI ou mesmo outras para parcerias ibéricas, entre as quais Safta (papelaria e material escolar) ou Color Baby.
“O filme da Barbie abriu muitas oportunidades e interesse de parceiros em colaborar. Temos muitas parcerias que são regionais e algumas de âmbito global. Este ano, com a Barbie tivemos mais de 100 acordos de licenciamento. Ou seja, uma centena de colaborações que nasceram só em 2023”, afirmou o responsável de Produtos de Consumo da Mattel na Península Ibérica, em entrevista por videoconferência a partir de Madrid.
“Somos os proprietários da Barbie, da Hot Wheels, da Fisher Price, entre outras marcas. Se, por exemplo, empresas como a Zara querem fazer uma coleção de produtos da Barbie tem de haver um contrato de cedência de direitos com a Mattel. Aí estabelecemos contratos de licenciamento”, esclareceu sobre os acordos.
A multinacional norte-americana está a desenvolver esta área de negócio, porque pretende tornar-se, além de um fabricante de brinquedos, uma gestora de franquias. “O filme da Barbie é um bom exemplo do futuro da Mattel: transformar a empresa e dar resposta ao consumidor em várias categorias”, sintetizou ao JE o executivo da Mattel para os mercados português e espanhol.
“É o início de um capítulo de uma empresa que, durante muitos anos, esteve muito concentrada no core business, o brinquedo, e que quer dar o salto, ser mais impulsionada pela sua propriedade intelectual, pelas suas marcas, gerir franchises e oferecer ao consumidor vários pontos de contacto ao longo do dia para uma experiência mais profunda”, diz André Moreira.
O filme “Barbie” estreou a 21 de julho e chega hoje (quinta-feira, 21 de setembro) às salas de cinema em IMAX, embora apenas por sete dias. Questionado sobre o impacto da obra cinematográfica de Greta Gerwig, André Moreira defende que uma das explicações para o “sucesso” está no trabalho conjunto entre a Warner Bros., a Mattel e as outras marcas que se associaram.
“Nós começamos a ver os primeiros outfits rosa. Já o ano passado, no final de 2022, na altura em que em que acabou por haver um leak de uma foto da Margot Robbie e do Ryan Gosling a propósito das filmagens do filme. A partir daí, começou a haver um bocadinho essa inspiração, que foi crescendo à medida que íamos revelando mais sobre o filme e que as pessoas conheciam também mais colaborações à volta deste momento. Nasceu até o termo Barbie core”, lembra.
A seu ver, o sector que mais rapidamente seguiu a tendência foi o da moda. “Tivemos coleções nos principais retalhistas de moda da Europa e, diria, do mundo. Depois, os cuidados de beleza (maquilhagem, acessórios…) também, e outras categorias, como o calçado”, sublinhou o líder da equipa de produtos de consumo na Península Ibérica, composta por cerca de 30 pessoas.
Em relação ao tempo que demora a materializar estes acordos, esclarece que depende da indústria, porque há umas mais “ágeis” e “um lead time inferior” para apresentar algo ao mercado, ao passo que outras têm tempos de produção mais extensos. “Pode ser de dois/três meses até um ano em vista. Houve coleções nas quais estávamos a trabalhar desde o ano passado e nasceram três meses antes do lançamento do filme Para nós, quanto mais antecedência, mais planeamento, melhor. Acabamos por conseguir um resultado mais positivo”, alerta.