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Países ocidentais com fortes reservas face à coligação em Israel

A colocação de um extremista, racista e adepto da violência na direção do ministério que trata da segurança interna do país é considerado um desastre em potencial. A não ser que Netanyahu queira fazer com Itamar Ben-Gvir o mesmo que fez há uns anos com Ben Gantz.

Algumas das principais chancelarias do ocidente estão a tentar convencer o próximo primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, a não dar uma posição de destaque a Itamar Ben-Gvir, líder de uma das formações de extrema-direita profundamente racista que irá ter de participar na coligação, sob pena de o executivo não se tornar uma realidade.

Netanyahu correspondeu aos pedidos de contenção – que lhe chegaram de lugares tão inesperados como o Departamento de Estado norte-americano, liderado por Antony Blinken – afirmando que será ele a comandar o próximo executivo e os partidos extremistas serão por si monitorizados a todo o instante, para não haver excesso. “Israel não vai ser governado pelo Talmud”, disse. No momento seguinte, e sem que para já tenha sido desmentido, a comunicação social israelita dava conta de que Itamar Ben-Gvir será o próximo ministro do Interior – com o pelouro, entre outros, da segurança nacional. “É como colocar a raposa dentro do galinheiro’ disse um analista ao Jornal Económico.

Ainda apenas como ministro potencial, Ben-Gvir já começou a atuar: esta semana, pediu – ou mais propriamente exigiu – que a rede de notícias Al-Jazzera (criada no Qatar) fosse expulsa de Israel, depois de se saber que a administração daquela empresa vai apresentar um pedido formal ao Tribunal Penal Internacional (TPI) para investigar e processar os responsáveis pelo assassinato de Shireen Abu Akleh, jornalista da casa, pelas forças de segurança israelitas – em maio passado, após dedicar uma parte da vida a acompanhar os palestinianos.

Vários analistas ouvidos sobre a matéria afirmam que não há qualquer hipótese de, enquanto ministro da Administração Interna, Ben-Gvir deixar de promover a crispação entre as comunidades hebraica e palestiniana. O extremismo do futuro ministro chega ao ponto de ter sido uma das muito poucas vozes ativas contra os acordos de paz de Oslo, tendo por essa altura ameaçado de morte (segundo alguns) o próprio primeiro-ministro à época, Yitzhak Rabin, assassinado duas semanas depois.

Em dezembro de 2021, Ben-Gvir foi alvo de uma investigação do Ministério Público – assunto em que é imensamente versado, já tendo enfrentado mais de seis dezenas de acusações – depois ter sido divulgado um vídeo em que apontando uma arma a um segurança árabe. Aparentemente, o futuro ministro gosta de armas: a meio do mês passado, no bairro Sheikh Jarrah (em Jerusalém Oriental), Ben-Gvir participou em confrontos entre colonos judeus e os residentes palestinianos, empunhando uma arma e tentando convencer a polícia a alvejá-los.

Posições extremam-se
Internamente, as posições políticas estão a tender a extremar-se, dando um sério aviso de que o próximo executivo vai ter uma vida difícil. E os extremos são de tal ordem que os líderes centristas Yair Lapid (ainda primeiro-ministro) e o seu ministro da Defesa, Benjamin Gantz, têm surgido nas notícias dos jornais como se fizessem parte das mais aguerridas milícias da extrema-esquerda.

O país está dividido ao meio há muito tempo, mas cada uma das partes tentava encontrar pontos de contacto para os dois lados. Netanyahu, que agora vai testar uma coligação com os extremistas racistas hebreus, já tentou, no seu anterior governo, fazer o mesmo com os moderados do centro, desde logo com Gantz.
Alguns comentadores afirmam que Netanyahu fará a Ben-Gvir o mesmo que fez a Benjamin Gantz: coloca-o num lugar de destaque, mas não lhe dá qualquer autonomia, acabando a coligação por desfazer-se. Em perspectiva está, portanto, a forte possibilidade de, dentro de um ano, o país ser de novo chamado às urnas. Se isso acontecer, Netanyahu vai tentar fazer regressar à ordem do dia o debate sobre a alteração institucional do quadro das eleições. O assunto não é novo: o próximo primeiro-ministro quer que os israelitas sejam chamados a votar no nome do político que querem ver como líder do governo, em vez de votarem em partidos. Nesse ‘campeonato’, Netanyahu é imbatível: não há ninguém em nenhuma área política que, segundo as sondagens, sse aproxime sequer um pouco dos votos que conseguiria desta forma.

O presidente da República, Isaac Herzog, concedeu a Netanyahu um prazo até ao próximo dia 11 de dezembro para apresentar o elenco completo do novo governo. Mas o próximo primeiro-ministro já disse que precisa de mais duas semanas – deixando claro o quão difíceis estão a ser as negociações.

Estas estão envoltas em mistério e sabe-se muito pouco sobre quem vai ocupar o quê. Para além de Ben-Gvir, sabe-se (ou diz-se) que o partido Torah Unida, ultraortodoxo, deverá chefiar o Ministério da Construção e Habitação e a presidência do Comité de Finanças do Knesset (o parlamento),entre outros cargos.
Entretanto, o Likud, partido de Netanyahu anunciou que o bloco de partidos aliados – que ocupa 64 dos 120 lugares no Knesset – já reuniu as 61 assinaturas necessárias para forçar uma votação sobre a substituição do presidente do parlamento antes mesmo de o novo governo ser empossado. Segundo a imprensa israelita, a eleição de um novo presidente (do bloco liderado por Netanyahu), é um pré-requisito essencial para que a planeada coligação religiosa de extrema-direita tome posse e tenha vida facilitada desde a primeira hora: é que o presidente exerce um controlo considerável sobre a agenda legislativa do Knesset.

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