Portugal não vai conseguir cumprir as metas até 2030 para a energia eólica em terra e no mar (onshore e offshore) que foram estipuladas pelo Governo.
O aviso foi feito hoje pela associação europeia da fileira eólica (agrega produtores e a indústria) que concluiu que o país vai ficar muito abaixo das metas definidas pelo já revisto Plano Nacional de Energia e Clima (PNEC) que está a ser avaliado em Bruxelas.
Nas contas da Wind Europe, Portugal vai acrescentar até ao final da década mais de 2,5 gigawatts de energia eólica onshore e mais de um giga de eólica offshore.
Estes valores contrastam com os do PNEC revisto, que está atualmente a ser analisado pela Comissão Europeia: 4,1 gigas onshore para um total de 10,4 gigas; e dois gigas de eólica offshore.
Para este ano, em termos de eólica onshore, a associação prevê que sejam instalados 120 MW, seguidos de 230 MW (2025), outros 230 MW (2026), 380 MW (2027), 500 MW (2028), outros 500 MW (2029) e 600 MW (2030). Já os 1.050 MW de eólica offshore previstos só deverão entrar em operação em 2030.
A Wind Europe conclui que, na "trajetória atual", a Europa deverá falhar as suas metas de energia eólica até 2030. Apesar de tudo, considera que o seu outlook melhorou e está mais "otimista" face ao ano passado. No entanto, deixa várias recomendações:
- Acelerar a expansão da rede elétrica através de investimentos em antecipação, otimizar o uso da rede existente e gerir proativamente as esperas na rede;
- Aumentar o ritmo da eletrificação para descarbonizar a economia;
- Implementar os pontos de ações no Wind Power Package e no European Wind Charter.
O relatório também destaca que a aplicação do conceito Interesse Público Superior, aos projetos de energia renovável, está a ser "altamente eficaz em permitir processos apanhados em disputas legais. Os projetos estão a ganhar casos em tribunal que antes perdiam. França, Portugal e Áustria estão a acompanhar ao incorporar o IPS nos seus quadros legais".
Olhando para outros dados, Portugal está entre os oito países em que a energia eólica pesa mais de 20% no mix energético. A lista é liderada pela Alemanha (31%), Reino Unido (29%) e Países Baixos (27%), com Portugal a surgir na sexta posição com 26%.
Uma curiosidade: a Ucrânia, apesar da invasão russa, instalou 146 MW de nova capacidade em 2023. Infelizmente, 71% da sua capacidade total de 1,9 gigawatts está fora de operação.
Em 2023, Portugal instalou 79 MW de capacidade onshore para 5.834 MW. A associação destaca que o país deverá lançar este ano o seu primeiro leilão de energia eólica offshore.
A Alemanha é o país com mais capacidade instalada eólica: 70 gigawatts, liderando na energia onshore (61 gigawatts), com o Reino Unido a liderar na energia offshore (15 gigawatts).
Entre os países da UE com uma das frotas mais antigas de energia eólica, encontra-se Portugal (14,1 anos). Olhando para esta questão em toda a Europa, a Wind Europe destaca que os volumes de repowering (a substituição de aerogeradores antigos por novos, mas com mais potência, permitindo aumentar a potência total da central), deverão "aumentar".
"O repowering de centrais eólicas triplica em média a sua produção, enquanto corta no número de turbinas. Por esta razão, representa uma oportunidade única para acelerar rapidamente a produção de energia eólica na Europa".
Previsões para a UE em 2030
- A Wind Europe prevê que 200 gigawatts sejam instalados até 2030, a uma média anual de quase 29 gigas, com a energia onshore a corresponder a quase 70% da nova potência (136 GW), com o offshore a atingir 64 gigawatts.
- "Esperamos assim que, nas atuais circunstâncias, a UE vai ficar abaixo das metas de energia eólica em 32 gigawatts", segundo a associação.
- Para este ano, serão esperados 15,8 gigawatts, acima dos 16,2 gigas instalados em 2023.
- Em termos de offshore, vai ser no final da década que se vai assistir ao disparo de mais potência, com a nova capacidade anual a superar a de onshore em 2030.
- Ao mesmo tempo, a Europa vai ultrapassar os 500 gigawats de potência renovável em 2030, com a UE a ficar perto dos 400 GW (310 GW onshore e 83 GW offshore), face à meta de 425 GW (42,5% de renováveis)
- A energia offshore só arranca no final da década devido à falta de leilões nos últimos anos (Dinamarca sem leilões entre 2017 e 2020/ Alemanha sem leilões em 2019/2020). Com cinco/sete anos necessários para a sua execução, a "falta de leilões regulares afeta o ciclo de construção".
- Até 2030, 50% dos novos projetos deverão ter origem em leilões que já tiveram lugar, com os restantes 50% a ter origem em novos leilões, se avançarem conforme planeado. Caso contrário, as metas ficarão abaixo do previsto;
- A Alemanha vai ser o país que vai instalar mais capacidade: 44 gigawatts de nova capacidade onshore e 20 gigawatts de nova capacidade offshore;
- Espanha: 16 gigawatts de nova capacidade onshore e a possibilidade de um gigawatt de capacidade offshore, sendo o segundo maior mercado europeu a seguir à Alemanha.
