Se receber uma chamada da Clara, da CUF, atenda sem qualquer receio. A Clara é a assistente virtual da CUF que permite o acompanhamento clínico com apoio da Inteligência Artificial, através da realização de follow-ups clínicos automatizados, e que é a face mais visível da aposta tecnológica da rede hospitalar. Investimento em inovação e tecnologia na CUF é de "largos milhões de euros", como destacam os responsáveis, e a resposta chega via telefone, através desta assistente virtual.
"Esta tecnologia permite que os nossos profissionais acompanhem a sua recuperação, identifiquem precocemente sinais de alerta e garantam um contacto contínuo com a sua equipa de saúde", pode ler-se no site da CUF a propósito desta assistente virtual.
Catarina Mendanha, innovation manager na CUF, esteve na última edição do Innov.Club (que decorreu na CUF Tejo, o mais inovador e diferenciado da rede CUF, de acordo com os responsáveis), um clube exclusivo promovido pela Vieira de Almeida e Beta-i que visa promover a inovação e a partilha de conhecimento entre as organizações em Portugal, com a apresentação do case study em que a Clara foi a protagonista e que mostrou como a tecnologia pode potenciar a humanização nos cuidados de saúde.
A responsável pela inovação na rede CUF, confessa ao JE que "gerir a mudança é sempre um desafio porque estamos sempre a falar de pessoas, mesmo quando estamos a falar de tecnologia e da introdução destas ferramentas digitais".
"O que tentamos fazer é perceber desde logo qual é o universo de pessoas que vão estar envolvidas no projeto e para nós é muito claro que todos têm que ter um benefício. Aí já temos metade do ganho e da atração das equipas. Este é um setor em que as equipas estão habituadas a fazer parte do processo de tomada de decisão. Testamos com os médicos para ter provas da eficácia na nossa casa e com o aval deles, damos os próximos passos e expandimos a tecnologia. É importante perceber a maturidade da tecnologia e a aceitação das pessoas através das provas que apresentamos", explica ao JE, realçando que "o cliente sente-se à vontade a falar com a Clara porque se sente acompanhado".
Afinal, o que faz a Clara?
Marta Martins, Board Member Cluster New Care and Solutions da CUF, detalha ao JE o propósito do projeto: "A Clara é um projeto de Inteligência Artificial que permite passar tarefas mais simples para uma assistente virtual. Este programa liga aos clientes que foram operados, faz um conjunto de perguntas para avaliar se está tudo bem e, caso não esteja, o sistema lança um alerta que faz com que um enfermeiro possa entrar neste processo".
Desta forma, destaca Marta Martins, a CUF "está a transferir para a assistente virtual uma tarefa que era toda feita por uma enfermeira e isso faz com que possamos garantir que temos todos os enfermeiros canalizados para tarefas de maior valor acrescentado. Por outro lado, temos tecnologia a auxiliar nos exames médicos, como é o caso da mamografia, e a conseguir identificar anomalias em processos muito complexos. Assim, a tecnologia serve para automatizar algo que é simples e rotineiro de forma automática mas também a auxiliar aquilo que é mais complexo".
Escassez de recursos humanos? Tecnologia é a resposta
Marta Martins destacou ao JE que a inovação é um valores que norteia os princípios desta rede hospitalar privada sendo que a Clara nasce também de um constrangimento que não é só português: "Cada vez mais há uma escassez de recursos humanos, existe essa falta de profissionais. Não é um problema só português mas é uma realidade europeia e mundial que se vai agudizar: temos um envelhecimento da população, mais população a precisar de cuidados de saúde e a nossa força de trabalho especializada não está a crescer", explicou.
Assim, destacou esta responsável, "há uma necessidade de amplificar o nosso trabalho através da tecnologia. As novas tecnologias assustam as equipas mas também os nossos clientes. É preciso confiar e garantir que é seguro. Temos a tecnologia, temos o enquadramento legal para a aplicar e depois temos a gestão da mudança para fazer, que é algo muito desafiante", sublinha.
Marta Martins explica como tem sido o desenrolar deste processo: "A nossa equipa de inovação faz a identificação das necessidades e enquadra as nossas equipas nessas mudanças. É todo um trabalho de reestruturação, humanização e empatia".
Esta responsável realça que "há cada vez mais confiança face às novas tecnologias e àquilo que nos podem trazer, sempre com a máxima transparência e com uma análise de custo benefício porque estamos sempre a falar de investimento. Precisamos garantir que estes investimentos têm sempre valor acrescentado. São largos milhões de euros de investimento, não só em Inteligência Artificial mas noutras valências".
Tecnologia: estes são apenas os primeiros passos
Apesar dos avanços tecnológicos que já permitem que os pacientes falem com uma assistente virtual como se estivessem a falar com um enfermeiro, podemos estar a assistir apenas aos primeiros passos de uma relação que deverá aprofundar-se nos próximos anos.
Catarina Mendanha considera que, no apoio aos diagnósticos, "vamos ter cada vez mais soluções a dar apoio aos nossos médicos, na mitigação do erro, a detalhar o diagnóstico". E dá um exemplo: "O olho humano vê dezenas de níveis de cinzento enquanto a tecnologia detecta milhares e se pensarmos que há sombras que são imperceptíveis ao olho humano, há aqui um tremendo potencial e um crescendo de soluções", considera. Marta Martins dá outro exemplo: "A estratificação do risco, ao nível do cancro da mama por exemplo, também será cada vez mais personalizada e é esse é um salto tremendo na eficiência da alocação de recursos".