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Pedro Nuno Santos. Cerca sanitária ao "Caso Influencer" e o regresso ao malhar na direita

Sobre a polémica do momento, o Caso Influencer – que já levou à demissão do primeiro-ministro e do ministro João Galamba – Pedro Nuno Santos falou, mas procurou erguer um cordão sanitário em torno do tema.

Ainda a lamber as feridas causadas pela polémica em torno do caso do lítio, do hidrogénio e dos Data Centers de Sines, a ala mais à esquerda do PS reuniu-se na segunda-feira para celebrar a, há muito anunciada, candidatura de Pedro Nuno Santos à liderança do Partido Socialista.

O ex-ministro das Infraestruturas voltou ao tom mais aguerrido que o caracterizou e que estava arredado da sua vida política desde que se demitiu de funções, na sequência da polémica indemnização de 500 mil euros a uma administradora da TAP, Alexandra Reis, à qual deu aval, mas que inicialmente não se lembrava.

Consciente, aliás, das possíveis recordações sobre esse caso, Pedro Nuno Santos aproveitou o palanque montado na sede do partido, no Largo do Rato, para fazer a sua própria defesa preventiva.

“Os portugueses, tal como os militantes do PS, conhecem-me. Conhecem as minhas qualidade e os meus defeitos. Conhecem o meu inconformismo e a minha combatividade. Conhecem a minha vontade de fazer acontecer e os meus sucessos. Conhecem também os meus erros e as minhas cicatrizes. Sim, os erros que cometemos e as cicatrizes que carregamos fazem parte das nossas vidas”, disse Pedro Nuno Santos. E acrescentou – também em sua defesa – que esses erros e cicatrizes são próprios de quem não tem medo de decidir.

Já sobre a polémica do momento, o Caso Influencer – que já levou à demissão do primeiro-ministro e à exoneração do seu chefe de gabinete, bem como à demissão, esta segunda-feira, do ministro João Galamba – Pedro Nuno Santos falou, mas procurou erguer um cordão sanitário em torno do tema.

Primeiro quando falou de um dos protagonistas do caso: António Costa. Depois de largos minutos a falar do legado do primeiro-ministro – a liderança durante os incêndios de 2017 ou durante a pandemia; dos empregos criados e da aproximação aos partidos mais à esquerda – Pedro Nuno Santos reduziu o caso mais grave dos oito anos de governo socialista a poucas frases.

“Uma investigação judicial ditou o fim do governo. É um momento difícil para a nossa democracia e para o nosso partido, em particular. Não vou ignorar o quanto os acontecimentos da passada semana abalaram as instituições da República e a sua credibilidade perante os cidadãos. E sobre essa matéria entendo o seguinte: em primeiro lugar, afirmar, sem margem para quaisquer dúvidas, que o combate à corrupção constitui uma tarefa prioritária e indeclinável do Estado; em segundo, sublinhar a necessidade imperiosa de observância das regras do Estado de direito democrático, como a presunção da inocência e a independência do poder judicial”, disse.

Uma no cravo e outra na ferradura. A frase seguinte é para encerrar o ciclo, tal como António Costa tinha dito no momento em que se demitiu. 

“Estas matérias são fundamentais e a justiça é central para o funcionamento de uma democracia de qualidade. Mas o PS não vai passar os próximos quatro meses a discutir um processo judicial”, rematou Pedro Nuno Santos.

Na entrevista que deu, horas depois, na Sic Notícias, o ex-ministro – e atual comentador político na SIC – ainda deu mais uma achega para se distanciar do caso. Se António Costa disse no sábado que Diogo Lacerda Machado foi um dos seus melhores amigos, mas que agora já não era, Pedro Nuno Santos disse que a sua relação “com o dr. Lacerda não era a melhor”.

Pedro Nuno Santos iniciou, então, uma exposição acerca das bandeiras que a sua candidatura pretende apresentar aos militantes do PS, assentes em três eixos: salários, habitação e valorização do território.

Pedro Nuno chamou-lhes as três “preocupações centrais”.

“O nosso dever é preparar e defender uma política para o país. Ao longo dos próximos meses apresentaremos as nossas ideias, nas diversas áreas, para dar resposta aos problemas e anseios dos portugueses”, afirmou.

