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Países Baixos: extrema-direita de Geert Wilders perde fôlego no final da campanha

O Partido Trabalhista tem vindo a recuperar terreno ao Partido pela Liberdade, o causador da crise política que redundou nas eleições antecipadas desta quarta-feira, mantendo o resultado final incerto. Seja como for, haverá uma coligação a caminho do poder.

Frans Timmermans, líder do Partido Trabalhista (PvdA) – que corre às eleições gerais desta quarta-feira em coligação com os Vedes do GroenLinks (GL) – tem vindo a diminuir a desvantagem que o separa do Partido pela Liberdade (PVV), do extremista Geert Wilders, e, segundo as sondagens e os analistas, tem ainda hipóteses de ser o partido mais votado. Mas a maioria dos estudos de opinião confere ainda a Winders a liderança das intenções de voto – com a mais alargada a afirmar que ganhará com 29%, menos quatro pontos percentuais que os trabalhistas/verdes.

No entanto, e como o mercado das sondagens tem crescido em dinamismo – e opacidade, convenha-se – uma sondagem da responsabilidade da Ipsos avança com um empate entre três forças políticas: os extremistas de direita, a coligação trabalhista/verde e ainda o D66 – que se descreve a si próprio como um partido político liberal-social e radical democrata e que é descrito pelos analistas como de centro-esquerda. Todos os três são ‘corridos’ a 23% de intenções de voto.

Para todos os efeitos, os analistas citados pela imprensa neerlandesa observam “um claro declínio do PVV, que está a ser descartado por muitos eleitores, enquanto o PvdA(GL permanece estável e o D66 está a crescer. O Apelo Democrata-Cristão (CDA) está também em declínio e o Partido Popular para a Liberdade e Democracia (VVD), liberal está a recuperar – estando assim na ‘lista de espera’ para eventuais coligações.

Na sondagem da Político – que é uma espécie de mediana de várias sondagens – o PVV suge conseguindo entre 23 e 29 lugares no parlamento e PvdA/GL 24. Na prática, os neerlandeses arriscam voltar a passar pelo ‘calvário’ que já conhecem: a extrema-direita ganha sem maioria, os partidos de direita fazem-se de desentendidos aos apelos para uma coligação – até que surge a solução salomónica: o PVV entra num governo de coligação, mas Wilders é ‘defenestrado’ para fora do executivo. Por uma razão qualquer, essa solução chegou a ser seguida, até que os extremistas entenderam que podiam aspirar ao poder sem terem de se haver com os aborrecimentos de uma coligação. Daí a terem criado uma crise política que derrubou o governo foi um pequeno passo, que Winders não teve pelo em dar – ou em mandar dar, dado que o próprio parece que não tinha nada a ver com o executivo.

Em inícios de junho, Geert Wilders decidiu que o seu partido deixaria a coligação, alegadamente porque o executivo não estaria a cumprir aquilo que tinha sido acordado em termos de política de imigração. “Comprometi-me pela política de asilo mais rigorosa, não pela queda da Holanda. É aqui que termina a nossa responsabilidade", disse, citado pela comunicação social, o líder do PVV. A explicação não-oficial era que Winders se teria convencido que, num quadro de eleições antecipadas, o seu partido poderá finalmente ganhar com a dimensão necessária e suficiente para não ter de recorrer a uma coligação com partidos da direita tradicional. O primeiro-ministro, Dick Schoof, ficou com um problema entre mãos, e como era de esperar, convocou eleições antecipadas.

Uma das hipóteses que se abre se se verificar a ‘tripartidarização’ do parlamento é a possibilidade de as forças de centro-esquerda em conjunto, PvdA/GL e D66, que são os maiores rivais um do outro, conseguirem lugares suficientes para formarem uma coligação com maioria absoluta na Câmara Baixa (de 150 lugares, havendo ainda a Câmara Alta, de 75 lugares, eleitos pelos parlamentos provinciais).

De acordo com os analistas, o foco principal de Timmermans é ‘drenar’ outros partidos de esquerda, como o Partido Animal, o Partido Socialista (SP) e o Volt, para o interior de uma grande coligação que possa deixar de lado a direita e a extrema-direita parlamentares. A própria CDA, segundo alguns jornais, pode estar a tentar ficar (desta vez) do lado certo da barricada, estando em conversas não totalmente claras com os trabalhistas.

As mesmas fontes acreditam que, desta vez, as hipóteses de Geert Wilders retomar o controlo do governo do país são pequenas: é que o VVD de Dilan Yesilgoz (que já foi de Mark Rutte, entretanto empossado porta-voz de Donald Trump à frente da NATO – ou, dito de outra forma, secretário-geral da aliança atlântica) assegura que não volta a cair no erro de fazer uma coligação com o extremista. Talvez seja por isso que o partido está a recuperar fôlego e já se encontra, segundo o Politico, muito perto do D66 (18% para ambos). Dilan Yesilgoz já disse que está a testar a possibilidade de se coligar com o CDA e o D66 para cooperação futura.

Vale a pena recordar que, depois das eleições de 2023, os neerlandeses precisaram de ‘apenas’ seis meses para conseguirem formar governo. Geert Wilders e três outros partidos de direita chegaram a acordo sobre a nova coligação - VVD, os centristas do Novo Contrato Social (NCS)  de Pieter Omtzigt e ainda os populistas do Movimento Agricultor-Cidadão (BBB) tomaram parte na aventura.