A União Europeia foi das primeiras instituições a acolheu com satisfação o plano de 20 pontos apresentado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para colocar um fim à guerra em Gaza. Depois disso e ao longo desta terça-feira, foram vários os líderes europeus que secundaram Ursula von der Leyen no apoio a uma proposta que inclui, entre outros aspetos, a cessação das operações militares, a libertação dos reféns, a libertação de centenas de prisioneiros palestinianos, o desarmamento do Hamas e a entrega sem entraves de ajuda humanitária. Refira-se ainda que, de forma ainda mais inesperada, o plano também prevê a criação de um ‘conselho de paz’ temporário, presidido pelo próprio Trump, para supervisionar a transição pós-guerra. Israel aderiu ao plano – a assim como a Autoridade Palestiniana, que governa o que resta da Cisjordânia palestiniana – enquanto o Hamas está a analisar o documento (tendo três dias para o fazer).
"O plano do presidente Trump para Gaza é uma oportunidade para uma paz duradoura. Ele oferece a melhor hipótese imediata de acabar com a guerra", disse a Alta Representante da União Europeia, Kaja Kallas, citada pela agência Euronews. "Israel assinou o plano. O Hamas deve agora aceitá-lo sem demora, começando pela libertação imediata dos reféns", acrescentou.
Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, disse que a UE "está pronta para contribuir" para o sucesso da proposta. "Uma solução de dois Estados continua a ser o único caminho viável para uma paz justa e duradoura no Oriente Médio, com os povos israelita e palestiniano a viverem lado a lado, em paz e segurança, livres da violência e do terrorismo".
António Costa, presidente do Conselho Europeu, também destacou a necessidade urgente de alcançar uma solução de dois Estados, descrevendo a situação no enclave como "intolerável".
Refira-se que o plano prevê que, uma vez Gaza reconstruída e a Autoridade Palestiniana refundada, " podem finalmente estar reunidas condições para um caminho confiável para a autodeterminação e a criação de um Estado palestiniano". Mas o primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu, que participou da apresentação de Trump esta segunda-feira, disse mais tarde que "resistiria" à perspetiva de um Estado palestiniano, lançando dúvidas sobre se os 20 pontos podem ser plenamente concretizados.
Entretanto, o chanceler alemão Friedrich Merz, cujo voto é considerado crucial para quebrar o impasse na União Europeia no que se refere a eventuais sanções a Israel, disse que o plano é "a melhor oportunidade" de acabar com a guerra desde os ataques do Hamas em outubro de 2023. "Neste momento crucial, estamos em contato próximo com os Estados Unidos, parceiros na região", disse.
O presidente francês, Emmanuel Macron, afirmou que o seu país "permanecerá vigilante em relação aos compromissos de cada parte". "Espero que Israel se envolva profundamente com base no plano. O Hamas não tem escolha a não ser libertar imediatamente todos os reféns e seguir o plano".
Também a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, saudou a proposta de Trump como um "projeto ambicioso para a estabilização, reconstrução e desenvolvimento da Faixa de Gaza". E pediu ao Hamas que não insistisse "num papel no futuro de Gaza" e entregasse as armas.
Já o primeiro-ministro espanhol Pedro Sánchez, que emergiu como uma das vozes mais críticas do bloco contra o governo de Natanyahu, disse que chegou a hora de "acabar com tanto sofrimento".
O primeiro-ministro português, Luís Montenegro, juntou-se pelo menos ao sueco Ulf Kristersson, ao romeno Nicușor Dan, ao austríaco Christian Stocker, e ao neerlandês Dick Schoof na publicação de reações semelhantes, pedindo a sua rápida implementação e um progresso consistente em direção a uma solução de dois Estados.
A Rússia apoia e acolhe quaisquer esforços do presidente Donald Trump para resolver o conflito no Médio Oriente e quer que o seu plano seja executado, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, citado pela imprensa russa. "A Rússia apoia sempre e acolhe quaisquer medidas de Trump que procurem evitar a tragédia que está a desenrolar-se" em Gaza. "Queremos que esse plano se realize e que ajude a conduzir o Médio Oriente em direção a um caminho pacífico".
O presidente de um país muçulmano, a Turquia, Tayyip Erdogan, também elogiou os "esforços e a liderança" de Donald Trump para acabar com a guerra em Gaza. "Elogio os esforços e a liderança do presidente Donald Trump, que visam interromper o derramamento de sangue em Gaza e alcançar um cessar-fogo", disse Erdogan. E insistiu que o seu país continuará a contribuir para o processo "com vista a estabelecer uma paz justa e duradoura, aceitável para todas as partes".
A Arábia Saudita recebeu o plano com satisfação: o governo, presidido pelo príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, publicou um comunicado que “afirma a prontidão do Reino em cooperar com os EUA para alcançar um acordo abrangente para encerrar a guerra na Faixa de Gaza, implementar uma retirada israelita completa de Gaza e entregar ajuda humanitária suficiente sem restrições”.
O próprio Irão parece estar a tentar apaziguar a sua fúria contra Israel. O ministro das Relações Exteriores, Abbas Araghchi, disse à CNN norte-americana que o seu país procura o fim do genocídio em Gaza e que todos os governos estão obrigados a cooperar para atingir esse objetivo. E também observou que mais de cem planos foram propostos nos últimos oito anos para resolver o conflito israelo-palestiniano, mas o único plano que pode perdurar é aquele que reconhece o direito dos palestinianos à autodeterminação. Araghchi disse ter tomado conhecimento do plano e que está à espera da resposta do Hamas – não o tendo por isso hostilizado à partida.
Nem mesmo as Nações Unidas – entidade com a qual Donald Trump mantém relações crescentemente tensas – destoou dos encómios ao plano. Numa declaração divulgada pelo seu porta-voz, António Guterres disse que apreciava o importante papel desempenhado pelos Estados árabes e muçulmanos em direção a um acordo de paz sustentável: “Agora é crucial que todas as partes se comprometam com o acordo e a sua implementação”. A ONU “reitera mais uma vez o apelo a um cessar-fogo imediato e permanente, acesso humanitário irrestrito em Gaza e à libertação imediata e incondicional de todos os reféns, e espera que isso crie as condições que permitam a concretização da solução de dois Estados”, diz o comunicado.