“Sem salários dignos os trabalhadores portugueses não se sentirão nem reconhecidos nem respeitados. Sem salários dignos não conseguiremos estancar a emigração de jovens, daqueles que não saem porque querem, mas porque não se sentem valorizados no seu país. Sem salários dignos nunca conseguiremos ter uma administração pública capaz de recrutar e reter quadros qualificados”, disse, sublinhando que o país não terá “salários dignos no presente e pensões dignas no futuro sem empresas fortes
e rentáveis”.

“Não teremos empresas fortes e rentáveis sem uma economia sofisticada e diversificada. E não teremos uma economia sofisticada e diversificada sem um continuado investimento na ciência e na inovação, sem a persistente transferência de conhecimento para a
economia, e sem o apoio sistemático ao desenvolvimento e a inovação das nossas empresas”, continuou.

“Em segundo lugar, a habitação. As famílias portuguesas têm sido esmagadas pela inflação e pelo aumento das taxas de juro. Se, por um lado, os salários são baixos por outro o custo de vida é alto. Na parcela dos custos pesa muito a despesa com habitação – seja com a compra, o arrendamento ou o crédito. Mente aos portugueses quem disser que tem uma solução única, rápida e eficaz para o problema do acesso à habitação. O problema é de difícil resolução e não é apenas nacional. Em 2020, comigo ministro com a pasta, lançámos o maior plano de investimento público em habitação da história da nossa democracia. É verdade que os processos são demorados – mas já temos a quase totalidade dos nossos municípios a trabalhar, 2.500 casas entregues, dezoito mil em fase de
projeto e obra. Serão mais de trinta mil casas até 2026. Ainda estamos muito longe do parque público que precisamos, é verdade, mas o trabalho que iniciámos não tem precedentes na história recente”.

Menos gás teve o eixo da valorização do território, para o qual Pedro Nuno Santos dedicou algumas frases mais genéricas.  “Os problemas dos que vivem nos grandes centros urbanos são reais e merecem a nossa atenção”; “os portugueses que vivem fora de uma estreita faixa do litoral sentem-se há muitas décadas cidadãos abandonados num território esquecido”; “Desenvolver o interior e os territórios de baixa densidade não é só cuidar e respeitar o povo que nunca desistiu das suas terras, é também pensar no desenvolvimento de Portugal como um todo”.

E a seguir a parte que interessa mais aos seus apoiantes nos municípios: “será através do diálogo, da negociação e da concertação com o povo do interior, os seus autarcas e as empresas que conseguiremos construir as políticas que permitirão a Portugal ser um país inteiro”.

O discurso não ficaria completo sem um bom pedaço a “malhar na direita”, como disse em tempos Augusto Santos Silva. Agora esse papel mais proeminente cabe a Pedro Nuno Santos.

“É muito importante lembrar que a direita não cumpre as suas promessas nem faz o que apregoa. A direita fala muito em controlo das contas públicas, mas no seu último governo começou o seu mandato com a divida pública nos 114% do PIB, e acabou com 131%. A direita cortou salários e pensões quando prometeu que não o faria. Cortou na saúde e na educação quando prometeu que não faria. Aumentou impostos quando prometeu que não o faria. É muito importante lembrar todas estas promessas que a direita prometeu e não cumpriu porque ainda agora nos promete que não fará acordos com a direita populista, racista e xenófoba, quando é precisamente isso que se prepara para fazer”, disse o candidato, numa referência ao Chega.

“É muito importante lembrar que a direita não cumpre promessas quando diz que quer baixar impostos, aumentar pensões ou recuperar o tempo de serviço dos professores. A direita simplesmente não tem credibilidade”, completou.

E o que não disse Pedro Nuno Santos? Nem uma palavra sobre a TAP nem sobre o novo aeroporto – dois dossiers que em tempos vendeu como vitórias, mas que agora estão fora. E parados. E apesar de ter falado em valorização do território também nada disse sobre a ferrovia, outros dos seus cavalos de batalha enquanto esteve em funções. Mas que também avançou pouco.