A Parques Tejo, que gere o estacionamento e os serviços de mobilidade em Oeiras, está encarregue de fazer renascer das cinzas o SATU, comboio monocarril não tripulado que foi encerrado há nove anos. Em entrevista ao Jornal Económico (JE), o presidente executivo da empresa municipal revela que já entregou a primeira parte do projeto à Câmara Municipal de Oeiras e está a desenvolver o traçado por onde passarão os veículos elétricos e/ou autónomos, que será enviado à autarquia de Isaltino Morais por volta de junho.
“O SATU é estratégico para o município de Oeiras. É um projeto que o presidente Isaltino aplicou a partir de 2004 e foi alvo de muitas críticas, do meu ponto de vista, injustas, porque o projeto já na época era inovador”, diz Rui Rei, contando ainda os planos de, até julho, implementar mais 14 a 19 estações de bike-sharing no concelho com mais de 150 bicicletas.
A Parques Tejo também está a investir na instalação de câmaras e sensores para que se possa medir em tempo real o número de carros que entram e saem do município e quem vai/vem de transportes públicos para o concelho.
Este conselho de administração tomou posse há dois anos com a esperança do autarca de Oeiras de que se “se abrisse um novo caminho” na empresa. O que mudou com esta gestão?
No próximo dia 31 de março, faz dois anos desde que o presidente da Câmara nomeou esta administração. Aconteceram algumas transformações ao nível dos espaços da Parques Tejo e no atendimento. Mudámos radicalmente a forma como atendíamos os nossos munícipes, abrimos uma loja no centro comercial. Temos de colocar os munícipes e cidadãos no centro da nossa atividade, porque este sector tem sempre um problema. Olhando só para a questão do estacionamento, é um sector que gera atritos, alguma insatisfação e contestação. Se não dermos atenção aos moradores de Oeiras, aumentamos esta tensão. Também estamos a pensar, nos próximos tempos, passar a fazer atendimento telefónico ao sábado em vez de encerrar ao fim do dia de sexta-feira.
E o tema da mobilidade…
Sim, éramos uma empresa basicamente de estacionamento e passámos a ser uma empresa de serviços de mobilidade. Para isso temos de entrar no resto dos verticais necessários para essa oferta, como as bicicletas e as trotinetas. Criámos mais de 250 pontos (“Move”) onde as trotinetas e bicicletas elétricas sem doca podem parar. Fomos o primeiro município a colocar regras claras de se poder pegar e deixar uma trotinete e Lisboa, a seguir, aplicou um regulamento que é cópia do nosso. O passo seguinte foi criar uma rede de bike-sharing [sistema de bicicletas públicas partilhadas] próprio. Temos hoje onze estações e até julho teremos cerca de 25-30 estações com mais de 150 bicicletas. Nalguns casos, essas estações vão coincidir com os pontos Move para termos bicicletas com doca, equipamentos sem doca e, ao mesmo tempo, espaços para que cada um de nós possa deixar a sua própria bicicleta em segurança. Falta-nos entrar no transporte público puro e duro, os autocarros, sendo operador interno e melhorando a oferta em colaboração com a TML [Transportes Metropolitanos de Lisboa]. A TML tem vindo a reforçar a oferta em Oeiras, ainda agora em março o fez.
São responsáveis por todo o acompanhamento da Carris Metropolitana?
Formalmente, damos apoio. A câmara irá fazer delegação de competências na Parques Tejo para que depois possa fazer um acompanhamento mais formal. Porquê? A rede pública de autocarros é muito importante para nós e queremos tratar com a TML desse reforço de 30%. É preciso melhorar a ligação a Lisboa e a circulação interna dentro do município de Oeiras. É o que estamos a tentar fazer, a par do projeto que a Câmara também nos passou: o SATU [Sistema Autónomo de Transportes Urbanos]. Já entregámos uma parte do projeto à Câmara e estamos agora a fazer a outra parte, de inserção no espaço público. Contamos que, até meio do ano, toda essa parte que nos foi passada do SATU - a ligação de Paço de Arcos a todos os parques empresariais, como Taguspark [e Lagoas Park], e a Sintra – esteja concluída e entregue à Câmara. Depois a Câmara toma as decisões dos concursos que são necessárias.
Que importância terá esse projeto, depois do que aconteceu em 2015, quando foi abandonado?
O SATU é estratégico para o município de Oeiras. É um projeto que o presidente Isaltino aplicou a partir de 2004 e foi alvo de muitas críticas, do meu ponto de vista, injustas, porque o projeto já na época era inovador. Ao dia de hoje, mesmo o nome é atual, ao contrário do que muitas vezes se diz. O que se quer são transportes autónomos e conectados. Na realidade, é o que era o SATU.
E esta nova versão?
Teremos um traçado - que é o que estamos a tratar - e depois, em cima desse tratado, podemos ter variadíssimos veículos: autocarros, autocarros bidirecionais. Serão sempre elétricos e até podem vir a ser autónomos. A par disso, a Câmara também tem o grande desafio dos transportes públicos de ligação a Lisboa, como o LIOS [Linha Intermodal Sustentável ou metro ligeiro de superfície], e usa a Parques Tejo para chegar mais depressa a estes objetivos: construir o ecossistema de mobilidade de Oeiras numa ligação metropolitana para lá do estacionamento.