Governo prevê apenas 2 gigas de eólica offshore até 2030. Energia solar com crescimento de 900%
Afinal, o Governo só prevê construir dois gigawatts (GW) de energia eólica marítima (offshore) até 2030. Esta meta fica abaixo dos 10 gigawatts que têm vindo a ser anunciados pelo Governo até ao final da década.
A meta de 2 gigawatts consta na versão revista do Plano Nacional de Energia e Clima (PNEC) 2030 que foi enviado para Bruxelas no final de junho de 2023, conforme noticiou na altura o Jornal Económico.
É verdade que na versão anterior do PNEC só constavam 300 megawatts de eólica offshore. Mas a meta de 10 gigawatts nos próximos sete anos tem sido proclamada publicamente pelo Governo.
“Quanto à produção eólica offshore, reafirmamos o compromisso de lançar, até 2030, leilões correspondentes a uma capacidade de 10 GW, reforçando assim a estabilidade do nosso sistema elétrico e atraindo para o nosso país a cadeia de valor das tecnologias offshore. O primeiro leilão terá lugar já este ano, permitindo instalar pelo menos 2 GW até 2030”, pode-se ler no comunicado hoje divulgado pelo ministério do Ambiente e da Ação Climática (MAAC).
Ainda no início deste ano, o primeiro-ministro dizia que “a meta de Portugal é atingir 10 gigawatts de capacidade de eólica offshore até 2030. No último trimestre do ano, vamos lançar o primeiro leilão offshore”, afirmou António Costa em janeiro durante uma visita a Cabo Verde citado pela “Reuters”.
Por outro lado, a ambição na energia solar fotovoltaica disparou. Dos 7 gigas que estavam antes previstos até 2030, o Governo prevê agora construir quase 15 gigas até 2030, face à atual capacidade instalada de 1,5 gigawatts, o que representa um crescimento de quase 900% da capacidade instalada em sete anos. Até 2025, espera ter construídos 6,1 gigas. A meta anterior previa 7 gigawatts de energia até final da década.
Em fevereiro deste ano, a secretária de Estado da Energia Ana Fontoura Gouveia voltou a adiar os prazos para a construção e entrada em operação das centrais dos leilões de 2019 e 2020, prevendo que algumas possam entrar em operação até 2026. A decisão foi justificada pelos impactos da guerra na Ucrânia. Em março, apenas 92 megawatts (MW) de um total de 1.820 MW da centrais saídas dos leilões de 2019/2020 estavam em operação. Este cenário permite antever que vai ser necessário fazer um longo caminho até serem construídos 15 gigawatts de energia solar em Portugal.
“A produção solar centralizada prevista nesta revisão do PNEC não ultrapassa 0,4% de ocupação do território nacional e é acompanhada de medidas de compensação aos territórios e de partilha de energia com as comunidades, bem como de uma maior preponderância da produção descentralizada. Para concretizar os objetivos propostos, serão reforçadas as políticas públicas em curso, incluindo por via da criação de uma Estrutura de Missão para as Energias Renováveis, prevista no novo capítulo do PRR nacional, e a consequente melhoria de processos e ferramentas; o reforço dos meios das entidades licenciadoras; a definição de Go to Areas, ou seja, áreas preferenciais para a instalação de renováveis; a criação de uma via verde para o licenciamento de projetos com elevada maturidade; e de melhorias no enquadramento aplicável ao Autoconsumo Coletivo e Comunidades de Energia Renovável, acompanhadas de novas ferramentas, novos incentivos e novos modelos de divulgação”, segundo a tutela de Duarte Cordeiro.
O executivo destaca que a estratégia de transição energética “representa 75 mil milhões de euros de investimento em projetos de produção de energia verde (eletricidade e gases renováveis). Este investimento terá um efeito multiplicador, tanto a montante – por via de novos projetos industriais de fornecimento dos equipamentos e serviços necessários à sua instalação – como a jusante – em resultado das novas indústrias verdes que se instalam no nosso país. Estes novos investimentos contribuem também para a coesão social e territorial, potenciando a criação de emprego de qualidade ao longo do território”.
“Na presente década, e até 2030, pretendemos duplicar a capacidade instalada de produção de eletricidade a partir de fontes renováveis, acelerando a descarbonização e dando resposta às necessidades dos novos investimentos industriais previstos para o nosso país, criadores de emprego verde e de valor acrescentado nacional”, afirma o MAAC.
O Governo também pretende rever a Estratégia Nacional do Hidrogénio “mais do que duplicando a capacidade prevista de eletrolisadores até 2030 (de 2,5 GW para 5,5 GW), permitindo assim descarbonizar a indústria nacional, atrair novas indústrias que produzem derivados do hidrogénio verde e, ainda, exportar este gás renovável para a União Europeia, contribuindo assim para a segurança de abastecimentos no espaço europeu”.