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Patrick Drahi quebra o silêncio e diz-se "traído" por Armando Pereira

Numa rara intervenção pública, Patrick Drahi quebrou o silêncio sobre a Operação Picoas. Garantiu desconhecer quaisquer irregularidades e confessou-se "traído e desiludido" por Armando Pereira e outros ex-responsáveis do grupo. Português já não tem ações da Altice, mas tem direito a 20% dos lucros auferidos pelo próprio Drahi, revelou o fundador. "É uma questão pessoal, que tem impacto em mim e não na Altice", frisou.

O fundador do grupo Altice, Patrick Drahi, fez ontem uma rara intervenção pública, numa conferência telefónica com obrigacionistas, para afirmar que se sente “traído” pelo ex-sócio Armando Pereira e por um “pequeno grupo” de colaboradores que estão envolvidos num caso de alegada corrupção que, segundo as autoridades, terá lesado a Altice em cerca de 600 milhões de euros e impedido o Estado português de arrecadar cerca de 100 milhões em impostos.

“Foi um choque e uma grande desilusão para mim. Se as acusações forem verdadeiras, sinto-me traído por um pequeno grupo de pessoas, incluindo um dos nossos colaboradores mais antigos”, disse Patrick Drahi no seguimento da divulgação dos resultados do segundo trimestre.

Esta terça-feira terá lugar outra conference call, desta feita com investidores na Altice França, onde poderão ser divulgados novos detalhes pelo fundador do grupo.

A participação de Drahi nesta conference call de segunda-feira era particularmente aguardada, uma vez que é a primeira vez que o principal acionista da Altice fala em público sobre o escândalo que envolve o seu antigo sócio Armando Pereira e o empresário Hernâni Vaz Antunes. Em causa estão alegados crimes de corrupção no sector privado, fraude fiscal agravada, falsificação e branqueamento de capitais. O escândalo levou à suspensão de funções de vários altos quadros do grupo, incluindo o chairman da Altice Portugal, Alexandre Fonseca, o administrador João Zúquete da Silva e outros responsáveis em Portugal, França e Estados Unidos.

“Se as acusações forem verdadeiras, alguns indivíduos, sobretudo nas equipas de procurement, esconderam muito bem as suas ações de mim, dos seus colegas e do grupo. Se as acusações forem provadas, acredito que esses indivíduos tiraram proveito das suas posições à custa do grupo e portanto à minha custa também”, frisou Patrick Drahi, salientando que no seguimento do escândalo foram suspensos 15 quadros do grupo em Portugal e que a Altice está a tomar “ações muito rápidas para proteger o grupo e os seus investidores”, com mudanças na área de procurement.

“É muito duro ver o nome da Altice nas notícias sobre um caso de corrupção”, acrescentou, garantindo aos investidores que está do lado deles. “Os nossos interesses estão alinhados”, garantiu o fundador do grupo de telecomunicações, que em Portugal detém a MEO, ressalvando que a situação não terá impacto material nos resultados do grupo, nem no seu outlook, uma vez que os valores em questão representam menos de 10% dos seus custos totais. Porém, se as acusações forem provadas, o grupo vai exigir uma indemnização aos responsáveis, garantiu Patrick Drahi.

Armando Pereira recebe 20% dos lucros obtidos por Patrick Drahi

Na sua intervenção, Drahi frisou que Armando Pereira, o co-fundador da Altice que está no centro do escândalo, sendo acusado de 11 crimes, chegou a deter 1% do grupo, no seguimento de um “pequeno investimento”, mas já não é acionista desde 2005 e não tem qualquer papel na gestão da empresa. No entanto, o português tem direito a 20% dos direitos económicos do próprio Patrick Drahi, revelou este último. É a primeira vez que os contornos exatos da participação de Armando Pereira no grupo Altice são divulgados.

“Tal como muitos outros gestores do grupo, Armando Pereira fez um pequeno investimento na primeira aquisição da Altice, representando menos 1% do capital, e recebeu os direitos económicos destinados aos investidores em private equity da Altice. Com o passar do tempo, a forma destes direitos económicos evoluiu e desde 2005 que ele não tem uma única ação ou direito em qualquer entidade da Altice, mas mantém simplesmente um direito económico de cerca de 20% do meu próprio interesse económico pessoal”, revelou o fundador da Altice, recusando fazer comentários sobre o futuro desses direitos económicos que Armando Pereira tem.

“O futuro dessa participação é uma questão pessoal e não tem impacto na Altice. Tem impacto apenas em mim. Não quero falar disso agora. Mas se houver alguma irregularidade, os direitos económicos têm regras”, disse o fundador da Altice, dando assim a entender que os mesmos poderão cessar se ficar demonstrado que Armando Pereira cometeu ilegalidades.

Drahi esclareceu que a sua holding familiar controla 90% da sociedade que detém 100% do grupo Altice.