Mencionou os veículos autónomos. Já estabeleceram parcerias tecnológicas para esse efeito?
Estamos a começar a investir em câmaras e em sensores para que se possa medir em tempo real o número de veículos que entram e saem do município de Oeiras, que tem cerca de 40 km2. É pequeno, mas é a segunda economia do país, porque concentra as maiores empresas e tecnológicas e o maior índice de licenciados e mestres. A rede de sensores também nos permitirá ver a oferta de transportes com a TML para saber o número de pessoas que estão a ir e voltar de transportes públicos. É um caminho que se está a fazer neste momento a par da semaforização para o futuro.
Quando estará pronto?
Entre este ano e o próximo, toda a área de sensorização de tráfego deve estar concluída. Vamos começar por sensorizar o estacionamento, nomeadamente lugares para cidadãos com mobilidade reduzida, farmácias e cargas e descargas. A exceção é a semaforização, que ainda teremos de iniciar, porque é um processo mais longo e um bocadinho mais difícil.
Vamos começar por colocar sensores nos estacionamentos de mobilidade reduzida, farmácias e cargas e descargas
Oeiras apresentou um extenso plano de mobilidade urbana sustentável em abril do ano passado, no qual a Parques Tejo está envolvida. Como irão operacionalizá-lo, inclusive a criação de mais quatro mil lugares de estacionamento? Há previsão de receitas para a empresa?
O nosso plano estratégico 2022-2025 está adequado com esse plano aprovado pela Câmara. É um trabalho em escada. A empresa investiu, no último ano, mais de 2,5 milhões de euros. É muito dinheiro, que vem dos nossos cidadãos e nós não ficamos com ele. Todo o dinheiro gerado é para reinvestir no território. Por exemplo, a zona do mercado agora tem oferta para estacionar e não tinha. Ou a zona da praia de Algés – onde a Câmara assinou agora um protocolo tripartido de gestão com a APL [Administração do Porto de Lisboa] e a Parques Tejo – que sofreu uma grande transformação no ano passado, com estacionamento e arborização, e irá sofrer ainda mais intervenção este ano. Também faz parte do processo criar algum constrangimento ao transporte individual. Não é à bruta ou por decreto: «Agora proibimos o uso do automóvel». Isso não existe. Por isso, é importante esta ligação Oeiras-Lisboa Lisboa-Oeiras. Muitas vezes, dizemos que do Vale do Jamor a Lisboa é um território uno.
Quanto é que a empresa vai investir este ano?
Estão previstos 2,2 milhões de euros, mas estou convencido de que vamos superar esse valor, porque só em bicicletas devemos ter de lançar um concurso de meio milhão de euros. Para parques e intervenções em espaço público mais um milhão de euros, depois a construção do centro de operações, onde todo o território é todo monitorizado…
Já estão a construir esse centro?
Vamos iniciar este ano. Até ao verão temos de iniciar esse processo, portanto serão mais 300 ou 400 mil euros. Depende se teremos alguma comparticipação. A seguir, poderá vir a aparecer aqui uma parceria com o CEiiA, de Digital Innovation Hub, que pode levar à intervenção no território em matéria tecnológica e de capacitação das pessoas e das empresas. Isso é à volta de um milhão de euro com comparticipação da Parques Tejo eventualmente a 10%.
O último ano foi mais um de lucros?
A empresa gera resultados positivos. São 297 mil euros. O relatório do quarto trimestre foi enviado à Câmara a 6 de março para aprovação. Obviamente que, enquanto gestor público, tenho a obrigação de gerir bem a empresa e garantir que gera valor para a comunidade. Temos reclamações? Com certeza, mas procuramos corrigir.
Até porque tem havido uma série de alargamentos das zonas com tarifa vermelha (ZEDL - Zonas de Estacionamento de Duração Limitada*).
Nós aprendemos com alguns erros que cometemos. Nesta fase, não existe nenhum alargamento no território sem comunicação com os vários atores do local. Nos penúltimos alargamentos – zona da Medrosa ou alto de Linda-A-Velha – foram a pedido dos moradores, como acontecerá na esmagadora maioria dos que serão feitos durante este ano. A receita não é uma equação para os alargamentos, mas sim a proteção dos moradores. Mesmo no ano passado, quando fomos [colocar estacionamento pago] para a Quinta da Fonte, foi a pedido da administração da Quinta da Fonte e de um conjunto de pessoas de lá. Hoje, se for lá a uma reunião terá lugar para estacionar.
Planeiam fazer o mesmo no Taguspark?
Não. Não temos previsto, porque neste momento o Taguspark não necessita de regulação. Tem oferta [de estacionamento interno e externo] suficiente.
*A mais recente ZEDL foi colocada em Carnaxide, nos arruamentos em redor do complexo de escritórios World Trade Center
A Parques Tejo, que tem 83 trabalhadores, está também a recrutar e tem 15 vagas de emprego para fiscalização e duas para técnicos superiores de mobilidade.