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Órgão supervisor de risco do G20 e FMI divergem na análise da economia

O presidente do Conselho de Estabilidade Financeira disse aos membros do G20 que os riscos nos mercados são elevados e podem levar a um ajustamento desordenado. Mas o FMI tem uma visão bem menos catastrófica e nem a França lhe merece cuidado especial.

O recente aumento nos preços globais das ações e de outros ativos deixou os mercados suscetíveis a quedas abruptas devido à incerteza económica e geopolítica atual, afirmou o órgão de supervisão de risco do G20, o Conselho de Estabilidade Financeira (FSB). Andrew Bailey, presidente daquele organismo, disse, em carta enviada aos Estados-membros do G20, que os riscos elevados detetados devem implicar o reforço da cooperação multilateral – não apenas para evitar crises, mas também para apoiar o crescimento económico sustentável. Embora a maioria dos países tenha visto uma recuperação nos mercados financeiros nos últimos meses, “as avaliações podem estar em desacordo com as perspetivas económicas e geopolíticas incertas”, deixando os mercados suscetíveis a um ajuste desordenado.

Aparentemente, este dado não preocupa o Fundo Monetário Internacional (FMI), que, já depois de esta carta ter sido conhecida, lançou um relatório em que melhora a perspetiva de crescimento mundial para 3,2% este ano (mais 0,2 pontos percentuais que em julho) e manteve a do próximo ano em 3,1%. Para a Zona Euro, o FMI prevê um crescimento de 1,2% este ano (mais 0,2 pp que anteriormente) e 1,1% em 2026 (menos 0,1 pp). A instituição nem sequer está preocupada com o aumento das taxas de juro das dívidas soberanas ou dos spreads – um dado que os analistas tendem a considerar como essencial nas avaliações. E nem mesmo o caso específico da dívida francesa – que não dá mostras de abrandamento em relação ao PIB – merece uma nota de alerta.

Apesar de uma relação dívida pública/PIB próxima dos 115% e um défice público que ainda ultrapassa os 5% - muito acima do ‘tampão’ dos 3% proposto pela Comissão Europeia), a situação financeira francesa e a dificuldade do governo em aprovar um orçamento pelo segundo ano consecutivo não pesam sobre o sistema financeiro europeu, disse esta terça-feira Tobias Adrian, chefe do departamento de Mercados Financeiros do FMI, durante a apresentação do relatório sobre estabilidade financeira global. "A situação atual é muito diferente daquela observada em 2014", durante a crise da dívida europeia, que afetou particularmente a Grécia, mas também outros países do sul do continente, em particular Itália e Portugal”, explicou Adrian. "Estamos a observar um aumento no spread [a diferença nas taxas dos títulos franceses de dez anos em comparação com os da Alemanha, considerados o valor de referência dentro da União Europeia] até certo ponto, mas isso permanece bastante contido", acrescentou. Essa diferença já atingiu os 0,89 pp no início de outubro (entretanto já desceu) para os títulos a dez anos. "Há uma revalorização até certo ponto, devido às incertezas políticas, mas, ao mesmo tempo, há um impacto limitado no preço dos títulos franceses", disse o analista. Além disso, os riscos de contaminação para a Zona Euro são limitados, garantiu: "Não estamos a ver nada parecido em outros países europeus".

Mas, para Andrew Bailey, o aumento contínuo dos níveis de dívida resulta exatamente no aumento das vulnerabilidades do sistema financeiro. “A necessidade de padrões e cooperação globais, portanto, continua bastante clara”, diz a carta.Em resposta aos riscos elevados, o FSB, que agrupa bancos centrais e reguladores financeiros do G20, “mudará” o seu foco, disse: o Conselho passará do desenvolvimento de políticas para a monitorização e a facilitação da implementação das reformas financeiras globais acordadas, que ainda não foram totalmente alcançadas.

As declarações de Bailey surgiram em vários órgãos de comunicação social associadas à palavra ‘colapso’, que não consta da carta enviada aos membros do grupo. “Os riscos e a incerteza continuam elevados, impulsionados por tensões geopolíticas persistentes e pela fragmentação nos mercados comerciais e financeiros”, refere a missiva, que fala da possibilidade de “um ajustamento desordenado. Os níveis de dívida soberana continuaram a aumentar e prevê-se que aumentem ainda mais. As vulnerabilidades no sistema financeiro mantêm-se elevadas”.

É nesse quadro que o Conselho adianta que “a necessidade de normas e cooperação globais permanece, portanto, bastante clara. Não apenas para prevenir crises, mas porque, em última análise, um sistema resiliente permite a alocação eficiente de capital, permitindo que o G20 e as suas economias dos Estados-membros se concentrem em apoiar o crescimento sustentado”. Lembrando que “o FSB foi criado para atuar como um órgão de coordenação global para desenvolver políticas que aumentem a estabilidade e a resiliência do sistema financeiro global”, o autor da carta recorda também que “uma parte essencial do seu mandato é promover a implementação atempada e consistente destas políticas”. Se isso não for feito, “minamos a resiliência do sistema financeiro, deixando-o vulnerável a choques futuros. Com isto em mente, o FSB aumentará a sua vigilância das vulnerabilidades do sistema financeiro, ao mesmo tempo que mudará o seu foco do desenvolvimento de políticas para a monitorização e facilitação da implementação das reformas acordadas”.